A Matemática, muitas vezes, é encarada pelos estudantes do ensino fundamental e ensino médio como uma disciplina complicada e de difícil contextualização no cotidiano. Para tornar o aprendizado mais interessante, o projeto de extensão “Dou Conta! Dividindo dúvidas, somando conquistas” da UNIFAL-MG propõe auxiliar na construção do conhecimento, utilizando recursos digitais de intervenção atrativos e dinâmicos.
O trabalho tem sido desenvolvido pelos universitários do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia (BICE) do campus Varginha junto aos estudantes do 6º ano da Escola Estadual Brasil, do município. Quem coordena essa proposta é Michele Barbosa, doutora em Estatística e professora do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UNIFAL-MG, em parceria com a professora de Matemática da Escola Estadual, Andréia Rodrigues Monticeli.
De acordo com a coordenadora, as atividades do projeto são divididas em etapas. No primeiro momento, são realizadas reuniões semanais entre os acadêmicos bolsistas e a coordenação para elaborar os trabalhos a serem desenvolvidos junto aos alunos da escola pública. O segundo momento é quando os participantes se reúnem para a intervenção, oportunidade em que os bolsistas apresentam missões de trabalho aos estudantes, com base no conteúdo da apostila da escola. Em função da pandemia, esses encontros acontecem pelo Google Meet e são acompanhados pela professora Andréia Monticeli. Além dos encontros, os bolsistas mantêm contato com os alunos pelo WhatsApp, recurso utilizado para promover o diálogo e esclarecer dúvidas, bem como propor desafios de forma lúdica para os estudantes.
“Tudo isso se intensifica quando a coordenação se organiza junto aos bolsistas do BICE para coletar os dados da experiência que vivenciaram, o que gera discussões de pesquisa”, conta Michele Barbosa.
O projeto “Dou Conta! Dividindo dúvidas, somando conquistas” teve início em 2019, quando a professora Michele Barbosa procurou a professora Andréia Monticeli com a proposta de parceria com a Escola Estadual Brasil. “Iniciamos com os alunos do 2º ano do ensino médio, em uma viagem por vários países, fazendo o reconhecimento das moedas e do câmbio. Os alunos se envolveram tanto com o projeto, que foi assunto da apresentação do festival cultural, e premiado com 1⁰ lugar”, conta Andréia Monticeli.
Conforme a professora de Matemática, em função da pandemia, o projeto passou a ser desenvolvido on-line em 2020, fato que preocupou a coordenação quanto ao interesse dos participantes. “Tivemos receio de que os alunos não tivessem tanto interesse, mas eles nos surpreenderam e mais uma vez foi um sucesso. Apresentamos uma personagem, a Gabi, a qual os alunos ajudavam, semanalmente, em uma missão, proposta pelos instrutores da UNIFAL-MG. Gabi era dona de uma loja de artesanato e os alunos tinham que dar soluções para as dificuldades encontradas por ela na loja. O encerramento foi delicioso, comemorando o aniversário da Gabi, os instrutores levaram um bolo na casa de cada participante e trabalharam fração na última intervenção on-line, usando o bolo. Foi um arraso”, conta.
Além da experiencia de 2019 e 2020, a professora também comenta como está o trabalho em 2021, cujo tema escolhido foi “Olimpíadas de Tóquio”. “Esse ano, estamos trabalhando os esportes, pegando o gancho das olimpíadas. Temos o mascote ‘Raposinha’, que nos traz charadas e missões semanalmente, envolvendo um esporte e um conteúdo matemático ligado a ele. Os alunos estão muito empolgados, desenvolvendo a Matemática de uma maneira divertida. Eu, como professora de matemática há 20 anos, vejo nesse projeto uma maneira de levar aos meus alunos o conhecimento matemático do dia a dia, aquele que quase ninguém percebe”, conclui.
Intervenções que relacionam práticas matemáticas com o cotidiano
Conforme explica a bolsista Kamberly Rodrigues Bondi, o tema surgiu a partir de um diálogo com a professora Andréia Monticeli. “Quando ela nos repassou no que eles tinham dificuldades, resolvemos trabalhar com as Olimpíadas, por ter a dinâmica de não nos apegar apenas a um assunto e ter essa interdisciplinaridade com os esportes e mostrar que em tudo tem Matemática”, relata. “O projeto tem um rico objetivo de levar Matemática de uma forma lúdica e tirar aquele estigma de ser um ‘bicho de sete cabeças’, então nesse quesito estamos conseguindo ser positivos para os alunos durante as intervenções ou mesmo no diálogo pelo WhatsApp”, acrescenta.
Para o bolsista Guilherme da Costa Fedele, a experiência desde a apresentação do projeto aos alunos até as intervenções tem sido muito proveitosa. “Na primeira intervenção, nós apresentamos o projeto aos alunos e buscamos conhecê-los melhor, seus gostos e dificuldades. Depois disso, a cada intervenção os alunos têm se mostrado mais participativos e interessados, nos questionando, interagindo e demonstrando que realmente estão presentes, prestando atenção e interessados no que é passado. Isso ajuda muito no processo criativo do projeto, eles acabam nos dando um caminho de forma natural a se seguir”, diz.
Segundo Guilherme Fidele, acaba sendo um projeto trabalhoso, uma vez que demanda muito tempo de estudo e criação das intervenções, mas ao mesmo tempo é algo gratificante. “Vários destes alunos têm nos procurado durante a semana para questionar sobre o que foi trabalhado, sobre as missões que lhe são dadas e para nos mostrar suas criações a partir das missões. Inclusive um deles, é um pouco mais tímido, tem muita vergonha de mostrar suas criações com o grupo, mas sempre nos envia rapidamente as missões e não hesita em nós procurar para tirar dúvidas”, compartilha.
Kamberly Bondi conta que a experiência dela no projeto tem sido mais no exercício da criatividade. “Antes de chegarmos às intervenções com os alunos, fazemos uma pesquisa de esportes que para eles seriam interessantes de acordo com o que tem se mostrado até agora, e através disso fazemos vídeos, fotos e postagem com a relação do esporte e Matemática. Por mais que a criação do projeto seja fadigosa, é significante levar aos alunos, pois isso marca assim como me marcou quando eu fiz o ensino médio e a minha professora de Matemática introduzia dinâmicas”, relata, acrescentando que a metodologia ajuda na formação do aluno, motivando-os a explorarem mais a criatividade.
Tanto Kamberly Bondi quanto Guilherme Fedele afirmam que o projeto tem contribuído para todas as partes envolvidas, uma vez que além de auxiliar os alunos, também exige que eles próprios, graduandos, desenvolvam habilidades para as intervenções.
“Desde o começo, optamos por ter elementos para estreitar os laços afetivos e a importância dessa iniciativa, além de ajudar com a Matemática e muitas vezes lidar com o lado social também, já que há alunos tímidos e alunos mais agitados, o projeto afeta também os membros, pois aprendemos a ter uma didática para lidar com diferentes personalidades”, explica a bolsista Kamberly Bondi.
Guilherme Fedele acrescenta: “O projeto além de ajudar os alunos a desmistificar a Matemática, também nos ajuda, como membros do projeto, a desenvolver vários pontos, desde a questão do ensino diretamente, como a parte criativa na elaboração de elementos para as intervenções, desde o conteúdo, criações de vídeos, imagens que facilitem o entendimento dos alunos. Até mesmo na interação com os alunos, que acaba sendo a melhor parte, mesmo que de maneira remota no momento, é muito bom estar com eles toda a semana e ver que todo o trabalho da semana valeu a pena, quando o aluno mostra que está entendendo, conseguindo resolver os problemas e se mostrando interessado.”
O envolvimento dos graduandos do BICE na disciplina de Matemática e o cuidado para elaborar as dinâmicas de comunicações com os alunos chama a atenção da coordenadora. “O projeto é efetivo no sentido de que os nossos alunos podem revisitar a Matemática do ensino fundamental trazendo para a graduação os elementos que em certo ponto não eram tão perceptíveis assim de compreensão, mas que hoje eles já reconhecem um domínio, uma facilidade inclusive de se organizarem para de repente instruir um aluno do 6º ano”, comenta. “Enquanto graduandos, os bolsistas já têm um domínio de conhecimento matemático e quando encontram com os estudantes com idade aí de 11 anos, eles escolhem essa possibilidade de reconhecer que os estudantes também são detentores de conhecimentos e aí essa fusão acaba gerando um processo natural de troca e colaboração”, ressalta.
Outro aspecto positivo apontado pela professora é em relação à possibilidade de desenvolver pesquisa dentro do tema. “Nossos alunos bolsistas já encabeçaram artigos e encaminharam resumos para participações de simpósio, então isso gera experiência para os graduandos bolsistas e uma oportunidade de vivenciar a universidade de forma integral. E aí vai sair da teoria e apresentar a interação na aula, mesmo que seja uma aula virtual contribui para essa mudança inclusive no momento pandêmico, visto que contribui para esse movimento não ser tão impactante e ser algo que pode aflorar e despertar o conhecimento também”, finaliza Michele Barbosa.
Para conhecer um pouco mais sobre as atividades do projeto, basta acessar o perfil no Facebook ou Instagram.