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Estudo aponta redução de criminalidade violenta em municípios da região durante período de isolamento social da pandemia; pesquisa desenvolvida por egresso da UNIFAL-MG analisou 20 cidades sul-mineiras

Medidas restritivas e de isolamento social durante a pandemia da covid-19 contribuíram para a redução de criminalidade violenta em 20 municípios da região sul de Minas. Isso é o que aponta um estudo desenvolvido pelo geógrafo Janael da Silva Alves, pesquisador egresso do mestrado em Gestão Pública e Sociedade da UNIFAL-MG. A ferramenta de contenção da propagação do vírus foi decisiva para que ocorresse uma queda média de 25,65% na taxa de criminalidade violenta.

“O estudo indica uma oportunidade de se refletir sobre como, onde e quando melhor alocar recursos com a finalidade de prevenir a criminalidade, uma vez que a liberdade, a interação e a oportunidade de lazer e cultura são tão inerentes à natureza humana quanto qualquer outra necessidade”, afirma  o pesquisador Janael da Silva Alves, mestre em Gestão Pública e Sociedade pela UNIFAL-MG.

As análises que levaram a essa constatação tiveram como base três séries de dados de registros de crimes violentos, obtidos por meio de acesso a sites governamentais abertos e de domínio público. A primeira série inclui o período anterior ao início da pandemia (entre janeiro e dezembro de 2018); a segunda, leva em conta o período da pandemia até o início do relaxamento das medidas restritivas (de janeiro de 2019 a fevereiro de 2020), e a terceira série, o período de estado de emergência em Minas Gerais e a chamada “Onda Roxa” (entre março de 2020 e 31 de julho de 2021).

“O número absoluto de crimes apurados nestas séries foi transformado em média diária de crimes violentos a fim de verificar sua variação e tendência”, conta o pesquisador. Os crimes violentos levantados foram roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro, homicídio e estupro, tanto na modalidade tentado quanto consumado. “Estes crimes violentos estão definidos na seção segurança pública, dentro da seção painel de indicadores, no portal governamental de Minas Gerais, denominado Minas em Números”, explica o autor do estudo.

Conforme Janael Alves, os 20 municípios analisados foram divididos e agrupados em pequenas e médias cidades da região, conforme classificação do IBGE (2010). Entre as 10 pequenas, foram selecionadas aquelas com até 50 mil habitantes, cuja atividade econômica principal não tivesse como base a produção industrial, turismo e nem prestação de serviços, nas quais não ocorram deslocamentos em massa de pessoas nem grandes aglomerações.

Nesse grupo estão as cidades de Campanha, Campo do Meio, Campos Gerais, Careaçu, Coqueiral, Cristina, Elói Mendes, Monsenhor Paulo, São Bento Abade e Santana da Vargem.

O grupo das 10 cidades médias é formado por municípios do Sul de Minas que possuem população entre 50 mil e 200 mil habitantes. Nestes, uma das principais atividades econômicas centra-se no setor industrial, turismo ou prestação de serviços, o que denota um grande deslocamento e aglomerações de pessoas diariamente.

Segundo Janael Alves, nessas cidades maiores, era esperado que as medidas restritivas tivessem alterado a dinâmica das atividades de rotina das populações locais. Fazem parte desse grupo: Alfenas, Campo Belo, Guaxupé, Itajubá, Lavras, Passos, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Três Corações e Varginha.

“Os resultados demonstram uma tendência e ela aponta para a correlação entre redução de interação entre as pessoas e redução dos índices de criminalidade, tanto menor eram os níveis de interação quanto menor a redução nos índices”, revela o autor do estudo. O pesquisador ressalta que isso fica ainda mais evidente nas cidades maiores da região, devido aos espaços de confluência de pessoas como centros universitários, shoppings centers, centros médicos e grandes indústrias.

Impactos do isolamento social na criminalidade violenta no Sul de Minas 
(Arte: Ana Carolina Araújo/Dicom)

Entre as cidades menores, São Bento Abade, Coqueiral e Cristina são aquelas que apresentaram maior redução nas taxas de criminalidade violenta com 39,9%, seguidas por Careaçu com 33,3% e Campanha com 26,3%. No entanto, os índices em alguns municípios não apresentaram redução, como foi o caso de Monsenhor Paulo e Santana da Vargem, que registraram aumento de 60% e 20%, respectivamente, nos números da média diária de registros de crimes violentos.

No grupo das cidades médias, a redução registrada durante o período de isolamento social nos municípios de Alfenas, Campo Belo, Guaxupé, Itajubá e Poços de Caldas foi de 40,1% na média diária de crimes violentos.  Os índices de criminalidade violenta no mesmo período em Varginha, Três Corações, Pouso Alegre, Lavras e Passos tiveram uma redução média de 37,28%. 

Além da média de crimes entre os 10 maiores municípios da região, também verificou-se a mobilidade dos moradores com o auxílio do aplicativo Google Mobility Report, que apontava diariamente o índice de mobilidade e de isolamento por parte das pessoas. “Isso funcionou como mais uma ferramenta de auxílio de análise e comprovação: quanto menos mobilidade, menor foram as taxas de crimes violentos”, afirma.

O pesquisador comenta que o estudo comprova a premissa da teoria das atividades de rotina, a qual indica redução da criminalidade quando existe uma menor interação entre indivíduos, o que também foi verificado em diversas cidades e regiões ao redor do mundo desde o início do isolamento social. “Vale destacar que essa constatação não é política pública de segurança, nem nos princípios da gestão de segurança pública, nem com base na abordagem geográfica”, salienta.

Para Janael Alves, a pesquisa deixa claro, entretanto, a necessidade de otimizar as políticas públicas. “O estudo indica uma oportunidade de se refletir sobre como, onde e quando melhor alocar recursos com a finalidade de prevenir a criminalidade, uma vez que a liberdade, a interação e a oportunidade de lazer e cultura são tão inerentes à natureza humana quanto qualquer outra necessidade”, reforça.

Conforme o autor do estudo, “se por um lado o isolamento social é útil para ser aplicado em uma pandemia, não se pretende supor, nem desejar ou defender que se reduza o convívio social para se ter controle da violência.”

O estudo completo pode ser acessado em artigo publicado em 14 de junho de 2022 na revista “Boletim Alfenense de Geografia”, desenvolvida pela Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local Alfenas (AGB Alfenas) em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da UNIFAL-MG. Acesse aqui