Especial Abelhas: Descobertas de pesquisas desenvolvidas na UNIFAL-MG com abelhas nativas sem ferrão e abelhas da espécie Apis mellifera comprovam benefícios da própolis para prevenção e cura de doenças

Para celebrar o Dia Nacional da Abelha, comemorado em 3 de outubro, o Jornal UNIFAL-MG apresenta uma série especial de reportagens sobre pesquisas desenvolvidas na Universidade sobre o tema. Nesta primeira reportagem, conheça os projetos de pesquisa coordenados pelos professores Masaharu Ikegaki e Pedro Luiz Rosalen, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PPGCB): um voltado para o estudo de abelhas nativas sem ferrão e o segundo para as abelhas da espécie Apis mellifera, conhecida popularmente como abelha de mel.

O grupo de pesquisa da Universidade iniciou os estudos sobre a resina vegetal que as abelhas retiram das plantas: a própolis e a geoprópolis (mistura de barro com própolis confeccionada pelas próprias abelhas), produzidas especialmente pelas abelhas nativas sem ferrão no ano de 2007.

Masaharu Ikegaki – pesquisador e professor da UNIFAL-MG.  (Foto: Arquivo/Dicom)

Sob o título “Determinação da composição química e avaliação da atividade biológica de própolis e geoprópolis de abelhas sem ferrão”, a pesquisa objetiva investigar se as própolis e geoprópolis dessa espécie apresentam propriedades farmacológicas. “A principal proposta é descobrir se as própolis e geoprópolis dessa variedade de abelhas nativas brasileiras sem ferrão — algumas espécies em extinção — possuem atividades farmacológicas de forma que se agregue valor às produções desta abelha nativa, a fim de proteger estas espécies da extinção, expressando à sociedade a importância destas abelhas e a sua preservação”, explica o professor Masaharu Ikegaki.

Ao longo do tempo, discentes de graduação e pós-graduação da UNIFAL-MG envolvidos na pesquisa passaram a contar com a colaboração de instituições parceiras como a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP/UNICAMP), na pessoa do professor Pedro Luiz Rosalen, que após se aposentar foi professor visitante do programa da UNIFAL-MG; a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP), na figura do professor Severino Matias de Alencar, e a Universidade São Francisco (USF), representada pela professora Patrícia de Oliveira Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde daquela instituição.

Com incentivo e fomento de agências como CNPq e Capes, bem como de empresas como a Breyer Cia., as pesquisas são desenvolvidas no Laboratório de Bioprocessos e no Laboratório Multidisciplinar I da UNIFAL-MG, e também nos laboratórios das instituições parceiras.

Acadêmicos em análise no laboratório da UNIFAL-MG. (Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)

Entre os principais desdobramentos desses estudos, os pesquisadores apontam o grande número de publicações. “Desde o início das pesquisas muitos resultados interessantes foram alcançados que culminaram na publicação de vários artigos científicos em periódicos especializados”, comentam os professores Masaharu Ikegaki e Pedro Rosalen.

Segundo eles, as pesquisas também contribuíram de forma efetiva na formação de recursos humanos, titulando vários mestres e doutores altamente qualificados que hoje continuam seus estudos no doutorado ou trabalham em centros de pesquisa no Brasil e no exterior. “Um dos trabalhos culminou no depósito de uma patente sob o registro BR102016026256-9, sob o nome Composição Farmacêutica e Seus Usos, que está em avaliação pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)”, salienta Masaharu Ikegaki.

Atividade de campo em Alfenas. (Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)

A contribuição para saúde e para economia também pode ser observada nos resultados alcançados da pesquisa. “Os resultados dessa pesquisa podem contribuir de diferentes formas para a saúde da população, desde a forma mais lógica, quando descobrimos propriedades farmacológicas interessantes que podem contribuir na prevenção ou cura de algumas doenças, até a forma mais ampla, quando sabendo que esses produtos possuem alguma atividade biológica, incentivará a sua produção, gerando renda ao pequeno produtor e melhorando a sua qualidade de vida”, destaca.

Sem perder de vista o potencial que o conhecimento científico dessa pesquisa pode promover ao despertar a consciência de sustentabilidade e diversidade do meio ambiente, o pesquisador ressalta: “O cuidado com as abelhas bem como do seu habitat será extremamente necessário uma vez que são desses locais que as abelhas coletam o material para a produção da própolis e da geoprópolis. Com o ambiente preservado e renda para melhorar a qualidade de vida, sem dúvida trará impacto na saúde da população”, assegura Masaharu Ikegaki.

 

Objeto de pesquisa há 25 anos na Universidade, as abelhas Apis mellifera são reconhecidas como uma das mais importantes do mundo; confira as descobertas do grupo multidisciplinar que se dedica ao estudo da espécie

As pesquisas envolvendo abelhas estão longe de pararem por aí. Anteriormente à pesquisa com as abelhas nativas brasileiras sem ferrão, já em 1996, um grupo da UNIFAL-MG já trabalhava com pesquisas de grande impacto científico, as quais são desenvolvidas com abelhas não nativas do Brasil: as Apis mellifera africanizadas, espécie conhecida popularmente como abelha de mel ou a rainha do mel, devido a sua alta produção de mel, além de própolis, geleia real, cera e pólen.

Prof. Masaharu Ikegaki e Prof. Pedro Luiz Rosalen – pesquisadores que coordenam estudos na UNIFAL-MG envolvendo própolis produzida por abelhas nativas sem ferrão e abelhas Apis mellifera. Registro feito em 2019. (Foto: Arquivo/Dicom)

“A ‘nossa’ Apis mellifera é uma espécie híbrida por cruzamento acidental de abelhas melíferas europeias com abelha africana”, explica o pesquisador Masaharu Ikegaki. “A maioria das nossas publicações, produções intelectuais como patentes e premiações em Sociedades Científicas foram realizadas com essas espécies”, acrescenta.

Intitulada “Estudos da composição química, atividades biológicas, mecanismos de ação e desenvolvimento de produtos da própolis de Apis mellifera georreferenciada, produzida em diferentes localidades do Brasil: Estudos não clínicos e clínicos”, a pesquisa tem como proposta estudar a diversidade e tipificar as própolis brasileiras produzidas por abelhas Apis mellifera, como uma fonte de novas moléculas com atividades biológicas, farmacológicas, de modo que possam ser incorporadas a produtos de saúde, higiene, alimento e alimento funcional.

“De forma mais abrangente, essas pesquisas propõem também agregar valor a essas abelhas e seus produtos dando a eles a devida importância geoeconômica e ambiental. Hoje a própolis de Apis mellifera africanizada brasileira, graças às pesquisas realizadas no país, é reconhecida como uma das mais importantes do mundo, o que coloca o Brasil como o segundo e sexto maior produtor e exportador de própolis e mel, respectivamente”, ressalta, citando informações da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel) e Sebrae.

Os estudos com a espécie conhecida principalmente pelo seu mel e pelo ferrão tiveram início há 25 anos na Universidade e atualmente são desenvolvidos de forma multidisciplinar envolvendo áreas de química, alimentos, saúde e tecnologia. O grupo de pesquisa é constituído por pesquisadores, discentes de graduação e pós-graduação de universidades e institutos do Brasil, Estados Unidos, Chile, Finlândia e Coreia do Sul. 

As instituições envolvidas, assim como seus líderes no grupo de pesquisa são:

  • Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas – UNIFAL-MG (professores Masaharu Ikegaki e Pedro Rosalen – professor visitante de 2019-2021)
  • Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas – UNIFAL-MG (professores Ronaldo Célio Mariano e Marcelo Franchin – professor visitante de 2019-2021)
  • Faculdade de Engenharia de Alimentos-FEA/UNICAMP (equipe do professor Young Park) e Faculdade de Odontologia de Piracicaba – FOP/UNICAMP (equipe do professor Pedro Rosalen)
  • Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ-USP (equipe do professor Severino Matias de Alencar)
  • Universidade de Rochester (equipes dos professores William Bowen e R. Marquis/falecidos, H. Koo e R. Quivey) e University of East Carolina (equipe do professor Ramiro Murata)
  • Universidad de La Frontera, Chile (equipe do professor Erick Scheuermann)
  • Natural Resources Institute Finland – Luonnonvarakeskus – Finlândia (equipe do professor D. Granato)
  • Chonbuk National University, Republic of Korea (equipe do professor J-G Jeon)

Os projetos têm recebido incentivos e fomento de empresas, em especial a Breyer Cia. e fomentos por parte da UNIFAL-MG e agências de fomento como CNPq, Capes e FAPEMIG e em São Paulo pela FAPESP.

Discentes do grupo de pesquisa durante atividade no laboratório da Universidade. (Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)

Na UNIFAL-MG, as pesquisas são desenvolvidas no Laboratório de Bioprocessos e no Laboratório Multidisciplinar I e laboratórios do Departamento de Patologia e Parasitologia, e da Faculdade de Odontologia. Os experimentos também são realizados nos laboratórios ligados às instituições parceiras.

“As pesquisas do nosso grupo já tipificaram quimicamente 13 tipos distintos de própolis brasileira o que coloca o Brasil, como único país no mundo com esta variedade e diversidade de própolis produzidas por Apis melífera”, conta Masaharu Ikegaki.

O professor visitante da UNIFAL-MG entre os anos de 2019-2021, Pedro Rosalen, complementa que entre os tipos de própolis se destacam a própolis verde (tipo 3 e 12) do Sul e Sudeste do Brasil, ricas em flavonoides e a própolis tipo 13 (própolis vermelha) rica em ácidos fenólico e isoflavonas. “A própolis vermelha brasileira foi a que conseguiu agregar mais valor econômico a partir dos estudos científicos produzidos, publicados, premiados e com patentes. Hoje essa própolis custa cerca de 5 vezes mais do que a própolis verde e outras no mercado internacional e sua produção, praticamente 100% é exportada para China, Japão e Alemanha”, relata.

Entre as principais descobertas do grupo, há ainda aquelas relacionadas às moléculas bioativas na própolis com alvos específicos para doenças orais biofilmes/placa dependentes e outras doenças com envolvimento do processo inflamatório. Além disso, os pesquisadores conseguiram definir os mecanismos de ação das moléculas descobertas na própolis ou do extrato da própolis, com ações inibidoras sobre de fatores de virulência microbiana – que causam infecções, ou agem como antimicrobianos. “Temos mostrado a ação anti-inflamatória da própolis e de suas moléculas ativas e isoladas pelo nosso grupo de pesquisa”, diz Pedro Rosalen, apontando a descoberta na interferência da via do NF-κB (fator nuclear kappa B), que impede a ativação ou bloqueia a liberação de citocinas, o que reduz o processo de inflamação no organismo.

Pedro Rosalen – pesquisador visitante do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas.(Foto: Arquivo Pessoal)

Os pesquisadores afirmam que as própolis brasileiras apresentam forte ação antioxidantes que pode integrar a formulação de cosméticos, medicamentos, alimentos e outros produtos congêneres. “Investigações mais recentes têm mostrado o efeito anti-inflamatório da própolis orgânica “verde” brasileira em um estudo clínico de pacientes com mucosite — inflamação de tecidos moles da cavidade oral —, causada por tratamento oncológico de cabeça e pescoço”, detalha Pedro Rosalen. De acordo com o pesquisador, a própolis “verde” reduziu a incidência da mucosite ou a severidade desta lesão na boca em pacientes sob tratamento oncológico, melhorando com isso a qualidade de vida.

“O nosso trabalho mais recente realizado na UNIFAL-MG e publicado em setembro deste ano mostrou pela primeira vez na literatura, que a própolis vermelha brasileira possui quatro mecanismos de proteção na doença paracoccidioidomicose experimental — uma micose sistêmica causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis, que ataca principalmente os pulmões, com alta prevalência na América do Sul e principalmente nas regiões sul e sudeste do Brasil”, completa Masaharu Ikegaki. 

Vale destacar que em 2019, a UNIFAL-MG obteve cartas-patentes de substâncias que atuam na prevenção e tratamento de cáries, placa dental e gengivites, desenvolvidas a partir da própolis brasileira. Relembre!