Ampliando o repertório em tempos de quarentena: dica de pintura
A série “Ampliando o repertório em tempos de quarentena”, do PET Letras, tem como objetivo proporcionar entretenimento e conhecimento de qualidade para esses dias de home office. Desta vez, temos como indicação a pintura “A morte de Ofélia”.
Delacroix, um grande pintor francês, procurou representar uma personagem da tragédia de Hamlet, chamada Ofélia. Na peça de Shakespeare, a morte da personagem é narrada de uma maneira ambígua, o que contribui para a construção de um mistério sobre o que realmente aconteceu. Ofélia ficou louca? Cometeu suicídio? Ou foi um acidente?
Para longe de tentar responder a grande questão, a pintura de Delacroix parece captar o momento em que Ofélia está no rio, ainda viva.
Veja o poema em que a morte da personagem é narrada:
“Há um salgueiro que se debruça sobre um riacho
E contempla nas águas suas folhas prateadas.
Foi ali que ela veio sob loucas guirlandas,
Margarida, ranúnculo, urtiga e essa flor
Que no franco falar de nossos pastores recebe
Um nome grosseiro, mas que nossas pudicas meninas
Chamam pata de lobo. Ali ela se agarrava
Querendo pendurar nos ramos inclinados
Sua coroa de flores, quando um ramo maldoso
Se quebra e a precipita com seus alegres troféus
No riacho que chora. Seu vestido se defralda
E a sustenta sobre a água qual uma sereia;
Ela trauteia então trechos de velhas árias,
Como sem perceber sua situação aflitiva,
Ou como um ser que se sentisse ali
Em seu próprio elemento. Mas isso durou pouco.
Suas vestes, enfim, pesadas do que beberam,
Arrastam a pobrezinha e seu doce canto expira
Numa lodosa morte…”
(Tradução de Antonio de Pádua Danesi).