Ampliando o repertório em tempos de quarentena: dica de livro

📍 A série “Ampliando o repertório em tempos de quarentena”, do PET Letras, tem como objetivo proporcionar entretenimento e conhecimento de qualidade para você nestes dias de home office. Desta vez, temos como indicação um clássico da Literatura Brasileira: “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.

Romance publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. Graciliano Ramos, com seu estilo seco, expressa, sobretudo por meio do uso econômico de adjetivos, a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão.

A obra consegue, desde o título, mostrar a desumanização decorrente da seca por que passam os personagens. Soma-se a isso a miséria imposta pela influência social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região.
O romance, pela sua não linearidade, isto é, capítulos que não se ligam temporalmente, dá aos 13 capítulos de Vidas Secas uma autonomia que permite a leitura de cada capítulo de forma independente. São 13 capítulos independentes que contam a retirada de uma família. Inicia-se com uma mudança e termina com a fuga.

A família de retirantes é composta pelo pai – Fabiano -, cujas principais características gravitam em torno da quase ausência de fala, o fato do não reconhecimento da branquitude e do não saber ler nem escrever. Sinhá Vitória, mulata esperta que sabia fazer contas com os grãos; Menino mais velho, que deseja saber ler e também queria saber o que viria a significar “inferno.” Menino mais novo, que queria ser um vaqueiro como o pai. Cadela Baleia, a mais humana das personagens e um papagaio que não falava, só latia porque era o único som que escutava.

Seguem trechos emocionantes do conto “Baleia”:

“Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito (…)”
“Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num
mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme “(…) o mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes…”

Referências: RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 23. Ed. São Paulo: Martins, 1969. https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/vidas-secas-resumo-obra-de-graciliano-ramos/