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Atividade “Tertúlia Literária Dialógica” estimula a leitura e a escrita da comunidade jovem e adulta de Alfenas; em comemoração ao Dia Nacional da Alfabetização, conheça a abordagem inclusiva de um projeto extensionista da UNIFAL-MG

A taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais idade no Brasil atinge 6,6%, o equivalente a 11 milhões de jovens que não sabem ler nem escrever. É o que aponta uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2019. Iniciativas educacionais e abordagens inclusivas têm se mostrado eficazes no estímulo à leitura e à escrita, o que tem contribuído para diminuir esses índices de analfabetismo. Uma dessas iniciativas é desenvolvida por um projeto de extensão da UNIFAL-MG que alfabetiza a comunidade jovem e adulta de Alfenas. Para celebrar o Dia Nacional da Alfabetização, comemorado em 14 de novembro, conheça as atividades desse trabalho que envolve o processo de alfabetizar pela perspectiva freiriana.

À frente, a professora Vanessa Girotto, e ao fundo, o bolsista Túlio Silva junto aos participantes do projeto, em registro feito em 2019. (Foto: Arquivo/Coordenação do projeto)

Sob a coordenação da professora do curso de Pedagogia Vanessa Girotto (Instituto de Ciências Humanas e Letras), o projeto iniciou-se em 2015 junto aos participantes da Universidade Aberta à Terceira Idade, a UNATI. “O trabalho de alfabetização tem como ponto de partida a atividade denominada Tertúlia Literária Dialógica, constituída em sua essência pela leitura dos clássicos universais para, a partir da leitura de mundo, escrever a palavra escrita”, explica, salientando que a proposta é fundamentada nos ensinamentos de Paulo Freire.

Para Túlio César da Silva, estudante do 8º período de Pedagogia e membro do grupo de pesquisa Educateliê, também coordenado professora Vanessa Girotto, a participação no projeto foi decisiva na sua formação profissional e humana. “Fui bolsista do projeto Tertúlia Dialógica Literária & Alfabetização na UNATI, cujo objetivo é fazer leituras dos grandes clássicos da literatura universal e, através dessas leituras, organizar ações de incentivo ao uso da escrita. O público desse projeto era formado por pessoas idosas, que por conta de suas demandas pessoais — que nós sabemos fazer parte de um sistema de exclusão — não puderam se escolarizar na juventude e não puderam se apropriar da escrita e da leitura”, relata.

Conforme o estudante, como bolsista escolheu trabalhar poemas, sonetos e contos de autores como Shakespeare e Guimarães Rosa, apresentando ao grupo da UNATI também Carlos Drummond de Andrade, Olavo Bilac, Cecília Meireles, os portugueses, Manuel Maria Barbosa du Bocage e Florbela Espanca, entre outros. “Essas ações eram desenvolvidas duas vezes na semana, nós líamos juntos os poemas, sonetos e contos e eles comentavam acerca dos seus sentimentos, lembranças e opiniões que esses textos despertavam neles. Às vezes uma palavra ou uma frase fazia com que eles expressassem uma infinidade de coisas relacionadas a vivências deles, enquanto trabalhadores, enquanto pais, mães, avôs e avós, enquanto religiosos, enquanto pessoas privadas de direitos humanos”, detalha.

Túlio Silva afirma que o desenvolvimento da atividade Tertúlia Dialógica Literária também teve o potencial de promover uma quebra de paradigmas.

“Era um rompimento com aquele pensamento elitista de que as pessoas que não são escolarizadas ou trabalhadores de classe baixa não conseguem interpretar uma grande obra clássica e esse projeto de extensão, bem como as ações desenvolvidas trazem uma lógica oposta, pois, assim como Paulo Freire acreditamos que todas as pessoas têm coisas a dizer, a opinar e a ensinar. Então era um processo muito interessante, no qual eu aprendia muito com aquilo que eles tinham a dizer”, compartilha, chamando a atenção para o trabalho de alfabetização na perspectiva freiriana.

A experiência vivenciada na UNATI, tanto pelo bolsista quanto pela coordenadora, foi tão bem-sucedido, que fez com que Vanessa Girotto levasse o projeto para outros espaços de Alfenas, quando passou a desenvolver atividades no sistema prisional, no ano de 2017 e, no ano seguinte, também em escolas municipais. Com a pandemia da covid-19, o projeto foi interrompido pelas dificuldades de realizar o processo de alfabetização remotamente.

Para retomar o projeto foi necessário adaptá-lo à nova realidade, o que aconteceu neste ano de 2021, em parceria com a professora Cristiane Xavier — também do curso de Pedagogia —, especialista em Educação de Jovens e Adultos. “Decidimos remodelar o projeto de Tertúlia e fazer uma nova proposta, chamada ‘Alfabetização de jovens e adultos: revisitando os círculos de cultura a partir da tertúlia literária dialógica’”, revela.

Segundo a educadora, o objetivo é oferecer, de forma remota, a possibilidade de pessoas jovens e adultas da cidade de Alfenas, como sujeitos de direitos, se inserirem e se aprofundarem no mundo da leitura e da escrita. “A ideia foi ampliar o espaço de formação e além da UNATI, realizarmos um mapeamento de jovens e adultos em processo de alfabetização nos Centros Comunitários da cidade de Alfenas”, conta, acrescentando que o projeto foi acatado pela Secretaria Municipal de Educação de forma muito positiva e, também, selecionado pela Pró-Reitoria de Extensão.

Equipe do projeto em reunião remota após a reformulação da proposta de trabalho. (Captura de tela: Vanessa Girotto)

Atualmente, são seis estudantes atuando nas atividades de alfabetização: uma bolsista e cinco voluntárias. Em encontros quinzenais, iniciados nesse segundo semestre, as universitárias participam de estudos teóricos com as professoras Vanessa Girotto e Cristiane Xavier, de modo a aprofundar os conhecimentos na temática de Educação de Pessoas Jovens e Adultas e receber orientação na seleção do material. 

“Vamos trabalhar com a obra ‘Revolução dos Bichos’ e, para isso, a equipe está selecionando os capítulos para a realização da gravação em áudio da obra. Em um segundo momento, realizaremos, em conjunto, o planejamento das lições”, relata. De acordo com a educadora, a equipe, composta também por uma alfabetizadora da rede municipal, está organizando as turmas, com base na relação de pessoas jovens e adultas, enviada pela Secretaria Municipal de Educação, e formando grupos pelo WhatsApp para as aulas que se iniciam em fevereiro de 2022.