Estudo identifica as dificuldades enfrentadas por idosos em tempos de pandemia; medidas sanitárias como ficar em casa e usar máscara foram apontadas como as adaptações mais difíceis

Estresse, tensão, ansiedade e depressão. Essas são algumas das respostas físicas do organismo observadas durante a pandemia de covid-19, para além de quem foi infectado pelo coronavírus. Entre as pessoas idosas, a identificação de sobrecarga mental motivou um estudo que rastreou as principais dificuldades enfrentadas por esse grupo nos tempos de pandemia. A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da UNIFAL-MG.

“O motivo principal dessas situações enfrentadas pelas pessoas idosas teve como principal fator o ato de ficar em casa”, explica o pesquisador José Vitor da Silva, professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da UNIFAL-MG e coordenador do estudo. Segundo ele, ao serem orientadas a ficar isoladas em casa, as pessoas idosas deixaram de realizar diversas atividades em comunidade, como ir ao banco, fazer compras, participar de cultos religiosos e visitar familiares.

Infográfico elaborado com dados do estudo. (Arte: Ana Carolina Araújo/Dicom)

Para entender de que forma a nova realidade afetou as adaptações cotidianas dos idosos, o grupo de pesquisa utilizou a entrevista semiestruturada como técnica não focada em amostra, mas na representação dos dados, a fim de investigar quais foram as principais dificuldades encontradas. O público-alvo foi selecionado de forma aleatória considerando idosos na faixa etária de 66 anos ou mais, residentes nas cidades sul-mineiras de Itajubá, Alfenas, Pouso Alegre e Poços de Caldas, e do interior paulista, como Taubaté e São José dos Campos.

O perfil sociodemográfico dos entrevistados apontou que 75% eram do sexo feminino; 40% eram casados; 60% tinham um trabalho informal; 85% residiam em casa própria e 60% percebem sua saúde como boa. 

“As principais dificuldades enfrentadas pelas pessoas idosas foram: ficar em casa; não poder trabalhar; falta de convívio familiar e social; uso de máscara; uso do álcool em gel e medo de contrair a doença e da morte”, detalha o coordenador do estudo. Desses fatores, o que teve maior impacto para os entrevistados foi a necessidade de ficar em casa. Cerca de 60% apontaram essa medida sanitária como a mais difícil. Outros 25% indicaram o uso de máscara como a nova adaptação mais embaraçosa e 10%, o uso de álcool em gel.

O pesquisador argumenta que o tempo indeterminado de utilização das medidas sanitárias de prevenção, principalmente ficar em casa, foi a mais insistente por serem as pessoas idosas consideradas grupo de risco. “A frequência cada vez mais exigida dessa atitude levou esse grupo de pessoas à sobrecarga mental diante dessa ‘exigência’, que foi atenuada com o advento das vacinas”, diz.

De acordo com o Prof. José Vitor da Silva, os resultados do estudo contribuem para compreender o comportamento das pessoas e, consequentemente, orientar a atuação dos profissionais de saúde. “Em vez de dar a ordem ‘ficar em casa’, seria importante estabelecer orientação sobre o que e como utilizar a permanência em casa de forma sistemática”, explica. “O ato de ficar em casa, por si só, sem suas consequências, seria o suficiente para as pessoas idosas. Não se consideraram consequências advindas desse comportamento do isolamento social”, acrescenta.

No que diz respeito ao ato de ficar em casa, o pesquisador pontua: “Isoladamente esse comportamento trouxe sérias consequências, como violências, agressões, retorno ao alcoolismo, aumento do número de suicídio, descontrole das doenças crônicas por absenteísmo ao controle médico e outros. O retorno do convívio social também traz sérias consequências às pessoas idosas, pois, no momento, sentem medo de voltar à situação do convívio social.”

O levantamento também mostrou que uma parcela da população idosa do estudo se posicionou contra a prática de ficar em casa e do uso da máscara, por não saber até quando teriam que se manter assim, o que, na opinião dos autores, pode ser uma dificuldade para a qual políticas de saúde precisam ser implantadas. “Torna-se necessário atender necessidades de saúde mental, e que práticas esclarecedoras de prevenção sejam difundidas, sistematizadas e ajustadas às necessidades das pessoas idosas”, enfatiza.

Além do professor José Vitor da Silva, também participaram da pesquisa o professor Murilo César do Nascimento, da Escola de Enfermagem da UNIFAL-MG e os discentes: Rogério Donizeti Reis (doutorando em Enfermagem pela Universidade do Vale do Sapucaí de Pouso Alegre-MG –  UNIVAS); Jessica Luanda Lemos Melo, Ricardo Antônio Vieira, Tatiana Albina Daniel de Lima e Matheus Henrique Alves de Moura (mestrandos em Enfermagem pela UNIFAL-MG), e o enfermeiro convidado Daniel Carlos dos Santos Silva (Faculdade Wenceslau Braz de Itajubá-MG).

A revista Enfermagem Brasil, periódico bimestral da área de Enfermagem, publicou os resultados desse estudo em artigo divulgado na edição deste mês de julho de 2022. Intitulado “Dificuldades encontradas pelas pessoas idosas em tempo de pandemia pela COVID-19”, o artigo pode ser acessado na íntegra aqui.