UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
Alfenas | Poços de Caldas | Varginha
Sul de Minas Gerais

“O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, por Sandro Amadeu Cerveira

Depois do instigante convite feito pela Diretoria de Comunicação Social, passei vários dias pensando em qual filme eu gostaria de recomendar e de compartilhar minhas impressões. Desde cedo, me considero apaixonado por séries e filmes, e decidir sobre qual falar não foi fácil. Resolvi, então, não arriscar e falar de uma obra a que já assisti uma dúzia de vezes; uma obra que sempre me toca e que vivo recomendando aos amigos. Trata-se de “O Sétimo Selo” (Det sjunde inseglet), filme sueco de 1956, escrito e dirigido por Ingmar Bergman.

Partida de xadrez com a Morte. (Foto: Reprodução)

O filme, baseado em uma peça de teatro, apresenta um cavaleiro, Antonius Block, que, ao retornar das Cruzadas, encontra a Morte, a quem propõe uma partida de xadrez. Transitando por vários temas tipicamente “medievais”, como a peste, a caça às bruxas e a religião, a metafórica jornada do herói, sempre acompanhado por seu pragmático escudeiro, nos apresenta cenas e diálogos no qual o jogo com a morte nos provoca a refletir sobre o sentido (ou sentidos) de nossa existência inexoravelmente marcada pela finitude. Ou, para citar outro filme belíssimo, trata do encontro “com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre”¹. 

Sem qualquer pretensão de analisar uma obra já tão discutida sobre tantas perspectivas, vou destacar algumas questões pelas quais me atrevo a recomendar esse filme, mesmo sabendo que um filme antigo, pesado, em preto e branco e dirigido por um sueco pode levar muitos a nem cogitar assisti-lo.

Começo pelo título. A expressão “O Sétimo selo” é retirada do livro de Apocalipse 8:1, que diz: “havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora”. O título e a referência bíblica remetem à noção de que, diante do fim e da morte, nos resta, principalmente, o silêncio. Acostumados que estamos a não suportar sequer os famosos “um minuto de silêncio”, lembrar que, diante de tamanho mistério, o próprio céu silencia por meia hora já nos dá algo a pensar.

Gosto também dos diálogos. Diferente de muitos filmes em que há a predominância de um único discurso e de uma única voz, esse nos confronta com diferentes formas de ver, pensar e se posicionar diante do mundo, da vida e, por suposto, da morte. A voz do escudeiro, “um Sancho”, cuja fala contrapõe, com altivez, a do “Quixote sueco”, não aparece como algo menor ou desimportante.

Destaco também a fotografia. Embora o tom sombrio predomine, a maneira como algumas cenas são iluminadas é muito interessante e compõe a cena nos convidando a participar das emoções dos personagens. Na minha cena predileta, quando o cavaleiro se encontra com a família dos artistas, a luz é quase uma personagem a mais, que desempenha um papel central em contraste tocante com as sombras de outros momentos.

A maioria que já viu esse filme o considera triste e pesado. Sem querer romantizar – mas já citando um romântico – se, “pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”, é preciso lembrar também que na dialética da vida e da morte “a alegria é a melhor coisa que existe”.

Onde assistir:
Telecine
DVD/Blu-ray

¹ O Auto da Compadecida