Prevenção, mitos, diagnóstico tratamento do câncer de próstata: professor da UNIFAL-MG destaca informações sobre a doença em entrevista para o “Novembro Azul”

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer prostático, em 2021, representará 65.840 casos novos no Brasil. As discussões sobre esse tema marcam o mês de novembro, com a campanha “Novembro Azul”. Para esclarecer dúvidas sobre prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e evolução da doença, o urologista Elmo Guimarães Barreiro, professor da Faculdade de Medicina da UNIFAL-MG, concedeu entrevista para o Jornal UNIFAL-MG. O médico atua, principalmente, nos temas de uro-oncologia e litíases de vias urinárias. Confira abaixo: 

Novembro é marcado por campanhas de orientação sobre o câncer de próstata. Na sua visão e experiência médica, é importante intensificar esse tipo de ação?

” […] sabe-se que fatores de risco são: o tabagismo, a ingestão excessiva de álcool e uma dieta rica em gorduras e carnes vermelhas, que influenciam sobremaneira a ocorrência de tumores na próstata”, esclarece o Prof. Elmo Guimarães Barreiro

Elmo Guimarães Barreiro: É importante esclarecer que o novembro azul surgiu em 2003, em Melbourne, na Austrália, a partir da iniciativa de dois amigos, que, usando o bigode, simbolicamente, deixaram-no crescer principalmente em novembro, no dia 17, em comemoração do Dia Mundial do Combate ao Câncer de Próstata. Em seguida, criaram a Campanha, que cresceu entre amigos, culminando na criação da “Movember Foundation” – palavras moustache (“bigode”) e November (“novembro”). Com os anos, alcançou o mundo, chegando ao Brasil em 2008, trazido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Urologia, apesar das polêmicas, baseados em estudos de um grande número de homens avaliados na Europa e EUA.

Esse estudo avaliou a eficácia do rastreamento do câncer prostático com o uso do marcador sanguíneo, PSA e o exame do toque retal, seguido de biópsias em casos suspeitos e tratamentos dos casos confirmados. Esses pesquisadores, no estudo, divergiram da necessidade de biópsias e cirurgias, procedimentos invasivos de importantes comorbidades,

Para o professor Elmo Barreiro, médico urologista, os “tabus” em relação ao diagnóstico do câncer de próstata vêm sendo resolvidos com apoio de familiares exigentes e com o incentivo de campanhas de orientação. (Foto: Arquivo Pessoal)

e que, pelas provas encontradas, concluíram que rastreamentos não diminuem a mortalidade de homens, pois existem alguns tipos de tumores prostáticos, chamados indolentes, que não necessitariam de intervenções de risco, pois que não levam a morte do homem.

Apesar das discussões acadêmicas, ainda hoje utilizam os rastreamentos ativos para diagnóstico desse tipo de câncer, pois entendem, sem dúvidas nenhuma, que o Adenocarcinoma Prostático é uma preocupação de desdobramento econômico e social para os sistemas de saúde pública, em todo o mundo, muito representativo nas estatísticas de incidência e mortalidade entre homens acima da 5ª década. Estamos na espera de que a ciência identificará realmente quais os casos de câncer da próstata devam ser abordados para rastreamentos e tratamentos definitivos.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de próstata representa quase 30% dos casos de câncer no homem. Diante desse percentual, é possível dizer que muitos podem desenvolver a doença?

Elmo Guimarães Barreiro: Segundo o Inca, o câncer prostático para este ano de 2021, no Brasil, representará 65.800 casos novos, com 13.500 mortes, uma preocupante marca de um caso de câncer prostático a cada dois minutos e uma morte a cada 19 minutos. Ainda mais, um em cada seis homens brasileiros terá o câncer prostático durante a sua vida. Portanto, esses dados chamam a atenção da população masculina quanto à incidência dessa doença que somente pode ser curada quando diagnosticada em sua fase inicial, pelos exames chamados preventivos, PSA e toque retal.

Como algumas outras doenças, o câncer de próstata é, também, uma “doença silenciosa”? Em quais sintomas devemos estar atentos?

“O câncer prostático deve ser diagnosticado em sua fase inicial, na qual se encontraria ainda em um pequeno e localizado grupo de células glandulares da próstata, sem expandir para outros órgãos”, salienta o urologista.

Elmo Guimarães Barreiro: O câncer prostático deve ser diagnosticado em sua fase inicial, na qual se encontraria ainda em um pequeno e localizado grupo de células glandulares da próstata, sem expandir para outros órgãos. Assim sendo, o PSA e o toque retal são imprescindíveis para esse momento. Na exceção, os poucos casos de tumor avançado, sem chances de cura, os pacientes apresentariam principalmente os sintomas de retenção urinária, dores ósseas das metástases, queda do estado geral e emagrecimento acentuado.

Não se espera que portadores tenham sintomas para essa patologia maligna, em que, na grande maioria dos casos, os sintomas urinários, como o jato fraco, o esforço para urinar, aumento da frequência diurna e noturna para urinar, a urgência para urinar e resíduo pós-micção, seriam manifestações de uma outra doença, a Hiperplasia Prostática Benigna, com raríssima chance de mortalidade, que seria tratada com medicamentos e cirurgias específicas.

É possível prevenir esse tipo de câncer? De que forma?

Elmo Guimarães Barreiro: Muito se estudou sobre o uso de substâncias como o selênio, vitamina E, Ômega 3, os antioxidantes e estudos com o licopeno, encontrado em frutas vermelhas como goiaba, tomate, além de salmão, como preventivo para esse tipo de câncer, com produção de medicamentos, mas se verificou com limitados efeitos preventivos satisfatórios.

Em contrapartida, sabe-se que fatores de risco são: o tabagismo, a ingestão excessiva de álcool e uma dieta rica em gorduras e carnes vermelhas, que influenciam sobremaneira a ocorrência de tumores na próstata. Assim, podemos dizer que, com limitações de preveni-lo com as medidas dietéticas e medicamentosas, o preventivo mais eficiente seria diagnosticar o câncer em estágio inicial e propor a chance de cura do doente.

O câncer de próstata também atinge pessoas jovens? E, nesse caso, jovens com histórico na família também devem ficar atentos ao diagnóstico precoce e, ainda mais, buscar hábitos para prevenir a doença?

Elmo Guimarães Barreiro: Casos específicos de pacientes que procuram o preventivo, sendo da raça negra e com casos familiares de câncer prostático, estes devem iniciar exame mais cedo, com 40 anos de idade em vez de 45 anos, como preconizado. Pacientes com casos de tumor prostático familiar aumentam em 5 vezes as chances de contrair a doença em relação à população sem casos familiares. Estudos têm demonstrado que mutações em alguns genes BRCA 1 e 2 aumentam a chance de 3 a 8 vezes de adquirir o câncer prostático em relação aos não portadores desse gene.

Também sugerimos, nestes casos, praticar atividades físicas, manter dieta balanceada, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo e, principalmente, submeter aos exames anuais de saúde da próstata.

O exame preventivo ainda é um tabu? Anedotas nesse sentido são bem comuns em certos meios, a abordagem desse assunto como “piada” contribui para ampliar a resistência de algumas pessoas a procurar um médico?

Elmo Guimarães Barreiro: Existem mitos em relação ao câncer da próstata, junto disso temos a resistência de homens que se baseiam em desconstruções de ideias sociais de verdades sobre esse mal. Por outro lado, sempre existe a promoção e conscientização pelo medo e o estigma social da “doença maligna”. Acreditamos que esses tabus vêm sendo resolvidos com apoio de familiares exigentes, como esposa e filhos, e com o incentivo de campanhas impactantes de esclarecimentos sobre essa muito frequente e temível doença do homem.