Pesquisadora da UNIFAL-MG investiga uso de psicodélicos para assistência em saúde de pacientes graves; estudo de revisão bibliográfica aponta efeitos terapêuticos promissores para a área de cuidados paliativos

Revisões sistemáticas na literatura científica investigam o uso de psicodélicos, como LSD (dietilamida do ácido lisérgico) e ayahuasca, bebida produzida pela combinação entre a videira Banisteriopsis caapi e outras plantas, para o tratamento em cuidados paliativos, na busca por atenuar sofrimento físico e mental de pacientes com doenças graves. A pesquisadora Ana Cláudia Mesquita Garcia, professora da Escola de Enfermagem da UNIFAL-MG, figurou como autora de um desses estudos, desenvolvido em parceria com o biólogo Lucas Oliveira Maia (Unicamp) e Yvan Beaussant (Escola de Medicina Harvard). 

O estudo, publicado no periódico científico Journal of Pain and Symptom Management (JPSM), indica efeitos positivos em relação ao uso de terapias psicodélicas assistidas no controle de sintomas físicos, sociais e, principalmente, psicológicos e espirituais dos pacientes. Os efeitos adversos, conforme os resultados observados, se mostraram de natureza física e/ou psicológica, de intensidade leve a moderada, transitórios e autorresolutivos.

Segundo a Profa. Ana Cláudia Mesquita, os resultados da pesquisa são animadores. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Há evidências que demonstram que as terapias podem contribuir para a redução do sofrimento emocional com efeitos psicológicos positivos e diminuição dos sintomas psiquiátricos. No que diz respeito à experiência espiritual/existencial, análises relataram uma redução considerável no medo da morte”, relatou a Profa. Ana Cláudia Mesquita. 

Outros efeitos foram observados após experiência psicodélica mística, com aumento da serenidade, paz e tranquilidade, no caso do uso de LSD. “A experiência mística induzida pela psilocibina mediou o efeito terapêutico dessa substância na ansiedade e na depressão. Além disso, há evidências de melhora nos indicadores relacionados ao sentido da vida e otimismo, diminuição da desmoralização relacionada ao câncer e desesperança, redução do sofrimento existencial e melhora do bem-estar espiritual e do comportamento em relação à morte”, acrescentou a docente. 

A análise dos pesquisadores incluiu ensaios controlados randomizados e não randomizados presentes em periódicos científicos revisados por pares, mediante busca abrangente nas principais bases de dados, como Web of Science, Scopus, Cochrane Library, PsycINFO, PubMed, CINAHL e EMBASE. Foram incluídas 20 pesquisas na revisão, de acordo com os critérios de elegibilidade adotados, abarcando um total de 640 participantes em estudos publicados de 1964 a 2021, sendo 75% pessoas com diagnóstico de câncer, conforme destacou o jornal Folha de São Paulo.

Para o desenvolvimento da pesquisa, não houve limitações quanto ao ano ou idioma de publicação, e todo o protocolo foi preparado de acordo com as diretrizes que orientam o planejamento metodológico e o relato de estudos de revisão sistemática. “Buscamos desenvolver este estudo a partir de um método rigoroso, e ficamos satisfeitos em perceber que isto foi reconhecido pelos revisores que avaliaram nosso estudo durante o processo de revisão por pares realizado pelo Journal of Pain and Symptom Management. Cabe destacar, também, que os resultados de nossa pesquisa são animadores, indicando que as terapias assistidas por psicodélicos podem ser uma possibilidade terapêutica nesse cenário”, pontuou. 

No entanto, embora promissora, a nova modalidade terapêutica em potencial, segundo a pesquisadora, demanda novos estudos sobre a temática, bem como sobre triagem, preparação e protocolos das terapias. “É imprescindível a realização de pesquisas futuras para aprofundar o conhecimento sobre esse assunto, principalmente estudos randomizados com metodologias rigorosas, para avaliar a eficácia e segurança das terapias propostas. Como qualquer outra intervenção em saúde, farmacológicas ou não, as terapias assistidas por psicodélicos têm indicações específicas e não são indicadas para todos, além do fato de não serem uma solução mágica que resolverá todo e qualquer problema apresentado das pessoas com doenças graves, por exemplo”, acrescentou a docente da UNIFAL-MG. 

No momento, os pesquisadores estão desenvolvendo um projeto de pesquisa mais amplo, que tem como foco avaliar o efeito de substâncias psicodélicas sobre a angústia existencial vivenciada por pessoas com doenças graves. “Estamos nas etapas iniciais desta proposta, que prevê estudos observacionais e, posteriormente, estudos de intervenção”, completou a pesquisadora Ana Cláudia Mesquita. 

O interesse por parte da comunidade científica acerca do potencial terapêutico das substâncias psicodélicas no contexto da saúde, especialmente em relação ao manejo de questões psicológicas e emocionais de pacientes graves, voltou a acontecer entre o final do século 20 e início do século 21, na Universidade Johns Hopkins, situada em Baltimore, Maryland, nos Estados Unidos. 

Leia o artigo completo no link: O Potencial de Terapias Assistidas por Psicodélicos para Controle de Sintomas em Pacientes Diagnosticados com Doenças Graves: uma Revisão Sistemática