Reflexões sobre a expansão universitária e os desafios da atualidade: um olhar crítico sobre o passado e perspectivas para o futuro a partir da experiência na UNIFAL-MG

Walter Francisco Figueiredo Lowande

No dia 10 de março de 2023 completaram-se meus nove anos de atuação profissional na UNIFAL-MG. Em 2014, quando cheguei aqui, fui convidado para escrever uma pequena reflexão sobre a expansão dos cursos universitários da UNIFAL-MG. Naquela ocasião, apontei alguns problemas estruturais do modelo de ampliação do ensino superior implementado pelo REUNI. Por outro lado, era inegável que a expansão física, do número de cursos, de profissionais e de vagas oferecidas para estudantes de graduação e pós-graduação representava um grande avanço para a nossa região.

Naquele ano de 2014, a expansão de direitos sociais e políticos parecia algo irreversível. O enfraquecimento das instituições democráticas resultantes das transformações sociotécnicas atreladas à governamentalidade algorítmica, bem como da consequente precarização do trabalho, em geral, ainda não era algo tão evidente. Havia uma expectativa muito grande de aprimorarmos os mecanismos de expansão universitária a fim de que a qualidade pudesse acompanhar a quantidade nesse processo. A implementação mais efetiva das políticas afirmativas para o ensino superior, em especial da política de cotas, também trazia uma grande expectativa de transformações qualitativas.

As reações conservadoras a essas mudanças aceleradas jogaram um balde de água fria nas expectativas progressistas que então vínhamos alimentando. A implementação do teto de gastos, em 2016, representou uma literal reversão nos investimentos públicos em educação. Políticas educacionais inclusivas passaram a ser atacadas por grupos obscurantistas sem que o teor fascistóide de seus argumentos fosse devidamente criminalizado. Os projetos de pesquisa, ensino e extensão que vínhamos planejando coletivamente foram congelados indefinidamente por falta de recursos, assim como os nossos próprios salários. Em meio a tudo isso enfrentamos uma pandemia cuja letalidade foi potencializada pela imperícia/perversão governamental, o que, além de tudo, causou impactos severos na formação de nível básico e superior.

Hoje vivemos uma inegável transformação ecológica global e, por isso, não podemos mais retornar aos sonhos neodesenvolvimentistas de crescimento econômico que ainda alimentavam as nossas esperanças no início da década passada. No entanto, isso não significa que não possamos sonhar com uma universidade melhor. Viver com qualidade no novo regime planetário demanda fortalecer conhecimentos antes negados por uma educação e pesquisa direcionada primordialmente para o crescimento econômico. As universidades produziram conhecimentos, precisamos admitir, que contribuíram para o desarranjo ecológico do presente. Agora elas têm o dever ético de produzir justiça social em meio a esse cenário catastrófico. Como demonstra o Projeto de Extensão “Museus das Rexistências”, o Sul de Minas abriga saberes ecológicos tradicionais produzidos ao longo de séculos de luta contracolonial e que podem contribuir enormemente para o enfrentamento do problema do aquecimento global. Portanto, as universidades ainda podem cumprir um importante papel caso elas consigam se abrir para esses espaços pluriepistêmicos de colaboração teórica e prática. Para isso será necessário tanto o incentivo governamental quanto disposição da parte de quem, como nós, construímos, na base, a educação pública, gratuita e de qualidade que caracteriza o nosso ensino superior federal.