Efeitos da seca nas plantações de milho podem ser amenizados com açúcar natural, aponta pesquisa desenvolvida na UNIFAL-MG

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da UNIFAL-MG em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, mostrou que um açúcar natural chamado trealose é capaz de amenizar os efeitos da seca nas plantações de milho. Os resultados encontrados pelo grupo de pesquisa liderado pelo professor Thiago Corrêa de Souza, do Instituto de Ciências da Natureza (ICN) da Universidade, abrem caminho para o desenvolvimento de produtos conhecidos como bioestimulantes.

Conforme o pesquisador Thiago Corrêa de Souza, se os resultados continuarem positivos em estudos de campo, será possível novas formulações baseadas em açúcares derivados de trealose que contribuirão para produtores de milho de todo o país. (Foto: Arquivo Pessoal)

Conforme explica o coordenador da pesquisa, a ideia para o estudo partiu do próprio contexto da agricultura brasileira que enfrenta estresses ambientais como a seca, uma das condições que mais afetam a produtividade do milho no país. “O Brasil é um dos grandes produtores ficando na terceira posição na produção de milho, com 100 milhões de toneladas (8,2% do total), superado apenas pelos Estados Unidos e pela China. Internamente o estado de Minas Gerais também é um importante produtor de milho. É comum vermos plantações de milho no Sul de Minas enfrentando estiagens ou chuvas mal distribuídas que levam a seca, prejudicando as plantas e a produção final dos grãos”, explica.

Equipe trabalhando na casa de vegetação instalada no Horto Botânico e Medicinal da UNIFAL-MG, em registro feito antes da pandemia. (Foto: Arquivo/Grupo de pesquisa)

Na tentativa de propor uma nova tecnologia para amenizar as consequências da seca nas plantações de milho, o grupo testou a trealose para potencializar o efeito indutor de tolerância à seca. Para isso, os pesquisadores buscaram conhecimentos da Química Orgânica a fim de realizar modificações na estrutura da trealose e produzir novos derivados. “Foi aplicada uma mistura de dois novos derivados da trealose: um derivado com o grupo químico tosila e outro com o grupo azido. Esses dois derivados eram misturados e pulverizados nas folhas de milho”, explica o professor Thiago de Souza.

O pesquisador relata que os experimentos foram realizados em duas etapas. A parte química, que envolveu síntese e caracterização dos compostos, foi desenvolvida no Instituto de Química (IQ) da Universidade. O cultivo do milho e a aplicação da mistura foram desenvolvidos na casa de vegetação instalada no Horto Botânico e Medicinal da Unidade Educacional Santa Clara da UNIFAL-MG.

“As aplicações foram realizadas antes de começar o estresse de seca e durante o estresse. A imposição da seca ocorre com o controle de disponibilidade da água em um nível em que consideramos crítico e que ocasionaria uma diminuição na produção do milho. As plantas permanecem sob estresse (seca) por cerca de 10 dias. Foi utilizado um genótipo de milho sensível à seca em estádio de desenvolvimento também delicado para a planta, onde ela determina sua futura produção (conhecido como estádio V5, cinco folhas totalmente expandidas)”, detalha.

Equipe de discentes no momento de registros do experimento, em registro feito antes da pandemia. (Foto: Arquivo/Grupo de pesquisa)

De acordo com Thiago de Souza, durante o experimento, os pesquisadores trabalharam com plantas estressadas, as quais receberam a mistura de derivados de trealose e outras que não receberam a mistura. Também foram tratadas plantas que receberam a pulverização da trealose pura. “A mistura de derivados aumentou vários parâmetros fisiológicos importantes como a taxa fotossintética e enzimas de proteção do sistema antioxidante. Além disso, a mistura levou modificações anatômicas na folha que podem favorecer a taxa fotossintética. Todos esses efeitos são primordiais para uma maior tolerância à seca em milho”, afirma.

O coordenador da pesquisa argumenta que os resultados são promissores, sobretudo, porque ainda há poucos produtos no mercado brasileiro que sejam capazes de amenizar o estresse hídrico e/ou na potencialização de tolerância nas plantas. “O estudo abre caminho para o desenvolvimento de produtos conhecidos como bioestimulantes, ou seja, produtos que aumentam a tolerância à seca no cultivo desse cereal no Brasil”, argumenta, acrescentando que se os resultados continuarem positivos em estudos de campo, será possível novas formulações baseadas em açúcares derivados de trealose que contribuirão para produtores de milho de todo o país.

 
Um projeto de pesquisa abrangente que contribui para ciência e para geração de novos produtos

O estudo, que vem sendo realizado desde 2018, integra um projeto de pesquisa intitulado “Dissacarídeos derivados da trealose: prospecção tecnológica para a indução da tolerância à seca em milho”, finalizado em maio de 2021, o qual foi contemplado na Chamada Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo 423584/2016-2. Dentro do projeto, foram desenvolvidas duas dissertações de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da UNIFAL-MG, projetos de iniciação científica e artigos publicados.

Parte da equipe de estudantes e professores colaboradores antes das análises no milho Horto Botânico e Medicinal da UNIFAL-MG, em registro feito antes da pandemia. (Foto: Arquivo/Grupo de pesquisa)

“O estudo foi realizado com vários parceiros da UNIFAL-MG e da Embrapa o que trouxe um espaço multidisciplinar de aprendizagem para todos nós. Foram gerados dissertações, iniciação e artigos científicos relevantes o que demonstra que contribuímos com a ciência não apenas com a geração de produtos, mas também com a formação de novos pesquisadores”, ressalta Thiago de Souza.

Segundo ele, apesar de a UNIFAL-MG ser uma universidade com referências em linhas de pesquisa na área de saúde, mantém um grupo forte e maduro também na área de Agronomia, voltado para a prospecção de novos produtos no combate a estresses abióticos (como a seca).

Outros estudos envolvendo a trealose já estão em andamento e o coordenador da pesquisa já adianta quais são os próximos projetos do grupo. “Estamos analisando agora os resultados de um último trabalho em que aplicamos a trealose e a mistura de derivados no solo ao invés das folhas de milho. Agora em diante, iremos nos programar para participar de novos editais de fomento a fim de desenvolver estudos mais avançados em campos experimentais para avaliarmos a produtividade de milho já que os resultados foram promissores em casa de vegetação (cultivo em vaso)”, finaliza.