Para sintetizar evidências sobre a atividade educacional de simulação de papéis, o roleplay, em cuidados paliativos, pesquisadores da UNIFAL-MG desenvolveram pesquisa que indica o uso dessa estratégia para o desenvolvimento de habilidades, por discentes e profissionais da saúde, relacionadas à comunicação e aos cuidados no fim da vida. Sob coordenação da professora Ana Cláudia Mesquita Garcia, da Escola de Enfermagem da UNIFAL-MG, a pesquisa foi publicada no periódico internacional American Journal of Hospice and Palliative Medicine.
Intitulado “Roleplay as an Educational Strategy in Palliative Care: A Systematic Integrative Review”, o artigo oriundo de projeto de iniciação científica foi desenvolvido entre 2020 e 2021, por Lucas Mariano Santos Novaes, egresso do curso de Fisioterapia; Eliza Mara das Chagas Paiva, discente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; Aoife O’Mahony, pesquisadora na Cardiff University, Reino Unido; e pela professora Ana Cláudia Garcia, orientadora do projeto. “Tendo em vista a complexidade das habilidades necessárias para a prestação dos Cuidados Paliativos, considera-se essencial que o ensino nesta área inclua estratégias capazes de explorar as crenças pessoais dos profissionais, além de permitir o gerenciamento de suas emoções e identificar as barreiras da equipe em tempo real”, disse a orientadora Ana Cláudia Mesquita.
Conforme explicação da docente, o roleplay é uma simulação de situações reais, com fins didáticos, que pode inclusive contar com a participação de atores profissionais para desempenhar o papel de um paciente. “Um exemplo é quando o roleplay é utilizado para o ensino de comunicação de notícias difíceis em Cuidados Paliativos. Nesse caso, basicamente, precisaremos de uma pessoa que represente o profissional e de uma outra pessoa que irá representar o paciente/familiar. A encenação ocorre e, em seguida, o facilitador conduz uma conversa com os participantes da encenação, bem como com as demais pessoas que estavam assistindo, para explorar o que foi vivenciado”, explicou.
A relevância da proposta se concentra na sua versatilidade, por poder se realizar remotamente, no baixo custo e no uso das demonstrações interativas para melhorar atitudes de alunos em treinamento. “Se um educador pretende seguir esta técnica como intervenção educativa, consideramos que o fator mais importante é o facilitador (a pessoa que conduzirá a atividade). Facilitadores treinados serão capazes de fazer o melhor uso do roleplay e de lidar com possíveis imprevistos, bem como permitir autenticidade às sessões, sabendo quando e como dar feedback aos alunos e minimizando fatores ansiogênicos”, completou a professora Ana Cláudia Mesquita.
Na opinião de Eliza Mara das Chagas Paiva, a versatilidade se faz ainda mais relevante na pandemia, período em que muitas atividades presenciais tiveram de ser suspensas. “Isso pode ser de grande utilidade no contexto atual”, salientou a mestranda da UNIFAL-MG, para quem foi gratificante participar do projeto e ter o estudo publicado em periódico internacional.
Para o egresso Lucas Mariano Santos Novaes, a participação se consolidou como uma oportunidade de aprofundar conhecimentos em área de interesse. “Além disso, graças à metodologia da revisão integrativa, pude explorar a produção científica, desde a escrita e desenvolvimento do projeto até escrita final do artigo. Participar foi importante por me ensinar, na prática, a buscar e analisar artigos acadêmicos mais acentuadamente, incluindo nível de evidência e qualidade do estudo”, disse.
Na revisão sistemática integrativa, identificaram-se 34 artigos, que foram selecionados nas bases de dados Web of Science, Scopus, Biblioteca Cochrane, PubMed, CINAHL, EMBASE e LILACS e agrupados em três categorias, de acordo com a finalidade: uso do roleplay como estratégia educacional para o ensino da comunicação em cuidados paliativos; uso do roleplay como estratégia educacional para ensinar a comunicação de notícias difíceis e uso do roleplay como estratégia educacional para ensinar cuidados no fim da vida.
“A adoção de tais estratégias de ensino minimiza os riscos potenciais para os pacientes associados à aprendizagem ‘at the bedside’, um verdadeiro desafio em ambientes de Cuidados Paliativos. A necessidade de métodos de educação e treinamento que não exponham o paciente a erros médicos evitáveis por parte de profissionais/alunos menos experientes, nesse sentido, deve ser prioridade”, encerrou a Profa. Ana Cláudia Mesquita.