Entre as atividades que não pararam durante o isolamento provocado pela pandemia do novo coronavírus está a produção cultural. Músicos e escritores encontraram formas de manter viva a expressão artística para aliviar angústias e continuar provocando emoções e questionamentos. Este foi o caso de Eloésio Paulo, professor do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG, um escritor voraz, que em meio à pandemia, produziu o livro de poemas “O amor é um assunto imbecil & outros poemas taquigráficos”.
Lançada pela editora Dubolso, a coletânea reúne 74 poemas do autor, a maioria escrita durante o outono e o inverno de 2020, período em que o autor afirma ter sido uma “tentativa de reorganizar a vida em função da pandemia.”
Segundo Eloésio, a seleção dos poemas foi feita conforme a afinidade de temas, o que leva o leitor a reconhecer uma progressão dos assuntos na obra, iniciando-se no amor, passando para política e depois religião, sem deixar de fora episódios reais e imaginários da infância do autor e do próprio ofício da poesia. “Apesar da mudança constante, os poemas são unificados pelo tom irônico quase onipresente. A ironia é um grande antidepressivo para mim”, enfatiza.
O título “O amor é um assunto imbecil & outros poemas taquigráficos”, de acordo com Eloésio, reflete a organização que tem buscado fazer em suas escritas.
“Usei esse título porque tenho pensado em reorganizar minha obra em função de alguns, digamos, cortes transversais. Um deles seria o dos poemas que falam de amor, e aproveitei para fincar minha bandeira no título. Ele surgiu de uma fala minha sobre o livro ‘A arte de amar’, do poeta latino Ovídio, em uma mesa organizada por meu colega Wellington Lima. O subtítulo ‘poemas taquigráficos’ vai por conta de que todos os poemas foram escritos no bloco de notas do meu celular”, revela o escritor.
Um convite à parte para mergulhar nas páginas dos poemas do autor é a leitura da apresentação da obra, assinada pela mestra em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, Paloma da Silveira Leite. “Ao longo do texto, percebemos que se trata de um poeta que muito se dedicou a pena e o coração ao amor e, por isso, se permite dizer e contradizer-se sobre o assunto, por vieses entre o sarcasmo e o lirismo, usando sobretudo da graça – sendo a graça, aqui, tanto o gracejo e o gracioso quanto o dom sobrenatural”, descreve.
Ao comentar como se deu a aproximação com a mestra que o apresenta de forma tão literal no livro, Eloésio diz: “A Paloma cursou duas disciplinas minhas e descobrimos muitas afinidades entre nós. Na época do início da pandemia, começamos a caminhar juntos quase todo dia e, de repente, descobri que naquele momento ela era a pessoa mais informada a meu respeito e em condições teóricas de escrever um prefácio. Gostei muito do resultado, acho que ficou um retrato bem fiel do sujeito que existe por trás daqueles poemas.”
O autor revelou haver um poema nessa coletânea pela qual nutre especial carinho: “Bicho-de-pau-podre”. O motivo? Ele comenta: “Expressa meu sentimento a respeito de muitas pessoas que eu julgava conhecer e, desde certos episódios recentes de nossa história política, revelaram certos predicados que eu nunca havia imaginado nelas.”
Bicho-de-pau-podre
Você nem suspeitava
que eles estavam ali
e se refestelavam
com iguarias nojentas
mas eis que de súbito
o edifício fervilha
de pequenas criaturas
recheadas de podridão
O livro ainda está sem data para evento de lançamento, no entanto, quem tiver interesse em conhecer mais esta obra do autor pode entrar em contato pelo e-mail eduardofbreis@gmail.com para adquirir.