Meu pranto deságua nos cabelos de uma árvore velha – Deborah Castro

Uma primavera gótica atemporal. Assim é descrita, por Paulo Henrique Caetano, a obra Meu pranto deságua nos cabelos de uma árvore velha, redigida por Deborah Castro, professora do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG. A partir de uma observação sensível, sensorial e constante do cotidiano, das plantas, da memória e do esquecimento, a autora apresenta aos leitores um texto que transborda a profundidade dos ciclos, usando uma linguagem acessível, mas carregada de significados.

O livro, entre 64 páginas e 47 poemas, destina-se a quem se interessa ou venha a se interessar por literatura e poesia. Trata-se, como expõe Paulo Henrique, de uma obra com um eu-lírico imprevisivelmente ondulante entre orvalho e tempestade, entre flor e plástico, entre um raro sorriso e o choro, entre uma dor e outra:

deixei que fizesse meu coque
do espelho observava como abria os grampos com os dentes
não era com a mesma delicadeza que os grampos mordiam
meus cabelos
mas me fiz resignada
queria o incômodo de um grampo mal colocado
passaria o dia buscando com os dedos o grampo
que me tirou do meu dia
agradecida ao menos por ter dado
à dor um motivo
naquele dia
ou por pelo menos
por um dia
dizer que sofri por um grampo mal colocado

Deborah Castro é professora de Língua e Literatura Inglesa na Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG). (Foto: Arquivo Pessoal)

“[…]Meu pranto deságua nos cabelos de uma árvore velha permite sonhar micromundos sensíveis, tangíveis e intangíveis, ao mesmo tempo em que permite enxergar o tempo e todo o universo, e se perceber parte inadvertida de um sopro cósmico. E, como toda água que corre, a leitura da poesia das palavras, simplesmente pela imagem do que são, dos versos destas folhas impressas que se sucedem, é transformadora”, descreve Paulo Henrique. 

O livro foi lançado no dia 4 de março, na Adro Mais Centro Cultural, em São João del-Rei, pela Editora URUTAU.

A professora Deborah Castro também publicou os livros de poemas Meias palavras são razão do forte vento (2018), Só posso ir embora depois que jogar minhas palavras no poço (2019/Cas’a Edições).