Ampliando o repertório em tempos de quarentena: dica de música

 O que você está fazendo para passar o tempo nessa quarentena?

A série “Ampliando o repertório em tempos de quarentena”, do PET Letras, tem como objetivo proporcionar entretenimento e conhecimento de qualidade para vocês nesses dias de home office. E hoje iremos falar sobre a canção “Geni e o Zepelin”, de Chico Buarque.

Para isso, trouxemos um trecho de um artigo de Paula (2010) que estará referenciado ao final para quem se interessar por compreender melhor a narrativa da música.

A canção aqui analisada como corpus deste artigo foi uma das mais divulgadas e de maior sucesso da peça Ópera do Malandro, um musical de 1977/1978 de Chico Buarque. Estourada nas rádios na época, ela foi e é uma das canções mais populares do álbum lançado um ano após a estréia da peça. Crítica à hipocrisia e ao poder, ela reinou nos, conhecidos como, “anos de ferro”, em plena ditadura militar no Brasil. Todas as rádios tocavam e a população cantava em coro os refrões da canção, nem sempre com a compreensão da unidade estética crítica da mesma, uma vez que a crítica se revela ao considerar toda a narrativa da canção e não apenas o refrão, que parece acusar a sua protagonista, Geni, uma travesti que, na verdade, é a heroína injustiçada do enredo. É o refrão que revela o preconceito e a hipocrisia de toda a cidade com a heroína prostituída, apedrejada como Maria Madalena. Pode ser que por parecer ir ao encontro da ideologia hegemônica discriminatória e falso-moralista predominante no período militar (mas não só) que a canção tenha sido aceita e passado pelo crivo da censura da época, mesmo indo de encontro a essa ideologia.

Musicalmente, essa crítica também aparece em harmonia com a letra.

Fonte: PAULA, L. A Ironia de “Geni e o Zepelim”: Sujeitos, Poderes e Mundos no Tempo da Suspensão. Cadernos do Tempo Presente – ISSN: 2179-2143
Edição n. 01 – Outubro de 2010, www.getempo.org