Conto: “O grosso calibre dos pernilongos de hoje em dia” – Eloésio Paulo

Com o aumento das temperaturas, é bem comum os brasileiros se veem às voltas com um conhecido mosquito de hábito doméstico que causa coceira e um incômodo zumbido, principalmente à noite: o pernilongo. É sobre esse personagem que o professor Eloésio Paulo, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG, trata de forma leve e divertida no conto “O grosso calibre dos pernilongos de hoje em dia”.

Prof. Eloésio Paulo revela pouca intimidade com a prosa, mesmo assim está pensando em publicar um livro de contos, para o qual já tem mais de 10 prontos. O que o motiva é uma disciplina oferecida no Ensino Remoto Emergencial (ERE) chamada “Leitura Crítica e Escrita de Contos”. (Foto: Arquivo Pessoal/Eloésio Paulo)

O narrador-personagem apresenta elementos de sonhos que o transportam para a infância com seu pai, quando os dois se uniam numa discussão sobre as formas de exterminar o tão irritante mosquito. Em meio aos diferentes métodos adotados por cada um, o narrador conta como chegou a observar um “sobrevivente” de características surpreendentes. “Fiquei espantado com seu tamanho, que era o dobro do daqueles que havia acabado de matar. Tinha uma tromba assustadora, perfeitamente visível a olho nu, e me convenci de que os bichos estavam começando a crescer”, descreve no conto, despertando sorrisos no leitor.

A narrativa envolvente desse conto do autor pode ser conferida no Suplemento Literário de Minas Gerais, um dos mais respeitados periódicos do gênero no Brasil, integrado à Superintendência de Bibliotecas Públicas e Suplemento Literário, com periodicidade bimestral.

“O Suplemento Literário tem uma importância muito grande na divulgação da minha obra”, afirma Prof. Eloésio. “Foi em 1989 que o Suplemento, na época ainda fazendo parte do Diário Oficial do Estado, publicou meu primeiro texto crítico de alguma ambição, um ensaio sobre o até hoje desconhecido, infelizmente, escritor paulista Uilcon Pereira. Em seguida, creio que em 1990, saiu lá um ensaio meu sobre o poeta Paulo Leminski. De lá para cá, em várias épocas contribuí com poemas, ensaios e, mais recentemente, contos”, acrescenta.

Conforme o autor, o conto publicado é o terceiro de sua autoria que sai no Suplemento, para o qual já escreveu outros gêneros narrativos, totalizando 13 colaborações para o periódico. “Escrevi a primeira versão em 1992, quando morava em Pouso Alegre, e ele ficou todo esse tempo na gaveta, assim como a maioria da prosa de ficção que tenho produzido”, explica, informando que acha muito mais difícil a prosa do que a poesia, o que o faz colecionar muitos esboços  de contos até que consiga concluir as ideias. “Minha tendência é à síntese, e a prosa em geral é analítica”, comenta.

Apesar de revelar a pouca intimidade que mantém com a prosa, Prof. Eloésio diz estar pensando em publicar um livro de contos, para o qual já tem mais de 10 prontos. O que o motiva é uma disciplina oferecida no Ensino Remoto Emergencial (ERE) chamada “Leitura Crítica e Escrita de Contos”, proposta em razão de observar que muitos estudantes gostam de escrever, mas não têm técnica.

Ao falar sobre a experiência da disciplina, Prof. Eloésio compartilha: “Está sendo muito produtivo porque, ao mesmo tempo que discuto com as turmas alguns dos contos mais brilhantes que já foram escritos, preparo um ensaio a respeito da técnica do conto. A meu ver, existe pouca coisa relevante no Brasil quando se trata de introdução ao conto. Essa disciplina também me anima a escrever alguns contos que há tempos tenho na cabeça ou no rascunho.”

São cerca de 60 contos trabalhados com os discentes. As referências utilizadas pelo professor se iniciam no antigo Egito, passando por Boccacio e Chaucer, no final da Idade Média, abrangendo Edgar Allan Poe e, também, Machado de Assis e Tchekov, considerados por Eloésio os dois maiores do século XIX. “Aí pegamos Katherine Mansfield, Joyce, Hemingway, Kafka, alguns modernos brasileiros, incluindo ‘Duelo’, de Guimarães Rosa, que para mim é o melhor conto que existe, e escritores mais próximos do que se poderia chamar ‘pós-modernismo’, como J.D. Salinger e nosso Sérgio Sant’Anna”, conta.

A edição digital do Suplemento Literário nº 1.386 pode ser encontrada no site da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, neste link.

Caso queira fazer o download direto, acesse aqui. O conto foi publicado às páginas 12 e 13.