“Acredito sinceramente que, quando construímos as coisas coletivamente, podemos avançar mais, com mais qualidade, além de ir mais longe”, ressalta o professor Sandro Amadeu Cerveira, reitor da UNIFAL-MG

“Reitor” é um cargo eletivo nas Universidades Federais brasileiras. O processo, que deve seguir a legislação e ser normatizado internamente, varia entre instituições. Porém, o ponto comum é que o dirigente máximo é indicado pelo  Conselho Superior em lista tríplice. Ou seja, independentemente do formato processo de consulta à comunidade, os componentes da lista tríplice são indicados pelo órgão máximo das instituições e, a partir disso, a Presidência de República nomeia o reitor. Na UNIFAL-MG, o processo de escolha da nova reitoria iniciou em setembro de 2021 e o professor Sandro Amadeu Cerveira, reitor escolhido pela comunidade, foi nomeado no dia 21 de março de 2022. Após a solenidade de posse, realizada em 08/04, a Dicom conversou com o reitor reconduzido para o quadriênio de 2022-2025. Confira a entrevista.

Professor Sandro Amadeu Cerveira foi o mais votado na consulta a comunidade. (Foto: Ivanei Salgado/Dicom)

O processo de nomeação para reitor da UNIFAL-MG passou por três fases: consulta à comunidade, lista tríplice e nomeação pela Presidência da República. Mesmo não havendo uma vinculação entre a consulta à comunidade e lista tríplice, como o senhor vê esse processo de consulta, o qual tem participação de discentes, docentes e técnicos? 

A consulta à comunidade faz parte da tradição democrática das universidades brasileiras, que têm um formato republicano no qual se valoriza o debate público expresso em diferentes estruturas colegiadas, em contraste com o modelo mais “monárquico” das empresas privadas.  O processo de consulta cumpre, todavia, mais de uma função. 

Em primeiro lugar, claro, vem a questão da legitimidade. Ter o apoio da coletividade, de todos os segmentos que você mencionou para as ideias, para os projetos apresentados, além do respeito à comunidade, é muito importante para o próprio processo posterior de tomada de decisão, mudanças e construção de processos. 

“Acho relevante também destacar que um processo de consulta à comunidade é um momento importante para que as pessoas que se apresentem sejam questionadas em suas ideias, credenciais e trajetórias”.


Acho relevante também destacar que um processo de consulta à comunidade é um momento importante para que as pessoas que se apresentem sejam questionadas em suas ideias, credenciais e trajetórias. Sendo a comunidade plural, haverá também uma pluralidade de possibilidades de questionamentos, os quais são muito importantes justamente por tocar em variados aspectos. 

Por fim, entendo que esse momento é também uma excelente oportunidade de debate público em torno das ideias, concepções e futuros em relação ao que a comunidade quer para si. Não se trata apenas de escolher esse ou aquele nome, mas também, e talvez principalmente, poder discutir e deliberar coletivamente a respeito de qual universidade queremos ser. 

Em nossa Universidade, tivemos essa oportunidade de conversar e debater muito, apesar das restrições da pandemia, e, com o sistema eletrônico de votação, tivemos uma participação muito significativa expressando a vontade de técnicos, técnicas, estudantes e docentes, de forma cristalina. 

A sua campanha teve como mote: “Seguir juntas e juntos, para seguir avançando”. A escolha desse lema tem a ver com a proposta de gestão? 
Exatamente. Acredito sinceramente que, quando construímos as coisas coletivamente, podemos avançar mais, com mais qualidade, além de ir mais longe. Em nosso primeiro mandato, procuramos fortalecer as diferentes formas de participação, como o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) participativo, por exemplo. Buscamos, também, respeitar e valorizar os colegiados em cada uma das suas especificidades. 

O enfrentamento da pandemia e demais adversidades é um outro bom exemplo. Procuramos, sempre com muita franqueza, respeito mútuo e  transparência, discutir e ouvir antes de tomar as difíceis decisões que foram necessárias.  

Para o professor Sandro Amadeu Cerveira, o trabalho coletivo contribui para o desenvolvimento da UNIFAL-MG. (Foto: Ivanei Salgado/Dicom)

No programa de gestão da sua campanha, percebe-se uma perspectiva de manter e ampliar os espaços de diálogo com órgãos colegiados, direções de unidade, com os fóruns representativos das instituições de ensino superior e com o Ministério da Educação.  Para o processo de construção e consolidação de uma universidade, essa participação e esse esforço coletivo são fatores determinantes de sucesso e conquistas? 

É fundamental que a proposta de gestão seja apresentada e aprovada pela maioria da comunidade, mas não é suficiente. A participação precisa ser contínua, de maneira a trazer a experiência do dia a dia, de cada local de atuação. Assim, as mudanças realizadas pela gestão podem atender de forma mais ampla, chegando a locais não explorados na campanha, ou mesmo a “pequenos” problemas que, quando corrigidos, causam conforto não calculado. Não há como avançar sem o apoio e atuação da comunidade. 


Percebemos que a participação discente é muito importante nas decisões da gestão da Universidade. Porém, aparentemente, essa participação ainda soa modesta diante do potencial. Como a reitoria pretende ampliar os espaços de participação dos discentes nos órgãos colegiados da UNIFAL-MG? 

Vivemos um momento de mudança nos processos de participação democrática e precisamos decifrar esse enigma. Alguns falam de uma crise na cultura democrática representativa expressa no enfraquecimento das entidades sindicais, na baixa adesão de jovens às eleições, no grande número de votos brancos e nulos. Por outro lado, os que apontam para a aparente igualdade de oportunidade de participação no debate público via redes sociais, muitas vezes, desconsideram que isso se dá em meio a processos de fragmentação e controle por parte das grandes corporações por meio dos famosos algoritmos. Confesso que tem também me preocupado uma certa reificação do senso comum, que não deve ser confundido com o bem comum ou mesmo a expressão da “vontade coletiva”. 

“É fundamental que a proposta de gestão seja apresentada e aprovada pela maioria da comunidade, mas não é suficiente. A participação precisa ser contínua, de maneira a trazer a experiência do dia a dia, de cada local de atuação”.


Temos, antes de qualquer coisa, buscado o diálogo com as formas de organização coletiva dos estudantes em suas formas institucionais como o DCE, DAs e CAs, pois reconhecemos o protagonismo e a legitimidade destes. Para além disso, estamos atentos a todas as manifestações que chegam até nós de diferentes formas e modos de organização coletiva dos estudantes. 

Nesses quatros anos como dirigente máximo da UNIFAL-MG, algumas situações podem ser consideradas como desafios e provações para a Universidade?  

Acredito que só teremos uma dimensão melhor dos desafios enfrentados com o passar do tempo, mas, olhando retrospectivamente, podemos dizer que enfrentamos provações e desafios históricos. 

Todo o período da gestão foi feito com um acentuado declínio orçamentário. Para termos uma ideia, imagine que uma família já com recursos enxutos tivesse seu orçamento cortado pela metade. Essa foi a nossa realidade desde o início da gestão, com nosso orçamento discricionário, ou seja, aquele que usamos para pagar o pessoal terceirizado, para as despesas como água, luz, materiais de laboratório, além de toda a manutenção da Instituição. Ano após ano, a UNIFAL-MG e demais instituições federais de ensino superior viram seus recursos de custeio e capital minguarem, e isso não pode ser naturalizado. Sentimos os impactos no próprio funcionamento de setores e serviços que são fundamentais para o funcionamento da Universidade. Sentimos isso no Ensino, na Pesquisa e na Extensão. 

Somado a isso, veio a terrível pandemia de covid-19 com todo seu impacto na vida e na saúde das pessoas e também nas instituições. Enfrentamos esse desafio com diálogo e proatividade, mas não foi banal implantar o Ensino Remoto Emergencial, assim como está sendo muito difícil e trabalhosa a retomada das atividades presenciais. 

Além de uma série de outros obstáculos, enfrentamos a não realização da avaliação quadrienal da CAPES com significativos impactos para os Programas de Pós-graduação (PPGs). 

Isso tudo em meio às dificuldades e aos desafios cotidianos de qualquer universidade. De forma resumida, podemos dizer que foram quatro anos de gestão de crise, o que cobrou um alto preço em termos dos projetos e metas que tanto gostaríamos de ver em nossa Universidade. 

Mesmo assim avançamos. Em todas as áreas tivemos melhorias significativas reconhecidas pela comunidade. As avaliações externas nas quais tivemos melhorias, tais como transparência, graduação, sustentabilidade entre outras, são apenas a ponta do iceberg das mudanças que, em meio a todas as crises, foram e seguem implantadas. 

 Sandro Amadeu Cerveira também foi o mais votado no processo de formação da lista tríplice.  (Foto: Ivanei Salgado/Dicom)

Em se tratando da pandemia, como o senhor avalia a atuação da UNIFAL-MG no enfrentamento e na busca por soluções impostas pela covid-19? 

Nossa comunidade atuou de forma rápida, eficiente e democrática diante dessa tragédia que se abateu sobre todos e todas nós. 

Primeiro, quero destacar que agimos com celeridade. Se não fomos mais rápidos em algumas questões é porque estas não dependiam apenas de nossas decisões. Um exemplo foi o próprio Ensino Remoto que implantamos, mediante decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), antes de qualquer universidade, e que foi a base para o Ensino Remoto Emergencial, que depois foi generalizado. Também entregamos rapidamente um plano de trabalho para os recursos de enfrentamento à pandemia, o que permitiu que investíssemos de forma significativa em pesquisas para o enfrentamento da covid-19, bem como investimentos no diagnóstico com testes, na prevenção com os EPI, além das bibliotecas digitais, solução na qual também fomos pioneiros.

Fomos rápidos na assistência aos estudantes mais carentes, com a compra de computadores, por exemplo. Fomos também ágeis na construção de soluções para a Pesquisa e a Pós-Graduação. 

Para o funcionamento do Ensino, mas também de outras áreas, implantamos o G-Suite (Gmail, Class, Meet), ampliamos fortemente a infraestrutura do Moodle e garantimos a informatização e desburocratização de vários processos administrativos, permitindo continuidade remota, criação da cultura das lives, assinatura eletrônica de documentos, além das próprias eleições on-line que deram segurança para as seleções das lideranças de diferentes setores. 

“Nossa comunidade atuou de forma rápida, eficiente e democrática diante dessa tragédia que se abateu sobre todos e todas nós”.


E o orçamento? Mesmo em um cenário de dificuldades orçamentárias, é possível continuar investindo e oferecendo educação pública de qualidade? Essas restrições também propiciam um repensar na utilização dos recursos públicos? Afinal, a tendência é não haver recomposição de orçamento… 

As dificuldades orçamentárias fizeram necessários cortes e ajustes no funcionamento da Universidade, bem como o empenho junto ao MEC e a busca por recursos via emendas parlamentares que procuramos usar principalmente na solução de problemas que estrangulam nosso custeio. Um exemplo disso foi a implantação, com o apoio da CEMIG, de um significativo plano de eficiência energética e de usinas fotovoltaicas. Esses investimentos já trouxeram resultado reduzindo de maneira significativa nosso custeio com energia elétrica.

Mas não ficamos nisso, com os recursos de capital que chegaram, procuramos investir de forma estratégica em busca de solução de problemas históricos de nossa Universidade, como a construção da Clínica de Odontologia, o novo Biotério e a criação e melhoria de espaços da Instituição, visando otimizar ainda mais os espaços para as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão. 

Com o apoio da presidência da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e do Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Superior (Sesu), fomos protagonistas na construção de um projeto que veio ajudar as universidades sem hospitais, visando minimizar as dificuldades enfrentadas por essas instituições na oferta de campo de prática para seus estudantes. 

Criamos também soluções para a racionalização e eficácia do trabalho, aprovamos o Programa de Desenvolvimento Institucional – o qual, esperamos, nos ajudará com a solução de questões estratégicas -, implantamos o registro de preços, que propiciou aquisição de materiais para pesquisa, mesmo quando da liberação tardia de recursos contingenciado. A lista é muito grande, mas o que quero destacar é que fizemos o nosso “dever de casa”, e isso cria inclusive um paradoxo, que é algumas pessoas pensarem que exageramos nas dificuldades. A crise foi e é real e as soluções criadas mitigaram sim seus efeitos, mas, se não houver recomposição orçamentária como temos dito coletivamente em vários fóruns, não haverá eficiência administrativa que dê jeito. O risco de comprometimento do funcionamento de setores importantes é real e a necessidade de recomposição é urgente. 

A recondução para o quadriênio 2022/2026 é mais um fortalecimento na perspectiva de seguir os objetivos e metas traçadas no PDI 2021-2025?

A construção do PDI 2021-2025 foi muito dialogada, e nele estão os anseios cruciais de nossa comunidade. Sim, creio que a expectativa é de que esses objetivos não sejam meras formalidades. Nossa comunidade quer crescer, quer avançar, quer buscar a excelência no Ensino, na Pesquisa e na Extensão. Sabemos também que os obstáculos são muitos e que a ameaça da não recomposição orçamentária mencionada anteriormente é real. Estamos atentos e ativos em todas as frentes na defesa da nossa Universidade e de toda nossa rede. 

Uma coisa que já estamos fazendo é acompanhar as metas do nosso PDI, pois precisamos nos lembrar e nos cobrar dos passos necessários para alcançar nossos objetivos. Não basta dizermos que temos objetivos; é preciso estabelecer metas e acompanhá-las regularmente para que o plano não seja letra morta. 

No plano de gestão, há um destaque para a Educação a Distância, com proposta de ampliação de disciplinas em EAD e na oferta de cursos EAD. Com a experiência que estamos vivendo com a pandemia, há uma possibilidade de crescimento dessa modalidade de ensino? 

Embora seja necessário distinguir o ensino remoto do EAD , até pelo fato de o primeiro ser emergencial, creio que a cultura da educação mediada por tecnologias avançou muito com essa experiência forçada que vivemos. Nesse sentido, creio além dos nossos esforços na oferta de cursos EAD lato sensu, o fato de estarmos com um projeto no piloto do Reuni Digital, que vai permitir o amadurecimento e fortalecimento de nossa Instituição nas esferas relativas à Educação a Distância. Um desafio importante que temos pela frente é não perdermos essa janela de oportunidade de manter e ampliar a presença das ferramentas tecnológicas em nossas disciplinas regulares. 

Também, no plano de gestão, uma das propostas no campo da pesquisa é a ampliação de ações de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, por meio de editais e busca de parcerias com empresas e órgãos públicos. Como a Reitoria e a PRPPG vão atuar nessa frente? É preciso ampliar as parcerias com entidades públicas e privadas para o desenvolvimento da pesquisa na Universidade? 

Sim, é de fundamental importância as parcerias tanto com entidades públicas quanto com privadas. Essas trocas de experiências auxiliam no desenvolvimento técnico-científico das universidades como um todo. No último quadriênio, tivemos um aumento significativo com as nossas parcerias e, apesar da pandemia, alcançamos importantes resultados, como no caso do Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico para Inovação (MAI/DAI-CNPq), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Através de esforços conjuntos da PRPPG e da Agência de Inovação para mapeamento de pesquisadores com potencial DTI, manutenção de bolsas de Iniciação Científica para desenvolvimento tecnológico, além de captação de recursos em editais junto a órgãos de fomento e empresas. 

Esse investimento em desenvolvimento tecnológico e inovação também será uma forma de fortalecimento de ações de inovação, empreendedorismo e incubação de empresas ?

Sim, com investimento será possível aprimorar os trabalhos por meio do fortalecimento da mão de obra, capacitação da equipe e, principalmente, elaboração de ações visando expandir o conhecimento tecnológico, inovador e empreendedor na Universidade como um todo.

Dentre outras ações, visa-se à criação de editais institucionais para fins de obtenção de apoio financeiro para criação de maior interação entre aluno, servidor e empresas (inclusive Empresas Juniores). Também visa-se à criação de Edital e/ou outras ações para que aceleradoras e/outras instituições (privadas e/ou públicas) possam desenvolver trabalhos em conjunto no intuito de transformar pesquisas científicas em produtos tecnológicos.

Importante mencionar que a parceria com entidades públicas e privadas só tem a somar para o desenvolvimento da pesquisa na Universidade, seja na parte de investimentos, seja na troca de experiências. Relembrando que, neste ano, tivemos a incubação da Empresa Icro Digital na NidusTec. Trata-se de uma startup por natureza e uma das empresas da ICRO GROUP, presente no mercado há 67 anos, com grupo especializado em gestão de ativos físicos industriais e implantação de programas de manutenção preditiva, monitorando, atualmente, a performance de máquinas em fábricas situadas no Brasil e Moçambique. No plano estratégico para 2022, tem prevista a atuação nos mercados do Uruguai, Portugal e Espanha. Isso demonstra a possibilidade de reconhecimento do nome da Universidade não só em âmbito nacional, mas também internacional, decorrente de parcerias formadas.

A necessidade de adequação durante a pandemia mostrou a importância do investimento em tecnologias para Ensino Remoto e sistemas de integração administrativa e acadêmica. As iniciativas nessa área continuarão na gestão 2022-2026?

Sem dúvida! Só para lembrar alguns exemplos, nós investimos nas bibliotecas digitais e no acompanhamento do PDI via plataforma ForPDI e adquirimos ferramentas de gestão, como o acesso à Plataforma Stela Experta para auxílio na gestão dos programas de pós-graduação, além do Gpesq, sistema institucional que integra desde a submissão das propostas de pesquisa, planos de trabalho e relatórios, até certificados (sem tramitação pelo SEI – garantido o sigilo para pesquisadores), entre outros.

Além disso, criamos sistemas digitais para a Assistência Estudantil, ingresso on-line, Diploma Digital, Clínica de Especialidade Médicas, Comissão de Ética no Uso de Animais  (CEUA) e outros. 

Agora estamos prestes a implantar um sistema de telemedicina para ampliar e facilitar o acesso dos servidores ao Centro Integrado de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalho (CIAST), melhorando o acesso de nossos colegas de Poços de Caldas e Varginha a esse importante serviço. Estamos também trabalhando na adesão da Universidade ao teletrabalho, o que vai permitir que os ganhos obtidos com o trabalho remoto sejam mantidos, e que possamos avançar para uma gestão do trabalho focada na entrega. 

Queremos também construir o “Minha UNIFAL-MG”, um aplicativo que vai centralizar os serviços ofertados a servidores e estudantes, reformular e aperfeiçoar o CAEX, integrar nossos  sistemas locais com os sistemas do governo, a fim de dar mais agilidade a uma séries de processos e modernizar os sistemas integrados – melhorando, assim, a responsividade e acessibilidade -, centralizar e agilizar ainda mais os dados de transparência, criar sistemas que facilitem e agilizem a gestão das bolsas e estágios e painéis de business intelligence, que ajudarão no processo de tomada de decisão. 

“O teletrabalho é um importante avanço na modernização e organização do trabalho. Ele pode ser importante ferramenta para superar uma visão já ultrapassada de trabalho,  ancorada na ideia de presença a um determinado local, para uma visão focada na entrega”.

Com base ainda no plano de gestão, uma proposta é fomentar editais de interface entre a Extensão Universitária e a Pesquisa. Essa ação é uma forma de fortalecimento da indissociabilidade entre Ensino-Pesquisa-Extensão, base do tripé das universidades?

Sim, com esse estímulo poderemos fortalecer a ação transformadora da Pesquisa sobre os problemas sociais e estabelecer uma relação de diálogo entre pesquisadores e sociedade.

Os editais mencionados precisam ser a ponta do iceberg. Nossa visão é que a Extensão Universitária seja vivenciada de forma mais orgânica em nossa Universidade. Vale lembrar que estamos já avançamos no processo de curricularização da Extensão, o que também vai contribuir nesse sentido. 

A assistência estudantil é uma possibilidade de manutenção das pessoas em situação de vulnerabilidade social na Universidade. Qual será a linha de ação da sua gestão em relação à assistência estudantil na UNIFAL-MG?

De fato, os dados mostram que a assistência estudantil está fortemente relacionada com a permanência e o combate à evasão. Nesse sentido, para além de uma questão de justiça, a assistência estudantil cumpre um papel estratégico no cumprimento da finalidade da universidade. Por isso, trabalhamos forte até o momento para organizar, modernizar e tornar mais eficiente e transparente o processo de assistência aos estudantes. Recentemente, demos mais um passo para fortalecer as políticas de ações afirmativas com os editais de Iniciação Científica, e nossa política de ações afirmativas para a Pós-Graduação já foi enviada ao Conselho Universitário (Consuni) para aprovação. 

Seguiremos, junto com toda a rede, lutando para ampliação dos recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), bem como para o estabelecimento de critérios mais equilibrados para sua distribuição. 

Umas das ações iniciadas na gestão 2018-2022, e que em 2021 foi aprovada no Consuni, é o teletrabalho. Como o senhor e a Reitoria veem essa inovação na gestão universitária? Qual a previsão de início?

O teletrabalho é um importante avanço na modernização e organização do trabalho. Ele pode ser importante ferramenta para superar uma visão já ultrapassada de trabalho,  ancorada na ideia de presença a um determinado local, para uma visão focada na entrega. 

Na UNIFAL-MG, existem muitas atividades administrativas que apresentam o perfil exigido para a aplicação do teletrabalho. Com o acesso às ferramentas on-line, para essas atividades será desnecessária a presença física do funcionário para exercer sua atividade. Desta forma, o teletrabalho trará uso mais eficiente dos espaços físicos, bem como melhoria na condição de trabalho, sem falar no aumento de eficiência observado em diversos setores com tal prática no período de pandemia. Estamos trabalhando nos ajustes finais para que em breve possamos avançar nessa importante área. 

 Em se tratando de sustentabilidade ambiental, a proposta é ampliar as Usinas Fotovoltaicas em busca de 100% de autonomia energética, a exemplo do campus Varginha?

Avançamos muito na questão da sustentabilidade em nossa Universidade. Você mencionou a autonomia alcançada para o campus de Varginha, mas também implantamos usinas em Alfenas, que, somadas com as de Poços e o investimento que fizemos em eficiência energética, já podemos falar em uma economia global de aproximadamente 30%.  Além disso, tivemos a implantação do Sistema Regenerativo Urbano em Varginha e a Floresta de Bolsa em Poços; a adesão à Agenda A3P; a ampliação de salas de videoconferência, diminuindo viagens; e a adesão ao ranqueamento do Green Metrics. Há muitas ações ainda a se fazer, baseadas no PDI, que tem um eixo temático específico de sustentabilidade, e no Plano de Logística Sustentável (PLS). Mas, voltando à pergunta, sim, alcançar 100% de autonomia energética é um objetivo, reconheço que muito ousado, mas importante pelo qual vamos trabalhar nesses próximos quatro anos. 

“Acredito sinceramente que só é possível construir algo significativo se fazemos isso juntos, de “mãos dadas” […]”, disse o professor Sandro Amadeu Cerveira . (Foto: Ivanei Salgado/Dicom)

Nós tivemos o exemplo de fomento internacional em iniciativas da UNIFAL-MG, por meio do Museu das Rexistências, que recebeu incentivo financeiro do UK Arts and Humanities Research Council, além de diversos convênios com universidades do exterior. É possível, por meio da Diretoria de Relações Internacionais e Interinstitucionais (DRI), buscar uma maior inserção da UNIFAL-MG no mundo e, com isso, ampliar as possibilidades de obtenção de recursos, de intercâmbio acadêmico, científico e cultural? 

Sim, desde 2018, a UNIFAL-MG, por meio da DRI, já vem buscando esse incremento da inserção internacional. Aumentamos os intercâmbios com as universidades espanholas e portuguesas. Apesar dos cortes e da pandemia, nos associamos à AULP (Associação de Universidades de Língua Portuguesa), também fazemos parte do conselho, e nossos e nossas discentes podem concorrer às bolsas oferecidas pela Associação (como a Fundación Carolina, Espanha). A DRI retornou à Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai), participando de seus editais de fomentos, em parceria com a Inovação. 

Retomaremos os debates sobre nossa filiação com os grupos Tordesilhas e Montevideo, além de buscar recursos para além dos disponibilizados pelo governo. Certamente a internacionalização foi severamente prejudicada com a pandemia. Nosso PDI exige e nós vamos trabalhar para recuperar esse tempo e fortalecer a presença da UNIFAL-MG no cenário internacional. 

Encerrando a nossa conversa, gostaríamos de deixar um espaço aberto para suas considerações e agradecimentos. E, por fim, o professor Sandro continuará acessível aos membros da comunidade universitária? 

Quero deixar registrado meu sincero agradecimento a toda a comunidade pelo apoio e reconhecimento até este momento. Sem vocês, não seria possível tudo o que conquistamos nesses anos tão difíceis. Como disse em minha fala na posse, quando digo “nós”, isso não é de forma alguma meramente retórico. Acredito sinceramente que só é possível construir algo significativo se fazemos isso juntos, de “mãos dadas”, como diz Drummond. 

Certamente que seguirei acessível aos membros da comunidade universitária, não apenas para ouvir sugestões e demandas, mas também para o diálogo franco e construtivo tão necessário a qualquer construção coletiva. Como já mencionado, queremos seguir fortalecendo os mecanismos institucionais de participação e escuta da comunidade. Não é uma casualidade que sigamos em primeiro lugar (junto com outras universidades) no portal de transparência, mas, para além do institucional, quero deixar o registro que pessoalmente acredito na importância da escuta constante de todos os setores e pessoas da nossa comunidade. Só assim poderemos seguir juntos para seguir avançando. 

Muito obrigado!

Fale com o Reitor: reitoria@unifal-mg.edu.br