Autismo: mais informação, menos preconceito

O dia 2 de abril é destinado à “Conscientização Mundial do Autismo” e o tema da campanha deste ano de 2023 é “mais informação, menos preconceito”.

Desde 2013 o autismo é concebido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) como um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, além de apresentar um repertório mais restrito de interesses e atividades.

O autismo não escolhe sexo, gênero, etnia, geografia, religião ou classe social para se fazer presente. No entanto, acima de tudo, é fundamental saber que o autismo pode sempre se repetir em seu acontecimento por todo o planeta, mas as pessoas nunca se repetem, as pessoas são únicas, logo, o autismo se manifesta de modo e intensidade diferentes em cada pessoa. Algumas podem precisar de menos suporte (TEA nível 1) para suas demandas pessoais, outras podem precisar de um suporte moderado (TEA nível 2) para participarem de atividades sociais e ainda há aquelas pessoas que podem demandar de um grande apoio (TEA nível 3) para aprenderem habilidades importantes para seu cotidiano.

As singularidades do autismo estão presentes em crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos de todo o planeta. Com o avanço nos estudos, nas pesquisas e com o acesso à informação pela comunidade, muitas pessoas adultas, que não tiveram oportunidade de serem diagnosticadas quando crianças, estão se descobrindo permeadas pelo autismo.

Por décadas o autismo foi altamente atrelado ao diagnóstico de meninos, de modo a negligenciar as características mais peculiares que costumam estar presentes nas meninas e nas mulheres, sendo esta conduta um decurso da cultura machista impregnada na ciência, logo, na medicina. Hoje sabemos que essa distância para o diagnóstico se reduziu e que muitas mulheres adultas estão sendo diagnosticadas com autismo e, a partir das suas narrativas, a comunidade médica e científica está compreendendo que o feminino demanda um diagnóstico diferencial para o autismo.

Também é muito comum vincular o autismo à incapacidades e deficiências, mas essa é uma visão capacitista, pautada no modelo médico da deficiência. Há pessoas com autismo que têm uma condição clínica e/ou deficiência associadas, inclusive, deficiência intelectual, mas isso não quer dizer que elas não tenham habilidades desenvolvidas ou em desenvolvimento. Há outras que foram gravemente afetadas pelos sintomas do autismo e que vivem isoladas, à margem da sociedade e que precisam de muito apoio e tratamento de ponta para terem acesso à qualidade de vida e bem-estar. Mas também há aquelas que não apresentam nenhuma deficiência e que se encontram incluídas na sociedade, talvez, até seja um colega que você desconhece viver o autismo. Não romantizar ou despreciar o autismo é uma forma de combater os sutis e mais velados dispositivos de exclusão social. Para todas as pessoas com autismo, é dever do Estado promover acesso aos seus direitos fundamentais e sociais: saúde, educação, trabalho, moradia, acessibilidade, segurança, lazer, cada qual conforme sua demanda.

Apesar de ter sido afirmado que pessoas com autismo apresentam déficits na capacidade imaginativa, eu os convido para que busquem conhecer os artistas que são musicistas, pintores, cantores, atores, designs, escritores…, vocês ficarão maravilhados com tanta beleza cultural! E, sim, pessoas com autismo TÊM SENTIMENTOS, têm desejos, têm sua própria sexualidade, têm sonhos e, inúmeras, sofrem diariamente por entenderem que precisam mascarar seu autismo para não serem discriminadas na sociedade. Isso lhes causa muito sofrimento!

A campanha de 2023 apregoa: “mais informação, menos preconceito”. Assim é importante saber que: autismo não é doença, portanto, não cabe cura. Autismo não é contagioso, nem é culpa da mãe, muito menos é uma maldição espiritual por pecados cometidos, cujo indivíduo precisa ser exorcizado por um padre, pastor, guru ou seja lá quem for.  O autismo, não necessariamente, está acompanhado de uma deficiência ou de uma condição clínica. O autismo também não é um erro genético que determina indivíduos como iguais em sua maneira de ser e estar no mundo, pois cada pessoa com autismo é única, é singular. As pessoas com autismo são diferentes, elas também percebem e reagem ao mundo de formas diferentes, têm inteligências, habilidades e dificuldades diferentes, modos de ser e de estar no mundo, com o mundo e com as outras pessoas, diferentes.

Mais informação, menos preconceito, este é o objetivo e o convite para abraçarmos neste 2 de abril e durante toda a nossa existência.

Há braços por uma sociedade mais inclusiva, amorosa e generosa para com as pessoas com autismo.