Na data em que se celebra o Dia Internacional da Biodiversidade, conheça o projeto de pesquisa desenvolvido pela UNIFAL-MG que busca compreender os efeitos dos distúrbios provocados pelo homem sobre os serviços ecossistêmicos

Neste domingo, 22 de maio, comemora-se o Dia Internacional da Biodiversidade, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, com a proposta de conscientizar a população mundial sobre a importância da diversidade biológica e da preservação da biodiversidade em todos os ecossistemas. Em celebração à data, a equipe da Diretoria de Comunicação Social (Dicom) conheceu mais de perto uma das pesquisas desenvolvidas na área, na UNIFAL-MG.

“Biodiversidade no antropoceno: efeito dos agroecossistemas na conservação da biodiversidade e manutenção de funções ecossistêmicas” é o tema do projeto que envolve pesquisadores da UNIFAL-MG, UNESP, UFG e de diversas outras instituições parceiras que estabeleceram duas áreas para conduzir Pesquisas Ecológicas de Longa Duração no Corredor Cantareira Mantiqueira (PELD CCM) e no entorno da Flona de Silvânia/GO (PELD COFA).

Com a primeira fase iniciada em 2014 e segunda fase em 2020, o foco central do projeto é estudar os efeitos de distúrbios provocados pelo homem — distúrbios antrópicos —, sobre a biodiversidade e serviços ecossistêmicos. A pesquisa também tem a proposta de contribuir para um entendimento mais amplo de como a perda de habitat, a fragmentação do habitat e a matriz de agroecossistemas afetam as comunidades e as espécies.

Prof. Vinícius Xavier preenchendo diário de campo com observações sobre as espécies registradas, ao lado do material de fixação e conservação de exemplares. Algumas espécies para serem identificadas corretamente precisam ser sacrificadas e comparadas com material já tombado em coleções científicas. (Foto: Arquivo/Projeto)

Os trabalhos de campo são realizados no estado de São Paulo, onde se concentra o Corredor Cantareira Mantiqueira, na região de Bragança Paulista, Itatiba, Atibaia, Mairiporã, São Paulo e Joanópolis; e no estado de Goiás, na região da Flona de Silvânia. “O estado de São Paulo possui um histórico antigo de ocupação humana, por outro lado, o estado de Goiás, atualmente é uma das principais regiões do agronegócio no Brasil, tem um histórico mais recente de ocupação humana. Desta forma, a comparação dos efeitos dos agroecossistemas sobre a biodiversidade e serviços ecossistêmicos nestas duas regiões pode contribuir para um melhor entendimento dos efeitos dos distúrbios antrópicos e guiar estratégias de manejo, conservação e restauração’, explica o pesquisador Vinícius Xavier da Silva, professor do Instituto de Ciências da Natureza (ICN) da UNIFAL-MG, envolvido no projeto. 

Conforme o professor, embora a pesquisa tenha gerado alguns trabalhos publicados sobre o efeito da paisagem na Floresta Atlântica, poucos trabalhos foram feitos no Cerrado e nenhum trabalho analisou comparativamente os dois biomas ou realizou uma análise de vários grupos diferentes de organismos e em múltiplas escalas. “Nossa proposta irá integrar dados genéticos, ecológicos e sociais para entender os fatores direcionadores da perda de biodiversidade no Antropoceno, que é o período geológico atual em que vivemos, mas que começou em 1.800 com a Revolução Industrial”, conta. Segundo ele, o Antropoceno é caracterizado pela forte influência que a espécie humana exerce sobre o Planeta em decorrência da forma como utilizamos seus recursos.

Prof. Rogério Grassetto reproduzindo vocalizações gravadas de primatas à espera da resposta de animais que eventualmente estejam na mata. Essa técnica denominada “playback” também é utilizada para aves e anfíbios, outros grupos animais que usam muito os sons para se comunicar. (Foto: Arquivo/Projeto)

Entender como as mudanças na paisagem causadas pela ocupação humana afetam o funcionamento dos ecossistemas, as comunidades e as populações biológicas, tanto sob o ponto de vista ecológico quanto genética, é um dos objetivos da investigação das equipes. Além disso, os pesquisadores participantes também estão interessados em entender as aplicações do conhecimento para o manejo, incluindo restauração de ecossistemas, de serviços e funções ecossistêmicas em paisagens dominadas por agroecossistemas.

“As equipes não estão focadas em grupos ou sistemas específicos, como exemplo, invertebrados, vertebrados, sistemas terrestres ou aquáticos, mas sim, nas questões relacionadas às mudanças na paisagem em diferentes sistemas e utilizando abordagens experimentais, estatísticas e simulações”, diz.

Com a expertise na área genética, a equipe de Goiás se concentra na análise das populações e genética na escala de paisagem, ecologia de comunidades e de populações, restauração e serviços ecossistêmicos. Já a equipe de São Paulo e pesquisadores associados das universidades de outros estados focam no mapeamento, sensoriamento remoto, ecologia de paisagens, ecologia do movimento, análise espacial, biodiversidade de diferentes grupos e processos ecológicos como frugivoria, predação de sementes, polinização, controle de pragas, entre outras.

Mestrando Luiz Fernando Ferreira, após realizar busca e coleta ativa noturna (manual) de uma perereca-da-folhagem (Phyllomedusa burmeisteri) no campo. (Foto: Arquivo/Projeto)

“Muitos artigos científicos, dissertações e teses já foram produzidos, principalmente a partir dos estudos da primeira fase do projeto Pesquisas Ecológicas de Longa Duração no Corredor Cantareira Mantiqueira, o qual resultou em mais de 30 formações de alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutoramentos, além de mais de 20 publicações em revistas internacionais”, revela o professor Vinícius Xavier.

Entre os resultados já observados, o pesquisador aponta que as influências humanas sobre os ecossistemas são extremamente complexas. “Grupos diferentes de organismos respondem distintamente para os mesmos efeitos e algumas metodologias novas de levantamento chegaram para ficar, como os gravadores autônomos que podem ser programados para gravar ruídos ambientais e vocalizações dos animais ininterruptamente ou de tempos em tempos na ausência do pesquisador”, detalha. De acordo com ele, por conta da pandemia, os levantamentos de campo especificamente desse projeto estão previstos para iniciar este ano.

O pesquisador também fala sobre as contribuições do desenvolvimento desse projeto de pesquisa para o meio ambiente e para a sociedade, como um todo. “Quando compreendemos melhor como os conjuntos de diferentes espécies de organismos são estruturados na natureza e como nossas ações influenciam esses processos naturais, podemos indicar também ações corretivas mais eficientes para corrigir nossos danos ao meio ambiente”, comenta, acrescentando que a biodiversidade do planeta já sofreu vários declínios naturais ao longo da história da Terra, mas recuperou-se.

Profa. Érica Hasui identificando uma espécie de ave com a discente Mainara Jordani. (Foto: Arquivo/Projeto)

“Essas grandes perdas de espécies foram chamadas de extinções em massa e o registro fóssil confirma que já tivemos cinco desses eventos, todos sem a presença ainda dos seres humanos neste mundo”, constata. Segundo o pesquisador, atualmente o ritmo de perda de espécies está tão elevado, que muito especialistas já mencionam que estamos vivendo a sexta extinção em massa, no entanto, a diferença é que essa é promovida, em grande parte, pela nossa própria espécie. “Projetos como este, que contam com pesquisadores de diversas instituições e com expertises diferenciados podem ajudar a diminuir esse ritmo acelerado de perda da biodiversidade”, garante. 


Projeto de pesquisa: Biodiversidade no antropoceno: efeito dos agroecossistemas na conservação da biodiversidade e manutenção de funções ecossistêmicas
Chamada: conjunto de editais das Fundações de Amparo dos Estados de São Paulo e Goiás (FAPESP e FAPEG, respectivamente), e também do CNPq
Parcerias: UFG, UNESP, UNIFAL-MG, USP-RP, UFAC, UFSCar, UNICAMP, CENAP/ICMBio, entre outras
Coordenação: professores  Milton Cezar Ribeiro, da UNESP de Rio Claro-SP, e Rosane Collevatti, da Universidade Federal de Goiás (UFG)
Grupo de pesquisadores da UNIFAL-MG: os professores Érica Hasui, Flavio Nunes Ramos, Rogério Grassetto Teixeira da Cunha e Vinícius Xavier da Silva; os alunos de graduação do curso de Ciências Biológicas Bianca Dinis Silva, Ana Clara Machado de Souza, Ana Luiza Martins de Macedo, Julia Matallo, Lorenzo Giampaolo, Maria Eduarda dos Santos, Mariana Gonçalves, Wellington Correa, Lucas Silva Azeredo, Stephanne Kellen Bruno da Silva, Tamiris Cantelli Sardinha e Henrique Silva Cardoso Furtado, e os alunos de pós-graduação em Ciências Ambientais Luiz Fernando Ferreira (mestrado) e Bruno Adorno (doutorado)