Não é novidade que as mulheres são maioria na pós-graduação brasileira. De acordo com dados da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) referente a 2022, elas representam 54,2% dos matriculados nos cursos stricto sensu. Mas como elas estão representadas no contexto da UNIFAL-MG? Aproveitando a celebração do Dia Internacional da Mulher, neste 8 de março, um levantamento feito pela equipe de comunicação mostrou que as tituladas nos últimos cinco anos na Universidade ultrapassam o índice nacional.
Entre 2018 e 2022, o título de mestra ou doutora na Universidade foi conquistado por 680 mulheres, o que corresponde a 58,31% do total de 1.166 titulados. No mesmo período, o número de homens que conquistou a mesma titulação chegou a 486, ou seja, 29,16% do total.
Na série histórica analisada, elas só perderam para os homens na conclusão de mestrado, no ano de 2019. Dos 175 mestres, 62,28% (109) foram homens e 37,71% (66) foram mulheres. Em 2021, houve também um empate nos titulados doutores.
Mas na graduação e na especialização, elas também foram a maioria nos últimos cinco anos. Do total de 6.071 formados nos cursos de graduação, as mulheres representam 63,33% (3.845), enquanto os homens representam 36,66% (2.226). Nos cursos de especialização, do total de 609 acadêmicos que realizaram especialização, 74,38% (453) são mulheres e 25,61% (156) homens.
Toda essa representação feminina comprova o quanto as mulheres têm contribuído para a busca de soluções de demandas da sociedade. É o caso de três pós-graduadas da Universidade que fazem da ciência o passaporte para avanços na qualidade de vida da população.
Mulheres que propagam o conhecimento e transformam realidades
Letícia Reis é doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Biociências Aplicadas à Saúde da UNIFAL-MG e desenvolve pesquisas na área de neurociências e comportamento. Titulada no final de 2022, ela conta um pouco sobre sua trajetória acadêmica. “No mestrado eu trabalhei com a ação inflamatória da curcumina (Açafrão da Terra) sobre a febre e o comportamento doentio induzidos por um componente bacteriano chamado lipopolissacarídeo”, explica.
“Como resultado, nós vimos que a curcumina, como um potente anti-inflamatório que é, foi capaz de impedir a produção de algumas citocinas pró-inflamatórias (moléculas capazes de induzir a inflamação) e aumentar a translocação de uma proteína chamada Fator 2 relacionado ao fator nuclear eritróide 2 (Nrf2) (a qual possui ação anti-inflamatória e antioxidante) no cérebro de animais que haviam recebido a injeção de lipopolissacarídeo”, detalha.
Já no doutorado, a acadêmica deu um passo adiante ao investigar a ação da curcumina sobre a memória, cognição e o estresse oxidativo induzidos pela sepse. “Nós mimetizamos em ratos uma inflamação sistêmica (crônica), a qual é conhecida como sepse ou infecção generalizada, através de uma cirurgia chamada Ligação e Perfuração Cecal”, conta.
Segundo a pesquisadora, foi possível verificar que os animais que sobreviveram a esse evento, desenvolviam severos prejuízos cognitivos e de memória de longo prazo. “Nós descobrimos que o tratamento durante sete dias consecutivos com curcumina na dose de 50mg/Kg foi capaz de melhorar substancialmente o aprendizado e a memória desses animais e que isso se deu ao seu outro potente efeito, o antioxidante”, revela, dizendo que o trabalho continua em andamento, mesmo após sua defesa.
No final do doutorado, Letícia Reis descobriu que estava grávida e precisou contar com o apoio dos orientadores para conciliar os cuidados com a saúde e as atividades acadêmicas, para terminar a etapa molecular da pesquisa. “Devido aos reagentes serem altamente cancerígenos, o meu orientador Alexandre Giusti em conjunto com o meu coorientador Lucas Pinheiro, optou por me afastar”, diz. “O professor Lucas foi extremamente essencial nessa etapa (gratidão eterna), pois foi ele que acabou as análises dos parâmetros oxidantes e antioxidantes que eu havia iniciado sob a sua supervisão. Nesse período de ‘afastamento’ presencial, eu escrevi a tese e a metodologia do artigo em meio aos infinitos enjoos”, acrescenta.
Atualmente, a mãe de Giovana de sete meses, é docente da Fundação Presidente Antônio Carlos – polo Leopoldina-MG, na disciplina de Genética Básica no curso de Enfermagem, e no Instituto Nacional de Medicina Laboratorial, onde além de docente auxiliar de coordenação do curso de Pós-Graduação em Hematologia Laboratorial e Clínica, também é discente.
Estudar economia e desenvolvimento foi o que aproximou a cearense Mirian Raquel do Nascimento Fernandes da UNIFAL-MG, onde fez mestrado em Economia e pesquisou os efeitos dos programas Benefício de Prestação Continuada (BPC) e Bolsa família na pobreza e na desigualdade do Nordeste nos anos de 2016 e 2019. “Minha pesquisa se voltou a estudar quais dos programas apresentavam impactos mais significativos sobre a redução da pobreza e da desigualdade em uma das regiões historicamente mais pobres do país”, conta.
Formada em Ciências Econômicas na Universidade Regional do Cariri (URCA), a acadêmica conta que durante sua graduação, dividiu-se entre estudos e trabalho, chegando a atuar como técnica, como assistente administrativa financeira e no apoio da gestão operacional e atendimento ao cliente nas áreas de serviço, comércio, indústria e agronegócio. “Meu trabalho me oportunizou colocar em prática muito daquilo que era debatido na universidade, essa junção me agregou muito como pessoa, para mim era o exercício da pura cidadania”, comenta.
A admiração pelos docentes, o envolvimento com as causas sociais e a vontade de aprender levaram Mirian Fernandes a se dedicar à vida acadêmica. “Penso que para ocuparmos espaços estratégicos na sociedade é necessário ter conhecimento e a universidade é o espaço em que muitos paradigmas são desconstruídos e construídos”, diz a economista que realizou especialização em Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará.
Após a especialização, Mirian Fernandes participou de algumas seleções de mestrado e conseguiu ingressar no Programa de Pós-Graduação em Economia da UNIFAL-MG, no campus Varginha. “O mestrado para mim foi um divisor de águas, costumo dizer que na época foi a coisa mais extraordinária que eu havia feito, sair do sertão do estado do Ceará para o Sul de Minas Gerais, ficar longe da família e amigos, foi algo bem desafiador, mas eu tinha um propósito. A princípio tive algumas dificuldades, mas os professores extremamente qualificados ajudaram bastante”, relata.
Mirian Fernandes compartilha que no período da pandemia foi difícil cursar algumas disciplinas no formato remoto, sobretudo as de cálculo e ainda tentar conciliar os estudos ao ambiente doméstico. “No meu caso especificamente falando, me senti privilegiada pois recebi uma bolsa de pesquisa financiada a princípio pela PIB-Pós depois pela CAPES e aproveito para ressaltar a importância que estes recursos têm na vida de um pesquisador, sem a bolsa teria sido bem mais complicado concluir minha pesquisa”, afirma.
Cursando o segundo mestrado da carreira, na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, na área de Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis, a acadêmica diz que pretende seguir a trajetória na área acadêmica ingressando em um doutorado em economia ou em políticas públicas. “Acredito que um bom profissional nunca para de estudar, pois penso que o conhecimento nos liberta e rompe muitas amarras impostas secularmente pela sociedade, sobretudo para nós mulheres”, ressalta.
Tatiane Cristina Silva Maiolini também descobriu na carreira acadêmica o desejo e o meio para melhorar a vida das pessoas. Farmacêutica pela UNIFAL-MG, ela conta que foi convidada por uma amiga a fazer complementação pedagógica e se encantou pela área de Química. “Fui para sala de aula e me apaixonei, pode ser difícil de acreditar, mas sou encantada com a educação, mesmo com toda essa desvalorização, e após começar a trabalhar no CEFET-MG, tive certeza que seguiria a carreira acadêmica e para isso precisava me qualificar”, revela.
Foi então que Tatiane Maiolini buscou novamente a UNIFAL-MG para tentar o mestrado em Química. Conseguiu passar no processo seletivo e se engajou nas pesquisas voltadas para compostos com atividade antiparasitária em produtos naturais. Do mestrado emendou o doutorado também no Programa de Pós-Graduação em Química.
“Minhas pesquisas foram em fitoquímica/produtos naturais (química das plantas). Nas mesmas foram estudadas a atividade T-cruzi de uma família de plantas (Myrtaceae – família da goiabeira, jaboticabeira). Neste estudo foram determinadas as possíveis substâncias responsáveis por essa doença”, diz.
Hoje, a doutora em Química trabalha na rede estadual de educação da cidade de Varginha e afirma que ciência é uma forma de transformação, pela qual é possível gerar valor e mais qualidade de vida para o ser humano.