O dialeto Pajubá como marca de identidade: termos e expressões da comunidade LGBTQIAP+ utilizados no cotidiano brasileiro

Comunidade LGBETQIAPN+: língua, literatura e representatividade: O dialeto Pajubá como marca de identidade: termos e expressões da comunidade LGBTQIAP+ utilizados no cotidiano brasileiro

         



           O dialeto Pajubá ou Bajubá, tem se difundido e incorporado com bastante força no cotidiano brasileiro palavras e expressões como bofe, babado, , abafar o caso, diva, dentre outras, que são amplamente utilizadas nas redes sociais. Na prova de Linguagens, Códigos e suas tecnologias do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2018, o dialeto Pajubá foi abordado em uma questão, o que mostra sua difusão e representatividade no português brasileiro.

      Composto por muitas palavras de origem iorubá e nagô, o Pajubá, presente na comunidade LGBTQIAPN+,  é oriundo principalmente de línguas africanas e que, fora do contexto religioso, foi aderido no Brasil. Além disso, o Pajubá é uma linguagem-código, isto é, produz um sistema simbólico específico, que identifica o grupo e possibilita sua comunicação, ao mesmo tempo em que dificulta o entendimento para aqueles que não fazem parte. Portanto, este dialeto foi e ainda é usado como forma de resistência pela comunidade.

       Em 1987, pós-ditadura, uma operação nomeada como “Operação Tarântula” em São Paulo foi iniciada para deter a população trans e travesti, com a ideia de higienizar a cidade.  Foi durante esse período que o Pajubá desempenhou um papel importante, pois era por meio de palavras como “talibã” (polícia), que a comunidade conseguia se comunicar e resistir.

         Nos últimos anos, a academia tem se esforçado para registrar e preservar esse dialeto tão rico, caracterizado como um elemento de patrimônio linguístico, por meio de dicionários como Aurélia (2006) e Pequeno Vocabulário Pajubá Palmense (2023). Esses esforços contribuem para a valorização e reconhecimento da importância cultural e histórica do Pajubá, garantindo que ele continue a ser uma ferramenta de identidade e resistência para a comunidade LGBTQIAPN+.

        A difusão do dialeto Pajubá no cotidiano brasileiro e seu reconhecimento em exames nacionais como o ENEM são testemunhos de sua importância cultural e linguística. Originado de línguas africanas e adaptado pela comunidade LGBTQIAPN+, o Pajubá transcende sua função de linguagem-código, tornando-se um símbolo de resistência e identidade. Em tempos de repressão, como durante a “Operação Tarântula”, o Pajubá foi vital para a comunicação e a sobrevivência da comunidade. Os esforços acadêmicos para registrar e preservar este dialeto reforçam seu valor como patrimônio linguístico, assegurando que futuras gerações possam compreender e celebrar sua rica história e significado. O Pajubá, portanto, não é apenas um conjunto de palavras, mas uma expressão viva de cultura, resistência e solidariedade, refletindo a diversidade e a riqueza do tecido social brasileiro.

 

REFERÊNCIAS:

AIRES, P. et al. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://editorascienza.com.br/ebook/pajuba.pdf>.Acesso em: 4 jun. 2024

DOS SANTOS NASCIMENTO, Vanessa Mirele; MARIANO, Nazarete Andrade; DOS SANTOS, Cosme Batista. Dialeto Pajubá: marca identitária da comunidade LGBTQIA+. Grau Zero–Revista de Crítica Cultural, v. 9, n. 2, p. 67-95, 2021.

MARÇAL, M. Do oi da poc à chuia. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/sextante/o-que-e-pajuba/>. Acesso em: 4 jun. 2024.

MORAIS, L. B. DE. LETRAMENTOS DE REEXISTÊNCIA: O DIALETO PAJUBÁ E A REINVENÇÃO ATRAVÉS DA LÍNGUA(GEM). Anais do Encontro de Formação de Professoras/es de Línguas (ENFOPLE), v. 5, n. 1, 26 dez. 2019.