Economia brasileira: o futuro do pretérito da recuperação

Disseram-nos que a economia brasileira estava em processo de recuperação no início de 2020. Afinal, parecia que o mercado tinha reagido bem ao primeiro ano do novo governo federal que, embora atrapalhado, propunha reformas e políticas liberalizantes, prezando a austeridade fiscal, que poriam, segundo eles, o país na rota de crescimento econômico sustentável. A taxa de crescimento de 1,1% do PIB em 2019 ainda deixou a desejar, mas, nos disseram, já era sinal de um cenário promissor que ganharia força em 2020.

Mas aí veio a pandemia, que em janeiro/fevereiro já se alastrava pelo mundo e aterrissou em território nacional em março de 2020. No segundo trimestre, houve, então, fechamento de cidades e adoção de medidas de isolamento. Como resultado, atividades econômicas paralisadas interromperam o fluxo circular de renda: famílias desempregadas e sem renda, empresas com vendas e receitas em queda. O Banco Central até que tentou expandir a base monetária para impulsionar o setor privado, mas o dinheiro ficou parado nos cofres dos bancos comerciais. Enfim, a tão esperada recuperação teria de ser aguardada por alguns meses.

A bem da verdade, nos dizia o governo federal, paralisar a economia por uma pandemia é um grande erro. O melhor seria trabalhar e produzir riqueza. Afinal, qual seria a vantagem de não morrer por Covid e acabar morrendo de fome? Bastaria encerrar com o isolamento social forçado que a economia iria se recuperar, disse o governo.

E o segundo semestre de 2020 parecia dar sinais de recuperação. A abertura das cidades e o retorno das atividades econômicas já apontavam para a trajetória de recuperação do nível de emprego e renda. A pandemia, por sua vez, parecia ter sido superestimada, como defendia o governo federal. Talvez nem precisássemos de vacinas, o que pouparia gastos públicos, ajudando ainda mais o ambiente de confiança do mercado, nos disseram.

Depois de tanta dificuldade, 2020 chegou ao fim, e 2021 foi apresentado como o ano da retomada. Mesmo sem vacinação, parecia que a pandemia havia sido superada, com exceção de casos extremos, como o ocorrido no Amazonas.

O PIB teve um recuo de 4,1% em 2020. Não foi tão ruim, nos disseram. É verdade que houve auxílio emergencial de quase R$ 60 bilhões para a população de baixa renda mais afetada. Mas isso parecia ser coisa do passado. Encerrado 2020, a economia voltaria a se recuperar, impulsionada pelo setor privado, acompanhado por melhora nas contas públicas, já que não dependeríamos mais de auxílio emergencial e, possivelmente, nem de vacinação em massa.

Mas 2021 começou e a recuperação não veio. Ao contrário, o que veio foi o agravamento da pandemia. O Brasil passou sete meses deste ano com mortes diárias acima de 1000 pessoas por conta da Covid, alcançando o limite de 4211 mortos por dia em abril. A necessidade de vacinação em massa tornou-se inevitável.

Felizmente, a vacinação teve iniciou em março, via produção nacional ou importada, começando pelas faixas etárias mais elevadas. Em ritmo lento, mas já representava um alívio. No segundo semestre, teremos toda a população adulta vacinada em duas doses. Se precisarmos de terceira dose em decorrência das variantes, tudo bem, pode atrasar um pouco, mas a recuperação da economia virá, de forma quase automática, dizem eles.

Então, convém aguardar a tal recuperação promovida pelo setor privado, nos dizem. Prova disso é que a taxa de desemprego está em ritmo de queda, atingindo 14,1% segundo dados da PNAD/IBGE para o segundo trimestre de 2021. Está certo que essa taxa ainda é superior à taxa do mesmo período de 2020 (13,3%). Está certo que 14,4 milhões de brasileiros ainda estejam desempregados. Está certo que o trabalho informal e a subocupação vem crescendo a taxas elevadas porque as pessoas precisam sobreviver (afinal, a taxa de pobreza e extrema pobreza também tem atingido patamares históricos para os últimos três decênios).

Está certo também que o índice de inflação subiu consideravelmente desde o início da pandemia (8,99% para o IPCA e 31,1% para o IGPM). Está certo que a gasolina, a carne bovina e o arroz tenham aumentado 40%, óleo de cozinha, 80%, o botijão de gás, 30%, nesse período.

Está certo ainda que, com a crise hídrica que afeta reservatórios do Sul/Sudeste, decorrente do processo de mudanças climáticas, nossa matriz energética esteja próxima de um verdadeiro apagão estrutural – provocando, por ora, o segundo aumento do ano na conta de energia elétrica.

Emprego e renda em queda, pobreza e extrema pobreza em alta, mas a economia vai se recuperar, no pior dos casos, em 2022. Os fundamentos de mercado são bons, nos dizem os analistas financeiros. Então, a recuperação econômica virá. Prova disso que o COPOM já elevou a taxa de juros Selic para 5,25% (contra 2,0% no início do ano) e prevê novos aumentos até dezembro. Porque os fundamentos econômicos devem ser garantidos, eles dizem, para permitir a recuperação econômica sustentável.