Mudanças climáticas em foco: mobilizações coletivas são necessárias para evitar desequilíbrios ambientais iminentes, aponta bióloga da UNIFAL-MG em entrevista

No dia 16 de março, celebra-se a conscientização sobre as mudanças climáticas. Considerando eventos recentes, como as fortes chuvas que atingiram o litoral de São Paulo, a UNIFAL-MG conversou com a gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da UNIFAL-MG, Julieta Aparecida Moreira, sobre o desequilíbrio ambiental que pode impactar o futuro local, nacional e internacional. Leia: 

Na sua opinião como bióloga e gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade, por que é necessário conscientizar a população sobre mudanças climáticas?

Julieta Aparecida Moreira: Considero que a população já tem percebido que o tema mudanças climáticas vem sendo destacado pelas mídias, mas, além disso, as condições climáticas estão perceptíveis, com episódios extremos fora dos padrões anteriores das estações do ano. Assim, na minha opinião, quanto mais pesquisas científicas puderem ser divulgadas para a sociedade, esclarecendo de maneira acessível, maior será o nível de sensibilização da população referente ao tema. A relevância de conscientização maciça da comunidade deve-se à urgência de mobilização coletiva, para imposição de ações efetivas, que possam mitigar e/ou reverter os efeitos das mudanças climáticas.

Recentemente, acompanhamos o temporal que atingiu municípios do litoral norte de São Paulo. De acordo com o g1, a chuva que caiu em 24 horas foi o maior registro da história do Brasil. Como explicar esse fenômeno, associando-o à importância da preservação do meio ambiente?

Julieta Aparecida Moreira: As mudanças climáticas extremas estão sendo percebidas ao redor do mundo, como ondas de frio intenso, calor exacerbado, secas rigorosas e volumes de chuvas muito acima das médias previstas, entre outras manifestações. Os eventos climáticos extremos impactam ainda a produção agrícola, a infraestrutura costeira (como o fato observado recentemente no estado de SP), a disponibilidade de recursos hídricos e a qualidade ambiental das cidades. Pesquisas científicas comprovam a relação direta destes fatos com a degradação crescente ao meio natural, como o desmatamento excessivo provocado pelas atividades humanas e o aumento na produção de gases do efeito estufa, causados principalmente pela expansão da indústria, transporte e atividades agrícolas. 

Sendo assim, para mim, fica evidente a percepção de que só a preservação ao meio ambiente no cenário atual talvez não seja mais o suficiente, partindo para atitudes na direção de regeneração da degradação ambiental, na intenção de retomada do equilíbrio climático mundial.

A relevância de conscientização maciça da comunidade deve-se à urgência de mobilização coletiva, para imposição de ações efetivas, que possam mitigar e/ou reverter os efeitos das mudanças climáticas.

Há discussões nacionais e internacionais para a reversão desse problema?

Julieta Aparecida Moreira: Sim. Periodicamente são realizadas conferências mundiais, como a Conferência das Partes (COP), que debatem o tema e buscam propor acordos e formalizar o compromisso das nações, como o Acordo de Paris, que é um compromisso mundial desde 2015, acordado na COP17, entre 195 países, para a adoção de políticas climáticas visando à redução na emissão de gases de efeito estufa, a partir de 2020. Este acordo substituiu o Protocolo de Kyoto, de 1997, proposto na COP3.

No cenário nacional, entretanto, o Brasil passou por períodos de retrocessos recentes na temática, com mudanças significativas de posicionamento ambiental, consideradas negativas pelos especialistas na área, as quais culminaram com recordes anuais em desmatamento, por exemplo.

Contudo, na minha opinião, é necessária a mobilização em todas as esferas, sendo nacional, estadual ou municipal, e destaco aqui a frase clássica: “Pensar global e agir local”.

Nessa direção, vale salientar que o município de Alfenas foi pioneiro com a criação, em 2021, da Secretaria Municipal do Clima, Sustentabilidade e Inovação Social, e, desde então, esta formalizou junto à UNIFAL-MG um Termo de Cooperação Técnica, para que a Instituição possa contribuir com pesquisas e ações efetivas, visando ao desenvolvimento sustentável neste município.

Em casa, no trabalho, em espaço público, quais são práticas simples, mas efetivas, em prol do meio ambiente?

Julieta Aparecida Moreira: Na minha opinião, podemos alcançar atitudes relacionadas a nossa rotina, implantando mudanças em nosso padrão de consumo, por exemplo, refletindo sobre o consumo excessivo, consequente geração de resíduos e destinação destes. Cabe outro clássico, anteriormente denominado 3R e agora expandido para 7R: REPENSAR, RESPEITAR, RESPONSABILIZAR-SE, RECUSAR, REDUZIR, REAPROVEITAR E RECICLAR. 

Podemos também adotar, quando possível, ajustes na forma de transporte, buscando evitar ou reduzir o uso de combustíveis fósseis, aderir a deslocamentos coletivos, veículos elétricos ou não motorizados, e ainda realizar plantios de árvores, estimulando e divulgando a cultura dos benefícios destas para os ambientes urbanos e espaços públicos. 

Julieta Aparecida Moreira é gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da UNIFAL-MG. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quais ações a UNIFAL-MG desenvolve no âmbito da sustentabilidade?

Julieta Aparecida Moreira: Através do trabalho constante da gestão da UNIFAL-MG, dezenas de ações estão em desenvolvimento na direção da sustentabilidade institucional, sendo destaque recente a implantação de usinas fotovoltaicas nos campus Sede e de Varginha. A Instituição também adotou, no último ano, a coleta seletiva de resíduos, encaminhando para reciclagem parte do lixo antes destinado aos aterros sanitários. Rotinas administrativas para redução do consumo de água e energia são constantemente incentivadas. Equipamentos mais eficientes têm sido viabilizados em substituição aos modelos defasados no aspecto energético. Adoção de canecas reutilizáveis em substituição de copos descartáveis. Eventos, campanhas e cursos com ênfase em temas relacionados são progressivamente desenvolvidos, visando à sensibilização e à promoção de reflexões pertinentes junto à comunidade acadêmica. Enfim, todas as atividades-fim de ensino, pesquisa e extensão da UNIFAL-MG atualmente também se relacionam aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.