No mês da mulher, UNIFAL-MG lança ferramenta para sistematizar dados de violência de gênero na Instituição; ação faz parte do Núcleo de Atenção à Mulher e ajudará a elaborar políticas de enfrentamento e proteção

Em comemoração ao mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, o Núcleo de Atenção à Mulher (NAM) da UNIFAL-MG lança a ferramenta “Formulário de Acolhimento”, que tem objetivo de acolher os depoimentos de violência na Universidade e estabelecer políticas de enfrentamento. O formulário, disponível neste endereço, integra a programação do evento “Semana das Mulheres: diversidades, lutas e resistências”, que acontece entre 15 e 19/03, virtualmente, pelo canal da UNIFAL-MG no YouTube.

O Núcleo de Atenção à Mulher faz parte do Departamento de Direitos Humanos e Inclusão (DDHI) da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace). Criado em 2019, o Núcleo tem a finalidade de planejar, executar, monitorar e disseminar na Universidade o conjunto de políticas, ações e serviços de enfrentamento, combate e erradicação da cultura de violência de gênero, materializada sob a forma de agressão física e psicológica, estupros, assédio sexual, assédio moral, misoginia, sexismo, desrespeito e desqualificação intelectual.

“O NAM foi criado pela Portaria  nº 1894 de 22 de agosto de 2019, a partir da percepção de um conjunto de relatos que nos chegavam de forma institucional, mas muitas vezes, de maneira pessoal e reservada, por parte de alunas e mesmo de professoras sobre situações de assédio e violências diversas, no âmbito da Universidade e fora dela”, explica a professora Marta Gouveia de Oliveira Rovai, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), presidente do Núcleo de Atenção à Mulher.

Servidoras, entre professoras e técnicas, de diferentes áreas dos campi de Alfenas, Poços de Caldas e Varginha integram o grupo que se dedica a analisar as demandas relacionadas à violência contra a mulher da Universidade. “A ideia de criação do NAM é nos posicionarmos como Instituição, de modo mais incisivo, no combate a toda discriminação e violência contra as mulheres, acolhendo suas vivências com ações que possam trazer a equidade de gênero e a responsabilização dos diferentes agressores”, afirma a presidente do Núcleo.

Atuando também na luta contra a discriminação de mulheres em espaços e cursos, e contra o acesso desigual a recursos de pesquisa e bolsas de estudos, o NAM promove encontros periódicos e eventos voltados para estudantes e servidores, como o “21 dias de ativismo de combate à violência contra a mulher”, que contou com a participação de representantes de diferentes órgãos de Alfenas.

Para a assistente social Anayara Raíssa Pereira de Souza, também pró-reitora adjunta de Assuntos Comunitários e Estudantis, a criação do NAM foi um grande avanço para a UNIFAL-MG. “A princípio foi difícil identificar os atores porque não era um debate que era feito na nossa Instituição. Foi característica do momento político que vivemos e também característica da nossa gestão atual de se implicar com essa questão da desigualdade de gênero, reconhecer que existe, seja no acesso à Universidade, nos aspectos da permanência e também na ascensão à carreira das servidoras”, explica.

Conforme a assistente social, o formulário lançado é apenas uma das ações promovidas pelo Núcleo de Atenção à Mulher, uma vez que o grupo reconhece formas de desigualdade no cotidiano e procura debater possíveis ações de enfrentamento. Uma outra frente de trabalho do NAM, por exemplo, é a elaboração de estudos para entender quais são as desigualdades de permanência. “Temos dados que indicam que as mulheres, embora tenham um rendimento melhor, em função da maternidade demoram mais para se formar ou se desligam mais pela motivação da maternidade. O NAM se dedica a reconhecer esse itinerário das mulheres na Instituição”, reforça.

As servidoras que compõem o NAM mantêm comunicação por meio de um grupo de WhatsAp para as questões mais urgentes. A elaboração de uma cartilha para mulheres também faz parte dos trabalhos da equipe, que é responsável pelo encaminhamento das denúncias de violência por parte das alunas. “O Núcleo também trabalha na reflexão sobre mudanças no Regimento da UNIFAL-MG que incluam os crimes de assédio na Universidade e em eventos como o que acontece esta semana, promovendo rodas de conversa com homens e mulheres sobre questões diversas relacionadas às mulheres”, conta Profa. Marta.

Na visão da professora Lívia Nascimento Monteiro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras, que também participa do Núcleo de Atenção à Mulher, atuar junto ao grupo é uma oportunidade de romper estereótipos. “Enquanto integrante do NAM, vejo o Núcleo como um espaço para compartilhar projetos, iniciativas e ações coletivas para a promoção de uma Universidade mais justa e igualitária para todos, especialmente para nós, mulheres, que vivemos numa sociedade marcada pelas violências e pelas desigualdades de gênero. Participar do NAM é buscar mudar estruturas que insistem em demarcar os nossos lugares e romper com tantos estereótipos que nos são dados”, afirma.

 

 

  Formulário de Acolhimento

As informações coletadas pelo Formulário de Acolhimento ajudarão a pensar em estratégias de enfrentamento aos casos de violência contra a mulher no espaço da Universidade. A proposta é que a partir dos registros feitos pelas mulheres vítimas de violência diretamente pela ferramenta, a equipe terá condições de sistematizar os dados da realidade da UNIFAL-MG e propor um fluxo para as medidas protetivas.

“O formulário tem o intuito de formalizar e sistematizar até para conhecermos a realidade na qual estamos trabalhando e pensar em uma política institucional mais direcionada com mais fundamentos”, argumenta Anayara.

A assistente social integra a Rede de Proteção Intersetorial à Mulher e Gêneros de Poços de Caldas, representando a UNIFAL-MG, onde atua há cinco anos junto a colegas de outros órgãos no acolhimento e fortalecimento das mulheres, na busca por auxiliar as vítimas de violência, orientar e encaminhar às instâncias especializadas para formalização e aplicação de medidas de proteção. Segundo Anayara, o contato e atuação na Rede tem ajudado a subsidiar a política de Poços. Assista ao vídeo para conhecer melhor as ações da Rede.

Assim como Anayara, também a professora Fernanda Onuma, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), do campus Varginha, representa a UNIFAL-MG na Rede de Proteção de Varginha, ajudando nas demandas do município.

A experiência das servidoras em atuação nas Redes de Poços de Caldas e Varginha contribuirá para estabelecer protocolos de atendimento à mulher vítima de violência também em Alfenas.

“A nossa ideia é receber as informações pelo formulário, entrar em contato com a estudante ou servidora para fazer o acolhimento e agendar apoio psicológico da Instituição, e em paralelo, encaminhar para a rede de serviços, para formalizar boletim de ocorrência, receber atendimento no CREAS e seguir o fluxo com articulação dos órgãos especializados”, detalha Anayara.

Na UNIFAL-MG, as mulheres têm sido acolhidas também pelo Departamento de Apoio e Acompanhamento (DAP) da Prace, que oferece os serviços de Psicologia e Serviço Social.

O formulário pode ser acessado nesta página.

Roda de Conversa “Mulheres e Interseccionalidades” e lançamento do livro “Escutas sensíveis, vozes potentes”

Com o objetivo de acolher, partilhar e debater questões ligadas ao tema, o Núcleo de Atenção à Mulher realiza esta semana, virtualmente, a Roda de Conversa “Mulheres e Interseccionalidades”.

De acordo com a professora Marta, o evento abordará temas importantes para a comunidade acadêmica da UNIFAL-MG e sociedade em geral, visto que levará a refletir as relações desiguais de gênero sob diversas perspectivas, e como elas afetam a dignidade e os direitos das mulheres. “Foram convidadas estudiosas de outras instituições, com a finalidade de descentralizar o debate que costuma ocorrer apenas pelo Sudeste, e que tenham outras experiências. As temáticas escolhidas estão relacionadas ao feminicídio e transfeminicídios,” revela.

Nesta quarta, 17/03, haverá o lançamento do livro “Escutas sensíveis, vozes potentes”, organizado pela professora Marta, que realiza pesquisas relacionadas a gênero e sexualidade.

“Convidei colegas de diferentes universidades pelo Brasil – ao todo 38 pesquisadore/as – que  desenvolvem estudos de gênero. O livro reúne 22 relatos de mulheres em suas interseccionalidades de gênero, sexualidade, raça, religião, classe social, instrução, entre outras. Foi uma forma de publicizar suas histórias, a partir de narrativas em primeira pessoa, proporcionando escuta e visibilidade”, destaca, dizendo que o livro conta também com a participação da professora Lívia Monteiro, membro do NAM.

O livro se relaciona diretamente aos objetivos do Núcleo de Atenção à Mulher no combate a toda forma de discriminação e violência e na defesa da dignidade e dos direitos das mulheres.

Acesse a programação do evento