Oficinas temáticas guiam estudantes de escolas públicas pelo caminho a ser percorrido para ingressar no ensino superior; conheça a iniciativa de um projeto do curso de Ciências Sociais da UNIFAL-MG

Giulia Simões Ferrari estudou na Escola Estadual Dr. Lauro Corrêa do Amaral de Guapé-MG, onde conheceu de perto a realidade das escolas públicas, vivenciando a fase de angústias e dúvidas próprias de estudantes do ensino médio que almejam chegar ao ensino superior. Assim como ela, Jerliane dos Reis da Veiga também cursou o ensino médio em uma escola pública de Alfenas e soube aproveitar as políticas públicas de democratização do acesso à universidade pública. Hoje, as duas são graduandas em Ciências Sociais na UNIFAL-MG, bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência (Pibid) do curso, e atuantes no projeto de extensão “Os passos do ensino médio até o ensino superior”, desenvolvido na Escola Estadual Dr. Emílio da Silveira em Alfenas e também na Escola Estadual Dr. Lauro Corrêa do Amaral de Guapé.

A iniciativa do Pibid/Ciências Sociais busca ajudar jovens a compreenderem todos os mecanismos que envolvem o acesso ao ensino superior por meio de oficinas temáticas. Tais oficinas são oferecidas on-line e abordam assuntos como a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a participação no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a gratuidade das universidades federais, como a UNIFAL-MG, a reserva de vagas para grupos de candidatos, a assistência estudantil, bem como as alternativas de financiamento para estudar em instituições privadas.

Prof. Thiago Antônio de Oliveira Sá – coordenador do projeto. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Trata-se de um projeto de extensão cujos objetivos específicos são informar, assessorar e guiar, mas também inspirar e encorajar os estudantes do ensino médio quanto ao acesso ao ensino superior, principalmente à UNIFAL-MG”, explica o coordenador da proposta, o professor Thiago Antônio de Oliveira Sá, que divide a coordenação com a professora Josefa Silva e bolsistas do Pibid/Ciências Sociais.  “O objetivo é um só: democratizar o acesso ao ensino superior”, acrescenta.

“Trata-se de um projeto de extensão cujos objetivos específicos são informar, assessorar e guiar, mas também inspirar e encorajar os estudantes do ensino médio quanto ao acesso ao ensino superior, principalmente à UNIFAL-MG”, explica o coordenador Thiago Sá


Conforme o coordenador, o projeto foi idealizado a partir de uma ação desenvolvida pelo Pibid/Ciências Sociais junto à Escola Estadual Dr. Emílio da Silveira em Alfenas. “O Pibid/Ciências Sociais realizou um censo escolar na escola-campo [Escola Estadual Dr. Emílio da Silveira] onde atuamos. Nesta investigação, abordamos o perfil socioeconômico do alunado, suas vivências durante a pandemia, suas aspirações pós-ensino médio e suas aspirações quanto ao ensino superior. Ficamos admirados ao averiguar a falta de conhecimento, as dúvidas, lacunas e desinformações relativas ao ensino superior, em geral, às universidades públicas e à UNIFAL-MG”, conta.

Entre as informações coletadas no censo, o grupo observou que mesmo com a proximidade física, a UNIFAL-MG é percebida como uma instituição de difícil acesso por grande parte dos estudantes do ensino médio. “Identificamos que muitos estudantes desconhecem ou estão equivocados quanto às formas de acesso ao ensino superior, mesmo que aspirem seguir para a universidade. Os estudantes têm ideias vagas quanto ao Enem, ao Sisu e às universidades públicas. Ignoram que têm direito a reserva de vagas e consideram mesmo que a UNIFAL-MG é uma universidade paga”, detalha.

Diante dos resultados do censo, a equipe do Pibid/Ciências Sociais pensou no projeto e elaborou um cronograma com nove oficinas, as quais são ofertadas semanalmente, de maneira remota. Em paralelo às oficinas, há também compartilhamento de conteúdo nas redes sociais, que abrange vídeos breves com linguagem atrativa para os participantes. A divulgação é feita pela bolsista Jerliane Veiga, responsável pela administração do perfil do Pibid no Instagram.

As temáticas das oficinas são:

  • O caminho até a UNIFAL-MG
  • Assistência estudantil e políticas de permanência
  • Vida acadêmica: integração e sociabilidade
  • O que é o Enem e como funciona?
  • A estrutura da redação e repertórios sociológicos
  • Reserva de vagas: a que cotas tenho direito?
  • Sisu: Como ingressar?
  • Dicas para os dias da prova
  • Fies e Prouni: alternativas no ensino privado
Boa ação que se multiplica
“Quando as oficinas foram planejadas, pensei que seria uma ótima oportunidade para os alunos de cidades próximas à Universidade terem contato com o conteúdo, como uma tentativa de diminuir as desigualdades quanto ao acesso ao ensino superior”, narra a bolsista Giulia Ferrari.

Ao identificar essa demanda em Alfenas e a proposta das oficinas, a acadêmica Giulia Ferrari sugeriu estender o projeto para a escola em que estudou em Guapé. “Quando as oficinas foram planejadas, pensei que seria uma ótima oportunidade para os alunos de cidades próximas à Universidade terem contato com o conteúdo, como uma tentativa de diminuir as desigualdades quanto ao acesso ao ensino superior”, narra.

Segundo ela, a realização do projeto na Escola Estadual Dr. Lauro Corrêa do Amaral de Guapé já ganhou repercussão positiva. “Já estamos vendo alguns resultados da nossa iniciativa de levar o projeto a Guapé: recentemente, uma aluna da escola entrou em contato para perguntar como ocorre o ingresso à universidade, como é o curso de Ciências Sociais, indicando que ela não tinha muitas informações sobre assuntos desse âmbito”, revela.

“O projeto visa ultrapassar os muros da Universidade e levar o conhecimento para a comunidade, para que jovens, assim como eu, que não disponham de menor estrutura social, familiar e intelectual, possam ter acesso e permanência à universidade pública e de qualidade”, afirma a bolsista Jerliane Veiga.

Jerliane Veiga também foi influenciada por projetos que a inspiraram a ingressar na UNIFAL-MG. Conforme conta, enquanto estudante da Escola Estadual Judith Vianna em Alfenas, pôde se aproximar mais da realidade da UNIFAL-MG e conhecer os programas de extensão, devido ao fácil acesso à sede por ambas instituições se localizarem na mesma rua.  “No segundo ano do ensino médio, fui escolhida para participar de uma iniciação científica BIC-Júnior, ofertada pela UNIFAL-MG. A participação neste programa me abriu as portas para o ingresso no ensino superior”, relata.

No terceiro ano do ensino médio, Jerliane Veiga participou do Cursinho Preparatório para o Enem, ofertado pela Universidade, o que também contribuiu para seu acesso ao ensino superior. “Na minha família, fui a primeira a entrar na universidade, e sou muito grata aos programas de extensão que visam à comunicação e à disseminação de informações importantes para o meu ingresso na faculdade”, compartilha a acadêmica. 

“O projeto ‘Os passos do ensino médio até o ensino superior’ visa ultrapassar os muros da Universidade e levar o conhecimento para a comunidade, para que jovens, assim como eu, que não disponham de menor estrutura social, familiar e intelectual, possam ter acesso e permanência à universidade pública e de qualidade”, afirma. 

Proposta contribui para diminuir desigualdades no acesso ao ensino superior

Para o coordenador do projeto, a importância desse trabalho que vem sendo desenvolvido nas escolas públicas está na possibilidade do que ele chama de “equilibrar o jogo”, uma vez que as regras do acesso ao ensino superior são desigualmente conhecidas entre os estudantes do ensino médio. “Para filhos de pais escolarizados, o caminho até o ensino superior é asfaltado, iluminado e bem-sinalizado. Além disso, as escolas da rede privada têm se convertido cada vez mais em centros de treinamento intensivo para aprovação em universidades públicas, deixando de priorizar outras dimensões da educação, como a formação crítica, científica, cultural, humanista e cidadã”, argumenta.

Thiago Sá observa que outros fatores influenciam na busca de estudantes de escolas públicas por uma vaga no ensino superior. Entre esses fatores, está o incentivo de professores do ensino médio e familiares. “Para estudantes oriundos de família de baixa escolaridade, a longevidade escolar é incerta, improvável e dependente de circunstâncias casuais e pontuais que alterem esse destino, como professoras inspiradoras, parentes próximos que lograram ingressar no ensino superior, políticas públicas que os envolvam em assuntos universitários, entre outros”, ressalta.

Arte desenvolvida e divulgada pela equipe do projeto como forma de chamar a atenção dos estudantes do ensino médio. (Arquivo/Jerliane Veiga)

O projeto começou neste mês de setembro e já apresenta bons frutos, de acordo com relatos dos participantes apurados pela coordenação. Um dos apontamentos é o fato de muitos estudantes se admirarem com as possibilidades e oportunidades oferecidas pelas universidades públicas. O professor Thiago Sá informa que também há aqueles que se sentem vocacionados para alguma profissão ou área, mas não sabiam por onde começa ou buscar, da mesma forma que há quem fique surpreso em saber as universidades públicas são gratuitas.

“Estamos felizes de saber que estamos apontando caminhos para quem já queria segui-los e para quem não tinha pensado nisso, mas se animou ao entender que a universidade pública é para todos e todas. Os Passos do Ensino Médio Até o Ensino Superior é para isso: orientar, lançar luz sobre possibilidades, mostrar os caminhos, apontar as etapas até a sonhada vaga num curso superior, abordando desde o pedido de isenção da taxa do Enem até a dinâmica dos dias de prova”, finaliza o professor Thiago Sá.

Confira no infográfico informações sobre o Censo Escolar realizado pelo Pibid/Ciências Sociais