02 de Abril – Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo

Sílvia Ester Orrú 

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo foi criado em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para informar a população sobre as singularidades das pessoas com autismo e combater o preconceito e a discriminação em relação ao Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O TEA não define um ser humano. Autismo não é adjetivo, não é insensibilidade, não é uma lista de déficits. Autismo é uma condição que faz parte da subjetividade de muitas pessoas, independentemente do gênero, etnia, crença ou classe social e se manifesta de diferentes modos por todo o planeta. Nenhuma pessoa com autismo é igual a outra. Pessoas com autismo têm sentimentos, inteligências, capacidades, limitações e potencialidades diversas e distintas porque esses diferentes atributos são próprios da espécie humana.

É notório o avanço nas pesquisas acerca do TEA, inúmeros pesquisadores têm se dedicado ao entendimento sobre a origem desta condição que constitui pelo menos 1% da população planetária, cerca de 70 milhões de pessoas. Outros se dedicam ao desenvolvimento de fármacos e tratamentos terapêuticos para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Muitos são os cursos ofertados para a disseminação do conhecimento sobre os critérios diagnósticos para o TEA, bem como para o aprendizado de métodos para o ensino escolar. Ainda há os que estão envolvidos em movimentos sociais de luta por políticas públicas para a inclusão e garantia de direitos.

Apesar da Constituição Federal de 1988 e de todo acervo nacional e internacional de leis e políticas pró-inclusão, foi a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394 de 1996 que crianças e adolescentes com autismo tiveram maiores oportunidades de acesso à educação e, também, direito de permanecerem ocupando seus espaços como estudantes durante toda a educação básica e romperem fronteiras rumo à educação superior. A cada ano ouvimos novos relatos de jovens com autismo ingressando na universidade e isso é uma grande conquista!

Entretanto, há muitas outras crianças, adolescentes, jovens e adultos com autismo que sequer têm a oportunidade de frequentar um parque próximo a sua casa. O TEA nível 3 compromete gravemente o desenvolvimento e é uma dura realidade na vida de muitas pessoas. Investimento em pesquisas para tratamentos medicamentosos modernos, bem como no Sistema Único de Saúde (SUS) para que essas pessoas alcancem o direito à vida digna a partir de profissionais da saúde com formação de excelência para seu atendimento, é medida crucial a ser encarada pelas esferas políticas e de governança do país. Inclusive, entendendo que o diagnóstico do autismo é flutuante, não é estático e fixo, o acesso a um tratamento adequado às suas especificidades pode possibilitar uma melhora no desenvolvimento desta pessoa, de modo a oportunizar sua inclusão, reduzindo a solidão familiar da nefasta segregação social. É preciso oferecer tratamento de ponta às pessoas com autismo, quando necessário, para que tenham qualidade de vida na saúde mental que lhes possibilite outras vivências para além dos muros excludentes.

O desafio das sociedades complexas é encontrar formas de conviver e viver as diferenças humanas. Somos todos diferentes e é isso que nos torna singulares. Não precisamos esperar o autismo bater à porta de nossas famílias para desenvolvermos empatia e responsabilidade social. Erradicarmos os processos hostis de exclusão deve ser nosso propósito de vida e podemos fazer isso nos espaços, nas ocupações e nos papéis sociais que experienciamos em nosso cotidiano. Perguntar-se a si mesmo: “- o que eu posso fazer para reduzir os mecanismos de exclusão e aumentar as possibilidades de inclusão social?” – é chave para re-inventarmos novas maneiras de vivermos e convivermos a partir da compreensão da diferença e das liberdades de ser e estar no mundo, com o mundo e com as outras pessoas sendo diferente, como valores humanos inegociáveis. Sem dúvida, todos nós ganhamos com essa escolha!

Acolhermos as pessoas com TEA e seus familiares com uma escuta sensível, é ato importante para transformarmos o mundo em um lugar melhor para todas as pessoas viverem.