SERMÕES DE VIEIRA E HAICAI: LITERATURA PORTUGUESA I E SUA DINAMIZAÇÃO NO CURSO DE LETRAS

Inspiradas pelo estudo de Audemaro Taranto Goulart¹ e Ettore Finazzi-Agrò² – apresentado durante um Seminário em sala de aula – sobre as singularidades presentes nos sermões de Padre Antonio Vieira – grande escritor da Literatura Portuguesa e Brasileira – foi proposta, junto à turma de graduação em Letras (2011/1) da Universidade Federal de Alfenas sob julgo na disciplina de Literatura Portuguesa I, ministrada pela professora Emanuela F. F. Silva, uma atividade que permitisse maior abertura sobre a compreensão e catarse frente às leituras do “Sermão do Mandato” (1650) e o “Sermão de Santo Antônio aos peixes” (1654).

A atividade consistiu na elaboração, em grupos de três integrantes, de um Haicai –  forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade, encontrada sob estrutura de três linhas paralelas – com o objetivo de fazer exercitar o uso dos princípios do jogo dialético (tese, antítese e síntese), presentes nas obras de Vieira, apresentados em seminário.

Segue o enunciado, elaborado sob a forma de um haicai para que se melhor concebesse o estilo e a ideia da atividade, além de dois outros exemplos e do resultado da atividade geral da turma para compartilhamento entre todos os interessados!

Enunciado:

por Taciane Gonçalves

Haicais:

SERMÃO DO MANDATO

Ignorando fomos amados.
Hoje pela ciência conscientes
falso-amante indigno-amado.

por Taciane Gonçalves

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SERMÃO DE SANTO ANTONIO AOS PEIXES

Quem não pede a boca fecha
e aos ouvidos tudo é dado.
Nada come quem muito abre!

por Taciane Gonçalves

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Haicais produzidos:

SERMÃO DO MANDATO

Pedro para vigiar não serviu

Jesus sua ajuda consentiu

mas Pedro como sal não agiu.

por Ana Claúdia Prado; Fábio Nani; Sabrina Gomes Verola.

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Ao invés de vigiar, ele quis roncar.

Sal que não salga, nada faz

Pedro não vigiou, sal que não salgou.

por Ana Claúdia Prado; Fábio Nani; Sabrina Gomes Verola.

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Eis o princípio do amor:

Sabendo amou; ignorando foram amados.

O conhecido é verdadeiro e o ignorante, aparente.

por Maria Luiza Alves; Priscila Navarro; Shelley Zifirino.

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SERMÃO DE SANTO ANTONIO AOS PEIXES

Palavra rompe e tronco

tarde cinza e verde-sangue

assassinatos consentidos.

por Carlos Alberto La Terza Junior; Daniela Pereira Moreira da Silva; Roberta Oliveira de Carvalho.

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O mar absorve o sal

palavras são ditas

os ouvintes não absorvem.

por Carlos Alberto La Terza Junior; Daniela Pereira Moreira da Silva; Roberta Oliveira de Carvalho.

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¹ GOULART, Audemaro Taranto. A inteligência dialética no Sermão do Mandato. SCRIPTA, Belo Horizonte, v.1, n.2, p. 168-174, 1ºsem. 1998.

² FINAZZI-AGRÒ, Ettore. Pelo mar escuro e ondeante da dúvida – A questão indígena no “Sermão de Santo Antonio aos peixes”. SCRIPTA, Belo Horizonte, v.1, n.2, p. 175-181, 1º sem.1998.