São Lourenço e Varginha se destacam dentre as melhores cidades para envelhecer no Sul de Minas Gerais

Luísa Pimenta Terra¹
Larissa Gonçalves Souza²
Reinaldo Marques³

Os dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram para um intenso processo de envelhecimento da população brasileira nos últimos anos. Entre 2010 e 2022, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais de idade cresceu 56,0% no país, passando de 10,8% para 15,6% (IBGE, 2023). De forma similar, a mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais tem se tornado mais envelhecida a cada ano, o que gera necessidades de políticas e cuidados voltados à população idosa. Os municípios devem se preparar para atender demandas relacionadas à acessibilidade, segurança, lazer, acesso aos serviços de saúde, espaços para atividades físicas e cuidados de longa duração para população idosa. As cidades precisam ser pensadas e, se necessário, redesenhadas no âmbito de infraestrutura e oferta de serviços, a fim de oferecer condições para que os idosos vivam mais e melhor.

Dessa forma, no contexto do rápido envelhecimento da população, as perguntas que surgem são: qual a melhor cidade para se envelhecer no Brasil? O quão preparados estão os municípios brasileiros para o envelhecimento populacional? Para responder esses questionamentos, o Instituto de Longevidade construiu o Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL) edição 2023, possibilitando conhecer as melhores cidades para se envelhecer no país, com base em 23 indicadores relacionados a aspectos econômicos, socioambientais e de saúde, apresentados no Quadro 1. No estudo, os resultados do índice foram apresentados em formato de ranking da posição dos municípios divididos em três categorias: cidades grandes (100.000 ou mais habitantes); médias (34.850 a 99.999 habitantes); e pequenas (menos do que 34.850 habitantes).

Dentre os 326 municípios classificados no grupo de cidades grandes, as cidades de Varginha (37o), Pouso Alegre (39o), Poços de Caldas (56o) e Passos (128o) ocuparam posições importantes no ranking das melhores cidades para aqueles que buscam viver mais e melhor no Brasil. De acordo com os resultados do Censo Demográfico 2022, dentre esses quatro municípios, Poços de Caldas apresenta a maior proporção de idosos com mais de 60 anos (19,8%), seguido por Passos (18,3%), Varginha (17,1%) e Pouso Alegre (16,2%), enquanto o maior crescimento da população idosa nos últimos doze anos (entre 2010 e 2022) foi observado em Varginha (60,5%) (IBGE, 2023).

No grupo de cidades médias, composto por 674 municípios, São Lourenço se destacou na primeira posição, como o melhor município do Brasil para se envelhecer. Segundo o relatório do Instituto de Longevidade, esse resultado pode ser explicado, principalmente, pelo número de estabelecimentos e profissionais de saúde com nível superior, proporção de idosos no município, número de matrículas no ensino superior de pessoas com mais de 60 anos e o baixo número de óbitos por causas não naturais, como acidentes e violência. Dentre os municípios do Sul de Minas Gerais, São Lourenço foi seguido por Guaxupé (41o), Itajubá (61o), Extrema (71o), São Sebastião do Paraíso (73o) e Alfenas (87o), no ranking Brasil. Dentre esses municípios, São Lourenço se destaca ainda com a maior proporção de idosos em 2022 (21,4%), após um crescimento de 45,2%, em relação ao ano de 2010. A cidade é seguida por Guaxupé (20,0%), Itajubá (18,9%), São Sebastião do Paraíso (18,8%), Alfenas (18,4%) e Extrema (13,0%).

Tabela 1: Municípios do Sul de Minas Gerais, população e posição no ranking Brasil do IDL  2023

Fonte: Instituto de Longevidade (2023)

O IDL pode ser um indicador importante para nortear os gestores em relação às diversas dimensões associadas ao envelhecimento populacional digno e com boas condições de vida nos municípios. Ora, sabemos que o quesito viver bem em uma cidade, seja idoso ou não, possui uma série de desafios e entendimentos que as lideranças municipais devem abraçar. Por exemplo, questões estruturais como planejamento urbano e segurança ainda precisam ser amplamente trabalhadas para que mais municípios possam de fato oferecer uma qualidade de vida melhor para seus cidadãos. Além disso, os municípios brasileiros seguem com um desafio adicional que passa pelo financiamento atuarialmente equilibrado da saúde e previdência em nível local. Dessa forma, o Brasil deve se preparar para lidar com os desafios do envelhecimento populacional nos próximos anos, permitindo que os idosos vivam sua aposentadoria em cidades estruturadas e com boa qualidade de vida. Nesse sentido, os gestores públicos devem atuar de forma a garantir bons indicadores em diversas áreas, tais como saúde, economia e socioambiental, para que o município possa oferecer condições de vida adequadas para a população viver mais e melhor.

Apesar da grande importância do IDL no planejamento estratégico dos municípios, há que se considerar algumas limitações. No documento disponibilizado pelo Instituto de Longevidade, há a informação de que a inserção de dados inexistentes é feita com valores arbitrários, baseados na intuição da equipe. Outro ponto que limita, de certa forma, a análise é a defasagem dos dados da Taxa de Desemprego por Município (Censo de 2010), do Índice de Gini (Datasus de 2010) e da Expectativa de Vida ao Nascer (PNUD de 2013). Ainda com intuito de entender melhor o alcance deste indicador, é importante se avaliar, em um próximo estudo, a escolha das variáveis que compõem o índice. Essa análise é importante para validação dos resultados, principalmente, dos municípios pequenos que não foram apresentados neste texto, devido à sensibilidade dos resultados. Além disso, a análise dos resultados da posição de todos os municípios do estado de Minas Gerais no ranking Brasil pode trazer mais insumos para a discussão e dados para embasar projetos e ações no sentido de políticas públicas.

Quadro 1 – Indicadores utilizados na construção do Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL)

Fonte: Instituto de Longevidade (2023)

Referências Bibliográficas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico Brasileiro 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2023.

Instituto de Longevidade. Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade, 2023.



Luísa Pimenta Terra
 é docente do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UNIFAL-MG Varginha. Graduada em Ciências Atuariais pela UFMG, possui mestrado também pela UFMG e doutorado em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG. Atualmente é professora e pesquisadora na área de saúde suplementar, solvência e gestão de riscos de desastres naturais. Tem experiência nas áreas de Inovação e Gestão de Riscos de Processos e atua principalmente nos seguintes temas: projeção populacional, gestão de riscos em saúde, nupcialidade e família, envelhecimento e saúde.



Larissa Gonçalves Souza
 é docente do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UNIFAL-MG Varginha. Graduada em Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia e Ciências Atuariais pela UNIFAL-MG, possui mestrado em Estatística Aplicada e Biometria também pela UNIFAL-MG e doutorado em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG. Atualmente é professora e pesquisadora na área de mortalidade.



Reinaldo Marques
é docente do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UNIFAL-MG Varginha. Graduado em Ciências Atuariais pela UFMG, possui mestrado em Atuária pela PUC-RJ e doutorado em Atuária e Estatísticapelo Departamento de Atuária e Estatística da Universitetet i Oslo, Noruega e Research Fellow no Statistics for Innovation Center. Tem experiência em análise de dados com ênfase em Atuária, atuando principalmente nos seguintes temas: métodos quantitativos na análise de risco financeiro e atuarial, teoria e modelagem atuarial, resseguros, análise de Solvência Atuarial e Requerimento de Capital, métodos computacionais em atuária e inovação em seguros, previdência e saúde suplementar. Atualmente, é coordenador do curso de graduação em Ciências Atuariais da Universidade e diretor do Laboratório de Risco Atuarial e Inovação (LAR).

 

(As opiniões expressas nos artigos publicados no Jornal UNIFAL-MG são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do Jornal UNIFAL-MG e nem posições institucionais da Universidade Federal de Alfenas).