“Um deserto de estranhas veredas” – Eloésio Paulo e Luiz Ruffato

Acaba de chegar às livrarias brasileiras o livro-entrevista “Um deserto de estranhas veredas”, organizado pelo escritor Eloésio Paulo, professor do Instituto de Ciências e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG. A obra apresenta impressões e curiosidades sobre um dos maiores escritores brasileiros da contemporaneidade: Luiz Ruffato.

Eloésio Paulo e Luiz Ruffato em registro feito na praça Getúlio Vargas numa tarde de 1984. (Foto: Arquivo Pessoal)

Conforme Eloésio Paulo, o que motivou a entrevistar o escritor, foram os 40 anos de amizade e admiração compartilhada. Os dois autores chegaram a trabalhar juntos no Jornal dos Lagos em Alfenas, no ano de 1983, e mantiveram contato esporádico até 1991. “Naquela época a gente escrevia cartas e o pior é que a letra dele é ilegível”, conta, revelando a proximidade dos dois.

Eloésio Paulo narra que acompanhou boa parte das primeiras produções literárias de Luiz Ruffato, tendo, inclusive, resenhado o primeiro livro do autor ainda como colaborador do Jornal dos Lagos. “Acho que li toda a obra dele, muitos livros antes da publicação, e nós dois nos elogiamos e criticamos reciprocamente com certa frequência, além de termos bebido umas boas garrafas de vinho”, comenta.

Parte da entrevista que originou o livro “Um deserto de estranhas veredas” foi realizada em 2018, por e-mail. “Ela ficou parada por um tempo até que, em 2020, surgiu uma editora interessada em publicá-la. Foi quando retomamos a sequência de perguntas e respostas, sempre por e-mail. Em poucas semanas, achamos que já estava tudo perguntado e respondido”, conta.

Publicado pela editora Maralto, no volume de 176 páginas, Eloésio Paulo conduz Luiz Ruffato a percorrer a própria trajetória, na qual apresenta não apenas sua formação como leitor e relações familiares, passando pela sua infância na cidade mineira de Cataguases, mas também um apanhado da sua produção no Brasil e repercussão no exterior, com tradução e publicação na Itália, França, Portugal, Argentina, Colômbia, Alemanha, Finlândia, Estados Unidos, Macedônia do Norte, Moçambique, México, Espanha, Israel, Cuba, Romênia.

O livro aborda também o fato de a obra do entrevistado ser objeto de estudo em dissertações e teses acadêmicas, bem como de artigos de crítica literária publicados em veículos especializados e na imprensa. “A obra ruffatiana é uma das mais relevantes da ficção brasileira contemporânea. Ele leu praticamente tudo que é importante ler, é uma das pessoas mais apaixonadas por literatura que conheço. Imaginei que ele teria muito a dizer sobre o lugar da literatura neste tempo tão inamistoso em relação à inteligência e à sensibilidade do ser humano”, explica Eloésio Paulo, em entrevista para o portal de notícias do Paraná ComVc. Leia aqui.

Na mesma matéria, Luiz Ruffato afirma que o que interessa em sua obra é observar os efeitos de circunstâncias macroeconômicas e macropolíticas no cotidiano das pessoas comuns. “Quando, em 1979, decidi me tornar escritor, eu já tinha muito claro qual seria a temática a ser perseguida: o dia a dia do trabalhador urbano de classe média baixa. E isso porque, quando comecei a me aprofundar na literatura brasileira, percebi que se tratava de um espaço imaginário praticamente intocado, embora represente mais da metade do total da população brasileira”, compartilha o escritor.

Ao comentar a quem pode interessar a obra, o também escritor Eloésio Paulo enfatiza: “O Luiz Ruffato é um dos escritores brasileiros de maior prestígio internacional, então eu penso que deve interessar em primeiro lugar às muitas pessoas que já leram seus livros”, diz. “Ali ele fala sobre como se tornou escritor, quais são suas concepções de literatura e como ele vê o papel dessa arte na sociedade contemporânea. Eu recomendo a quem queira conhecer um pouco mais de um escritor brasileiro lúcido e terrivelmente crítico de nossa sociedade e da condição humana”, acrescenta.

O livro já pode ser adquirido neste link.