Projeto de extensão da UNIFAL-MG busca restituir a evolução urbana de Alfenas a partir de registros fotográficos

O objetivo é recontar a evolução da cidade a partir de uma visão não elitista por meio de análise da paisagem e registros iconográficos

Você já parou para pensar sobre como eram os espaços urbanos da sua cidade? O que foi preservado e o que mudou? Estudantes e docentes do curso de Geografia da UNIFAL-MG estão buscando respostas para essas perguntas por meio do projeto de extensão “Retratos do tempo e do espaço: memória e evolução urbana de Alfenas”. O objetivo é conhecer a evolução urbana da cidade, desde o final do século XIX até o presente, por meio de análise da paisagem e registros iconográficos, a fim de realizar uma exposição fotográfica para a comunidade alfenense.

Coordenado pelo professor Evânio dos Santos Branquinho e pela professora Sandra de Castro de Azevedo, ambos do Instituto de Ciências da Natureza (ICN), o projeto surgiu da participação do acadêmico de Geografia, Alberto T. Mini, que levou para a sala de aula o seguinte questionamento: “por que os estudantes da UNIFAL-MG conhecem tão pouco Alfenas?”. Foi daí que a motivação contagiou a turma. “Além dos alunos que vem de fora da cidade, podemos perceber isso, de certo modo, até entre os próprios moradores, em função do nosso estilo de vida, de conhecer mais os lugares onde nós usamos com mais frequência, mas, principalmente, porque a cidade se transforma continuamente, apagando muitos de seus marcos referenciais e história”, contou o Prof. Evânio.

De acordo com ele, a proposta do projeto é recontar um pouco a evolução da cidade, os principais períodos de transformação, associados aos ciclos econômicos, por meio de fotografias antigas e recentes, bem como por meio de texto de apoio, com base em livros, artigos e documentos. “O objetivo principal é restituir a evolução urbana de Alfenas, mas não segundo uma perspectiva saudosista e de uma visão elitista, mas recuperar a história dos moradores mais humildes que contribuíram muito para o crescimento desta cidade”, explicou.

O Prof. Evânio com alguns participantes do projeto em reunião na Sede. (Foto: arquivo pessoal)

As atividades da ação extensionista tem sido desenvolvidas em reuniões quinzenais, tanto para discutir textos, especialmente sobre a urbanização do país e de Alfenas, quanto para definir locais importantes a serem pesquisados e fotografados, o levantamento de fotografias, mapas etc. “Também estamos realizando trajetos na cidade para identificar e fotografar pontos importantes para entender o processo de evolução urbana de Alfenas, entrevistar alguns moradores que relatem suas experiências na cidade. E pretendemos fazer pesquisas no Arquivo Histórico da UNIFAL-MG”, afirmou a coordenação.

Segundo o Prof. Evânio, até o momento os participantes já observaram uma série de “apagamentos históricos” ao longo do processo de evolução urbana de Alfenas, como a demolição dos traços de cidade colonial, escravista e feita de barro, em virtude da ascensão da economia cafeeira que buscou construir uma nova cidade, com palacetes em estilo eclético e neoclássico, observados na praça central.

Terreno desocupado onde se localizava a Tecelagem Saliba.
(Foto: Evânio, 24.07.2023)

“Isso foi comum em muitas cidades do período cafeeiro. A Igreja Nossa Senhora do Rosário, normalmente dedicada à população negra, que ficava defronte à Matriz foi demolida para dar mais visibilidade aos palacetes da elite, segundo algumas fontes.  A formação dos Santos Reis, ainda conhecido por Aflitos, no início do século XX, um subúrbio de população maioria negra, do outro lado do córrego Pedra Branca e da linha do trem, é um exemplo de segregação e discriminação dessa população, antes mesmo de um processo de periferização, que ocorreria mais tarde no contexto de urbanização e industrialização do país. Nesse sentido, a instalação da tecelagem Saliba, vinda de São Paulo, e a formação de loteamentos populares expandindo a zona norte da cidade também são exemplos desse processo de distribuição das classes sociais no espaço e de segregação”, explicou.

Para o pesquisador, o projeto se destaca para a formação dos discentes e para a valorização da história não construída e propagada pela elite, fundadores e beneméritos da cidade. “Queremos contar uma história crítica, suas contradições e injustiças de pessoas mais humildes, que se sacrificaram e se sacrificam na construção dessa cidade, mas pouco são lembradas. Essas pessoas têm uma história muito rica de luta para uma melhor inserção na cidade, como no caso das várias moradoras que iniciaram a ocupação do bairro Santa Clara e lutaram por condições de vida mais dignas”, disse.

Os integrantes do projeto pretendem ainda lançar um e-book, já que a coleta de materiais está sendo rica e produtiva, e nem tudo poderá ser impresso. A expectativa é que a exposição aconteça na Sede da UNIFAL-MG, durante a semana de comemoração de aniversário de Alfenas, entre os dias 13 e 17 de outubro de 2023. O projeto também tem o propósito de levar a exposição para outros pontos da cidade, como o terminal de ônibus central e o Museu da Universidade, além de ser expandido para as escolas, como difusor da prática.

Confira a seguir alguns registros que já estão no arquivo do projeto para a exposição: