“Espaço Memória” resgata as raízes do jornalismo na UNIFAL-MG; em comemoração aos 108 anos da Instituição, equipe de comunicação lança coleção digital do informativo impresso entre os anos de 1993 e 2009

Em uma época em que existe acesso ilimitado a recursos tecnológicos e notícias ao alcance de um clique, pode parecer estranho falar de jornal impresso. Mas os veículos impressos ocupam um lugar de memória que transcendem o tempo. Para comemorar os 108 anos de fundação da UNIFAL-MG, ainda como Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas (Efoa), a Diretoria de Comunicação Social (Dicom) realizou um trabalho de resgate histórico do jornalismo na Instituição, reunindo para acesso público as edições do jornal impresso durante os anos de 1993 e 2009.

O acervo foi digitalizado e disponibilizado no “Espaço Memória”, uma página web criada para revisitar a história da Instituição naquele período, registrada nas páginas do informativo. Visite aqui!

Para entender como ocorreu o processo de construção do informativo Jornal da Efoa e depois, Jornal da UNIFAL, a equipe da Dicom conversou com o servidor aposentado Sebastião Meira, que foi secretário-geral e um dos pioneiros na produção do primeiro meio de comunicação da Instituição; e com a servidora Léa Sá Fortes, a primeira jornalista da Efoa, que atuou entre os anos de 1994 e 2003, antes de ser transferida para a Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Diamantina-MG.

O primeiro meio de comunicação oficial da Instituição

Sebastião Meira conta que a ideia de criar o informativo surgiu a partir do Encontro de Assessores de Comunicação das IFES da Região Sudeste, realizada em setembro de 1993, na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Acompanhado pelo professor Glenan Singi, o secretário-geral representou a Escola no evento, por designação do então diretor, o professor José Renan Vieira da Costa.

Sebastião Meira foi um dos responsáveis pela criação do Jornal da Efoa em 1993. Continuou fazendo parte do Conselho Editorial até 2009, quando a impressão do jornal foi suspensa. O servidor pediu a aposentadoria no início de 2011, após 33 anos de trabalho na Instituição. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Na ocasião fomos informados acerca da orientação do Ministério da Educação no sentido de que as universidades federais e instituições federais isoladas que não possuíssem informativos destinados aos professores-técnicos-alunos e à comunidade, deveriam criá-los a fim de divulgar suas atividades. A mesma orientação recebemos também no Encontro de Comunicação Social do MEC, ocorrido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, em novembro de 1993”, detalha.

Segundo ele, naquela época a Efoa não contava com um informativo e as notícias eram publicadas em murais distribuídos no campus ou quando possível, nos jornais da cidade ‘O Alfenense’ e ‘Folha de Alfenas’, que eram editados de 15 em 15 dias. “A comunidade acadêmica precisava ter um meio de mostrar o que era realizado pelos integrantes dos cursos ministrados na Efoa – Farmácia, Odontologia e Enfermagem”, diz. “Dr. José Renan, ouvindo o que nos foi recomendado nos encontros referidos, sensibilizou-se da necessidade da criação de um jornal. Assim, eu e o professor Glenan Singi recebemos do diretor a missão de criar e editar o primeiro número do jornal ainda no ano de 1993. Decidimos o nome: ‘Jornal da Efoa’”, relembra.

Redação, revisão e digitação pelas madrugadas

Sobre os elementos técnicos, o servidor aposentado compartilha como foi criar o primeiro número, o qual exigiu dedicação extra de vários colaboradores para produção. “Prof. Glenan tinha, em sua casa, um computador com programa apropriado para a formatação de jornal e que também poderíamos inserir fotos. Procuramos pelos integrantes dos setores da Administração para nos ajudar nas matérias e pelos chefes dos departamentos acadêmicos, na época, sete. Também buscamos apoio dos estudantes que faziam parte do Diretório Acadêmico ‘Leão de Faria’”, revela.

Glenan Singi é cirurgião-dentista e professor aposentado da Instituição. Foi um dos pioneiros na criação do Jornal da Efoa. (Foto: Arquivo Pessoal) 

Os editores conversaram com essas pessoas para que contribuíssem, repassando informações sobre o que estava sendo feito nos departamentos. “Fomos atrás de matérias visitando professores, alunos e técnicos administrativos. Fomos bem recebidos e auxiliados por todos, o que nos incentivou a trabalhar, com afinco, no sentido de publicar o primeiro número do Jornal da Efoa, em dezembro de 1993, conforme nos pediu o diretor”, relata. “Às vezes, achávamos que não daríamos conta da missão. Contudo, conseguimos lançar o primeiro número.”

O Jornal da Efoa noticiava atividades de professores e estudantes em trabalho de pesquisa; abordava eventos como congressos, jornadas científicas, defesas de dissertação, palestras, visitas de autoridades do MEC; e informações referentes às especializações dos cursos de Farmácia, Odontologia e Enfermagem.

Entre as notícias, também eram destaques informações sobre os serviços prestados como atendimentos na Biblioteca Central, na Clínica Odontológica, no Laboratório de Análises Clínicas, Enfermagem e Farmácia-Escola, além daquelas relacionadas à Fundação de Apoio à Cultura, Ensino, Pesquisa e Extensão de Alfenas (Facepe), à Associação Científico, Cultural de Esportes e Lazer dos Servidores da Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas (Accel) e ao Diretório Acadêmico “Leão de Faria” (DALF).

“Eu e o professor Glenan saíamos da Efoa à tarde, íamos para a casa dele onde ficávamos até de madrugada na redação, revisão e digitação dos artigos”, narra.

Capa da primeira edição do Jornal da Efoa – dezembro de 1993. (Imagem: Reprodução)

A primeira edição traz em destaque na capa, uma chamada para os 80 anos da Efoa, que seriam comemorados em abril de 1994. O texto resume a trajetória da Escola até ali, apresentando aspectos que já a caracterizavam como uma instituição de ensino superior reconhecida.

No editorial, a direção assina reforçando a proposta de expandir o conhecimento sobre o que a comunidade acadêmica produzia. “A Efoa ao editar mensalmente o seu jornal tornar-se-á, com certeza, mais conhecida, mais admirada e dará voz à comunidade que a representa para revelar os seus feitos, os seus anseios e as suas reivindicações. O apoio e a participação de todos serão indispensáveis para que este Jornal se firme e se mantenha, dignificando e propagando esta instituição de ensino.”

Após o primeiro número, Sebastião Meira e o professor Glenan Singi se mobilizaram para organizar melhor o trabalho de produção e edição. Solicitaram uma câmera fotográfica à direção e as pautas passaram a ser definidas em reunião com o Conselho Editorial, os representantes da Administração e dos departamentos acadêmicos, e representante estudantil.

“Os exemplares do jornal eram disponibilizados na Biblioteca; Departamentos Acadêmicos; Gabinete do Diretor (para os servidores técnicos administrativos); Sede do Diretório Acadêmico “Leão de Faria”; Facepe e Accel”, conta o então editor do jornal, acrescentando que os exemplares também eram encaminhados, pelos Correios, aos servidores aposentados e entidades da cidade de Alfenas. “A comunidade alfenense tinha acesso ao jornal que era oferecido, gratuitamente, nas bancas de revistas da praça Getúlio Vargas. Eram enviados ao MEC, às Universidades Federais e demais instituições federais de ensino”, completa.

Nasce o jornalismo na Efoa

Foi a partir do Jornal da Efoa que as atividades da Instituição passaram a circular pela comunidade acadêmica e população de Alfenas, alcançando também outras localidades. Um dos impactos da criação do Jornal da Efoa foi a possibilidade de conseguir a vaga de um profissional jornalista para a Instituição, o que mudou significativamente o cenário da divulgação institucional.

José Renan Vieira da Costa foi cirugião-dentista e diretor da Efoa de 1993 a 1997, apoiando a criação do Jornal da Efoa e a vaga de jornalista para Instituição. Faleceu em 2002. (Foto: Arquivo/Dicom)

“Com a criação do jornal, conseguimos uma vaga de jornalista para a Efoa, graças ao empenho do diretor, Dr. José Renan Vieira da Costa. Logo no início de 1994, foi autorizada a realização do concurso público para o cargo de jornalista, tendo sido classificada a jornalista Léa Sá Fortes, que realizou um excelente trabalho na condução do Jornal da Efoa, aprimorando-o mediante seu profundo conhecimento e capacidade”, conta.

A jornalista Léa Sá Fortes esteve à frente do jornal de 1994 a 2003, quando foi transferida para a então Faculdades Federais Integradas de Diamantina, hoje Universidade Federal do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM). “Foi uma experiência gratificante ter trabalhado com ela durante um longo tempo até sua transferência”, enfatiza Sebastião Meira.

Contatada pela Dicom para essa reportagem, Léa Sá Fortes compartilhou um pouco de sua história com a Efoa, segundo a qual, é marcada por afeto e intimidade, sentimentos herdados no ambiente familiar. “Meu avô materno formou em uma das primeiras turmas de Odontologia da Efoa. O meu avô paterno formou também em uma das primeiras turmas de Farmácia. O meu pai foi estudante de Farmácia e fundador do primeiro Diretório Acadêmico da Instituição, e depois que eles já não tinham mais uma história de proximidade com a Efoa, eu entrei em 1994, nessa vaga de jornalista”, relata, revelando que foi o seu pai, aposentado e morador de Alfenas à época, quem a informou sobre o concurso aberto na Instituição.

Conforme a jornalista, fazer o informativo da Efoa foi um desafio porque só havia ela no setor de comunicação, no entanto, com a colaboração de Sebastião Meira foi possível viabilizar o trabalho de divulgação institucional. “Eu contava com o apoio bastante intenso do Tião Meira, que era um colega técnico administrativo, mas que tinha uma experiência grande em rádio, inclusive em radiojornalismo, embora ele não fosse graduado em jornalismo”, comenta. “Fazíamos um trabalho conjunto de revisão e apuração das notícias”, acrescenta.

Informativo amplia a visibilidade da Instituição e a interação com a sociedade 
Recorte do jornal de 1994, quando uma das reuniões de pauta foi mencionada no informativo. (Imagem: Reprodução)

Para a produção de notícias, Léa Sá Fortes utilizava um método de trabalho de correspondência, no qual os departamentos e setores administrativos participavam ativamente sugerindo pautas para as matérias jornalísticas. “Como a Instituição ainda era menor, funcionava muito bem, nós tínhamos uma reunião de pauta e as pessoas traziam as informações, e eu as transformava em matérias jornalísticas, após uma apuração mais aprofundada”, conta.

A cada edição, o Jornal da Efoa se tornava mais prestigiado pela comunidade, cujo interesse em saber o que acontecia nas unidades acadêmicas e administrativas aguçava a curiosidade e aumentava a expectativa pela próxima edição. “Era um trabalho que dava uma visibilidade muito grande para Efoa porque naquela época, ainda não contávamos com redes sociais e com a tecnologia que temos hoje, então havia a cultura do jornal impresso, da leitura desse jornal impresso, então quando o jornal saía era uma alegria, porque todo mundo queria se informar de fato sobre o que estava acontecendo”, relembra.

Esse veículo de comunicação estabeleceu também uma interação com a sociedade alfenense e com outras instituições com as quais a Efoa se relacionava. “Nós conseguimos também dar uma visibilidade para a sociedade, porque às vezes a Instituição tinha os seus trabalhos de pesquisa, de extensão e de ensino, mas muita gente não sabia que isso acontecia. Então, o jornal serviu também para abrir portas para outros tipos de trabalho”, diz.

 Primeira jornalista da Instituição, Léa Sá Fortes contribuiu significativamente para a história do jornalismo institucional. Em 2003, foi cedida para a UFVJM, onde atuou como diretora de Comunicação e diretora de Cultura. Atualmente, encontra-se afastada para o doutorado em Ciências Sociais, desenvolvido na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), cuja pesquisa investiga as relações de sociabilidade dentro da plataforma de rede social TikTok, para implantar na UFVJM. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em seu relato, a jornalista conta ainda que o informativo permitiu firmar parceria com as universidades federais de Minas Gerais, as quais contribuíam para um programa de divulgação científica, veiculado pela Rede Globo, que também abordava outros temas de interesse público. “Era o programa Minuto no Campus, no qual falávamos um pouquinho do que se fazia nas instituições, com informações a respeito de assuntos que interessavam a sociedade, em um espaço em que os nossos profissionais podiam tirar dúvidas e transmitir um pouco do conhecimento técnico e científico acadêmico para a comunidade de uma forma geral.”

Além de aproximar a Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas da sociedade, o Jornal da Efoa abriu caminho para a estruturação do setor de comunicação institucional. “Eu acho que a abertura desse espaço da comunicação dentro da Efoa deu o pontapé e uma possibilidade para construção da estrutura que a Instituição tem hoje, com mais profissionais para dar vazão a todo conhecimento produzido e a toda prestação de serviço que ela faz à sociedade”, analisa.

Ao saber que seu trabalho foi fundamental para a construção da história jornalística da Efoa, Léa Sá Fortes ressalta a satisfação em receber esse reconhecimento da Instituição. “É uma satisfação muito grande saber que eu participei dessa história e saber que hoje há um reconhecimento”, diz. “Até pouco tempo, eu falava: não, eu fiz o que eu tinha que fazer; hoje, sim, eu fiz o que eu tinha que fazer, mas com certeza eu fiz com muito carinho, com muita dedicação e é muito bom saber que isso hoje é reconhecido pelos colegas da Instituição”, enfatiza, ressaltando que o mais satisfatório é perceber que os frutos deram continuidade.

A coleção digital do jornal conta com mais de 100 números impressos durante os anos de 1993 e 2009, mas o Espaço Memória pretende expandir a digitalização para outros informativos produzidos na Instituição. Caso você, servidor, servidor aposentado ou egresso, tenha guardado algum impresso antigo, compartilhe conosco para que possamos digitalizar e disponibilizar para acesso público. Entre em contato pelo e-mail dicom@unifal-mg.edu.br.

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