Mulheres atendidas pelo Núcleo de Capacitação para a Paz de Varginha revelam novos olhares na oficina fotográfica “Por Trás das Lentes” promovida por grupo de estudos da UNIFAL-MG Varginha

O Grupo de Estudos sobre Estado, Mulheres e Políticas Públicas, o GENI, da UNIFAL-MG Varginha, promoveu uma oficina de fotografia para mulheres atendidas pelo Núcleo de Capacitação para a Paz (Nucap) da cidade. Intitulada “Por Trás das Lentes”, a oficina foi ministrada on-line pela jornalista, fotógrafa e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a professora Raquel Paixão. As participantes se reuniram no campus da Universidade para assistir às aulas, que ocorreram entre junho e julho.

Oficina foi ministrada on-line pela jornalista, fotógrafa e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a professora Raquel Paixão. (Foto: Arquivo/Coordenação)

A proposta da atividade foi explorar novas possibilidades de ver o mundo e de registrá-lo, bem como ajudar as participantes aprenderem a empregar alguns conceitos técnicos na composição fotográfica como enquadramento, ângulo e luz. “A oficina é uma atividade lúdica e criativa ofertada a mulheres em situação de vulnerabilidade, fundamental para a  construção/afirmação de uma autoestima positiva e na construção de um outro olhar para o seu cotidiano”, conta a professora Cilene Pereira, coordenadora do evento.

Segundo a docente, a oficina foi organizada em quatro encontros (dias 8, 15, 29 de junho e 6 de julho), com duração de duas horas cada, nos quais foram realizadas atividades teóricas, práticas e analíticas. “No primeiro encontro, foram apresentados fundamentos teóricos e históricos e um exercício inicial de fotografia, considerando os seguintes princípios: profundidade de campo, verticalidade/horizontalidade, sentido de leitura, ângulo, entre outros”, detalha.

No segundo encontro, as participantes analisaram as próprias fotografias, considerando os elementos de enquadramento e luz, apresentados na aula anterior. Nas demais aulas, conforme a professora Cilene Pereira, foram incorporadas as atividades práticas como proposta à percepção de detalhes, objetos, paisagens, pessoas e situações que compõem o dia a dia e que, muitas vezes, não recebem atenção. “Nessa jornada, criatividade, sensibilidade e afeto foram elementos fundamentais na produção das imagens”, enfatizou.

Entre junho e julho, as participantes se reuniram no campus da Universidade em Varginha para atividades teóricas, práticas e analíticas. (Foto: Arquivo/Coordenação)

Segundo Profa. Cilene Pereira, a oficina “Por Trás das Lentes”  oportunizou um momento que ela chamou de “aproximação afetiva e efetiva” para os discentes que compunham a equipe executora da ação extensionista e as participantes, que “desabrocharam” ao longo das quatro semanas, revelando um pouco mais de si mesmas. “Algumas das participantes foram se soltando durante a oficina, externalizando isso em suas fotografias e no momento em que elas mesmas analisavam seu trabalho”, compartilhou.

Na visão da ministrante Raquel Paixão, fatores como acolhimento, escuta e vivência da fotografia como sentir foram fundamentais durante a oficina. Essa importância, inclusive, pode ser observada da fala de Nilza Ferreira, uma das mulheres atendidas pelo Nucap, que participou da atividade. “Eu gostaria de agradecer por essa oportunidade que vocês nos deram, com esse curso de fotografia. Eu aprendi várias técnicas, que eu não sabia. Eu não sabia nem tirar foto. Minha neta de cinco anos é que me ajudava, me ensinava. E com esses dias que a gente passou aí, esse momento muito gostoso, muito legal, eu aprendi bastante coisa. Quero agradecer a todos da UNIFAL-MG, todos os alunos, todos os professores que estavam aí. Quero agradecer muito a Raquel”, manifestou.

Para a professora Fernanda Onuma, que compôs a equipe executora e fez o curso junto às mulheres do Nucap, poder trocar experiências e conhecimentos em um grupo tão plural de mulheres foi de grande aprendizado. “A professora Raquel, ao nos instrumentalizar com técnicas de fotografia como enquadramento, ângulo e iluminação nos ofereceu recursos para exercermos esse exercício de olhar, de afeto e de buscarmos (e também criarmos) nossas interpretações e registros do nosso cotidiano”, comentou.

“Aprendi muito com cada olhar, vimos vários talentos despontando entre nós e tenho certeza de que nunca mais encararemos nosso cotidiano como menos importante que o olhar ‘do outro’ e seguiremos registrando a beleza e a potência das nossas vivências diversas”, afirmou, lembrando o quanto o olhar das mulheres é desvalorizado na sociedade. “A todas, meus agradecimentos pela generosidade da entrega e das trocas nesta oficina”, acrescentou.

Participantes em registro com a equipe executora da oficina. (Foto: Arquivo/Coordenação)

A discente Aline Medeiros, que também integrou a equipe executora e participou da oficina, compartilhou que a participação na oficina possibilitou que ela passasse a enxergar vida através das lentes. “Hoje, eu passo por lugares, observo e tenho maior sensibilidade a cada detalhe do que está ao meu redor”, contou. “A experiência entre os participantes foi de grande valia para enxergar o olhar do outro e sentir o que o outro sentiu ao realizar o registro.”

De acordo com a coordenadora da oficina, a realização da ação extensionista se ampara no artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), o qual reforça o acesso à arte como um direito fundamental de todos, considerando não só seu consumo, mas também sua prática e autoria. “Ressalta-se, também, o poder de alteridade da arte, visto a fotografia se associar ao campo cultural das artes plásticas, como mecanismo de reflexão e de construção de um saber sobre o outro”, salientou.  

A arte faz parte de uma série de ações que o GENI tem desenvolvido no Nucap desde maio deste ano, com o propósito de estabelecer  laços com a instituição a fim de promover atividades de pesquisa e extensão.