Mês da cultura e literatura indígena: índio x indígena

Mês da cultura e literatura indígena: índio x indígena

A denominação correta entre índio e indígena ainda é um desafio que confunde muitas pessoas. Abordar os indígenas no Brasil nos dias de hoje é abordar uma vasta gama de grupos étnicos, os quais são os habitantes originários das terras conhecidas hoje como o continente americano. Estes povos já ocupavam essas terras há milhares de anos, muito antes da chegada dos europeus.

De acordo com o autor Luciano  Gersem (2006, p. 30-31), a designação “índio” ou “indígena”, conforme os dicionários da língua portuguesa, refere-se a uma pessoa nativa ou natural de um lugar. Também é o termo usado para descrever os primeiros habitantes do continente americano, conhecidos como povos indígenas. Entretanto, essa denominação resulta de um erro náutico. O navegador italiano Cristóvão Colombo, em nome da Coroa Espanhola, empreendeu uma viagem em 1492 partindo da Espanha em direção às Índias, uma região na Ásia naquela época. Devido a severas tempestades, a frota ficou à deriva por muitos dias até alcançar uma região continental que Colombo erroneamente acreditou ser as Índias, mas que na realidade era o continente americano. Assim, os habitantes desse novo continente foram chamados genericamente de “índios”, denominação que persiste até os dias atuais, dessa forma, não existe nenhum povo que se denomine como “índio” e carregam consigo um peso ofensivo, senão “povos indígenas”.

 

“Desde a primeira invasão de Cristóvão Colombo ao continente americano, há mais de 508 anos, a denominação de índios dada aos habitantes nativos dessas terras continua até os dias de hoje. Para muitos brasileiros brancos, a denominação tem um sentido pejorativo, resultado de todo o processo histórico de discriminação e preconceito contra os povos nativos da região. Para eles, o índio representa um ser sem civilização, sem cultura, incapaz, selvagem, preguiçoso, traiçoeiro etc. Para outros ainda, o índio é um ser romântico, protetor das florestas, símbolo da pureza, quase um ser como o das lendas e dos romances.” GERSEM, Luciano. 2006, p. 32)

 

Para Gersem (2006, p. 35), a partir de 1870, através do movimento indígena, o movimento de reafirmação das identidades étnicas, promovido dentro de uma estratégia pan-indígena que adota a denominação geral de “índios” ou “indígenas”, resultou na restauração da autoestima das comunidades indígenas, perdida ao longo de séculos de dominação e escravidão colonial. O indígena contemporâneo sente orgulho de sua herança nativa, reconhecendo-se como portador de uma civilização própria e como parte de uma ancestralidade distinta. Esse sentimento e essa postura positiva estão impulsionando o fenômeno conhecido como etnogênese, especialmente na região Nordeste. Os povos indígenas, que por tanto tempo ocultaram e renegaram suas identidades étnicas devido à repressão colonial, agora lutam pelo reconhecimento de suas etnicidades e territórios dentro do contexto do Estado brasileiro.

 

Em suma, a denominação correta entre “índio” e “indígena” ainda é um desafio que confunde muitas pessoas. Entretanto, ao abordarmos os indígenas no Brasil nos dias de hoje, estamos tratando de uma ampla diversidade de grupos étnicos, os quais são os habitantes originários das terras conhecidas hoje como o continente americano. Estes povos já ocupavam essas terras há milhares de anos, muito antes da chegada dos europeus. O indígena contemporâneo se orgulha de sua herança nativa, reconhecendo-se como portador de uma civilização própria. Esse sentimento positivo está impulsionando o fenômeno da etnogênese, principalmente na região Nordeste, onde os povos indígenas lutam pelo reconhecimento de suas etnicidades e territórios no contexto do Estado brasileiro.

 

LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006. (Coleção Educação para Todos; 12)